Quinta-feira, 23 de maio de 2024 - 16h47
O Banco Central decidiu, por cinco votos a quatro, reduzir os juros
Selic na base de 0,25 ponto, e não 0,50 como queriam quatro daqueles
membros do Copom ligados ao presidente Lula.
Quero trazer aos leitores uma explicação muito simples do controle
da inflação. O mundo inteiro e todos os economistas de todos os países, sabem
que se controla a inflação, fundamentalmente, através de política
monetária, isto é, com utilização dos juros, e através de contas públicas
em controle, não geradora de déficits que,sendo bem administrada, permite o
equilíbrio da multiplicada política financeira e da política monetária.
À evidência, a fórmula que Galbraith considerada ideal e criada por
Fisher, no início do século passado, reside na equação. O nível dos preços será
estável se a velocidade da circulação da moeda por sua quantidade, divididas
pelo volume das transações permanecerem estáveis.
O ex-ministro Paulo Guedes (governo anterior), que Roberto Campos, o
avô, considerava um dos melhores economistas brasileiros, segundo o que me
disse, controlou as contas públicas com tranquilidade. Naquele período chegamos
a ter um superávit nas contas públicas, de 50 e poucos bilhões de reais, ou
seja, um saldo no ano de 2022 de 0,2% do PIB.
O presidente Lula gasta de uma forma absurda, incoerente, incorreta e,
de acordo com A Folha de S. Paulo, aventureira (13/05/2024 – Editorial – pág.
2). Todos os economistas, que escrevem nos jornais mais importantes
de São Paulo, têm criticado essa capacidade aleatória, sem definições
e sem planejamento, de gastos do presidente da República. Não sou eu
quem digo. São economistas de jornais do porte do Estado de S. Paulo
e da Folha de S. Paulo.
Não houve política orçamentária, porque, ao contrário do
superávit dos 51 bilhões no último ano de Bolsonaro, tivemos um déficit no
primeiro ano do governo Lula no montante de 270 e poucos bilhões de
reais, não por conta dos precatórios, que foram apenas de 90 bilhões
de reais. Temos, pois, no país, somente política monetária para combater a
inflação.
Reconheço que o ministro Fernando Haddad tem se esforçado para controlar
as finanças. Foi um erro, entretanto, eliminar o teto de gastos, que proibia
que o governo gastasse se não tivesse dinheiro. Mesmo assim, ele tentou um
arcabouço fiscal para conciliar a capacidade de gastar sem definição de
receitas por parte do presidente Lula e a necessidade de lutar pelo
equilíbrio das contas públicas. Nisso foi até desautorizado pelo
presidente da República. E, hoje, o arcabouço deságua por todos os lados.
Mas o certo é que nós não temos política fiscal. O presidente
continua gastando. As previsões de um déficit zero para 2025 já
estão praticamente esgarçadas. E só resta a política monetária que, se por
um lado tem que ser mais dura pela falta de controle que as finanças públicas
enfrentam, por outro lado, os problemas de, nos Estados Unidos, os juros
estarem sendo mantidos na base de 5,5%, em dólares, o que vale dizer,
na prática, isto representa que há uma tendência universal de ao invés de
se aplicar dinheiro no Brasil, aplicar-se dinheiro lá fora. À falta de
recursos, portanto, de fora e dos gastos que superam sua capacidade de arrecadação,
o Brasil vai se endividando. Por isso, temos crescido, mês após mês, no
governo Lula, em endividamento público.
Essa é a razão pela qual cinco dos membros do Copom entenderam que não
era o momento de se reduzirem os juros, visto que o governo só
conta com a política do Banco Central para controlar a inflação, já que
não há um controle de gastos. Os economistas têm, pois, grande
receio de que as contas públicas continuarão a despencar.
O que preocupa - é isso que gostaria de trazer aos leitores-,é
que para os cinco dirigentes do Copom que votaram pelo 0,25, com moderação na
redução, em face desses elementos preocupantes, tiveram quatro votos
contrários, daqueles que foram indicados pelo presidente Lula. O que vale
dizer: a expectativa de gasto por parte do governo que levaria uma redução
menor, não foi compreendida pelos membros indicados pelo presidente
da República.
Ressalto que no fim deste ano teremos um novo presidente do Banco
Central. Possivelmente, será um desses quatro que queriam uma
redução maior de juros para diminuir a força da política
monetária, apesar de não ter força nenhuma na política orçamentária.
Isso causa perplexidade, e não sem razão estamos vendo a popularidade do
presidente Lula cair. A preocupação de analistas brasileiros e do
exterior é de que corremos o risco de não ter condições de melhorar nosso
desenvolvimento, mas mais do que isso, infelizmente devemos piorar.
Se vier um presidente que resolva não dar a independência que o
Banco Central deveria ter em relação ao Poder Executivo para garantir uma
política monetária, na falta de política orçamentária, e se tivermos um
presidente do Banco Central submetido ao presidente da República, não
adotando o comportamento dos bancos centrais de todo o mundo - como
ocorre, por exemplo, com o presidente do Banco Central do Sistema da
Reserva Federal americana que age para controlar a inflação -,
corremos o risco de não termos nem política financeira, nem política
monetária quando o Banco Central perder Roberto Campos Neto. Poderá
transformar-se, pois,apenas em um agregado do Poder Executivo, seguindo o
que pretende o presidente da República. E corremos o risco de não
ter, para combater a inflação, nem política orçamentária e
financeira de contas públicas, nem política monetária.
É essa grande preocupação que fiquei após ver que por apenas 5 a
4 pode o Banco Central reduzir em 0,25% e não 0,50%, como
queriam os indicados do presidente Lula, em uma sinalização de que a
política monetária para o presidente da República e para os seus
indicados poderá não ser um instrumento de redução inflacionária.
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