Segunda-feira, 21 de outubro de 2019 - 12h01
O Partido Social Liberal é
hoje a mais legítima expressão da necessidade de uma profunda reforma política
no país. Para entender sua atual crise, mais contribuem perguntas do que
pretensas explicações. Vamos a alguma delas.
A primeira: você acredita que
todos os que se candidataram pelo PSL acreditavam que Bolsonaro seria eleito?
Eu não acredito. Pra mim muitos foram na onda do Mito, mas sem crer que ele
seria tão bem sucedido.
Esperavam, sim, ser eleitos
pela onda e depois poderem optar, já no segundo turno, por um candidato a
presidente com o um único requisito: estar mais à direita do que o PT. E isso
se repetindo no nível estadual, principalmente nos estados em que o PSL elegeu
governadores.
A segunda pergunta: dos que se
aproveitaram da onda Bolsonaro, mesmo somando os que acreditavam que ele
poderia ser eleito, quantos desejavam que ele fosse eleito? Eu acho que apenas
alguns. Outros já anteviam que teriam dificuldade de relacionamento. E torciam
calados – quem era o doido de se expor? – para se ver livres dele,
principalmente entre a proclamação do resultado do 1º turno e a realização do
2º turno.
Terceira pergunta: inaugurado
o governo e até que fossem empossados os novos congressistas, não sendo
beneficiados com distribuição de cargos, quantos parlamentares do PSL já
começaram a torcer para a facada infeccionar e passarem a faixa pro General
Mourão? Eu acho que muitos eleitos, antes de receberem seus primeiros trocados
como parlamentares, buscaram assediar Bolsonaro para que lhes viabilizasse um
forma até mesmo lícita de se socorrerem financeiramente para fazer frente às
dívidas de campanha.
Quarta pergunta: uma vez
empossados e se sentindo empoderados, quantos chegaram mesmo a acreditar que o
comparativo numérico das cadeiras conquistadas lhes permitia que sua bancada
fosse comparada à do PT, onde, goste-se ou não, há uma organicidade no
pensamento político e na militância desde as executivas municipais até a
direção nacional? Eu não gosto da ideologia do PT, mas vejo que, nesse aspecto,
são muito bem estruturados. Tanto assim que é impossível pensar Lula fora do
PT, ou o PT fora de Lula.
Então isso é coisa que passa.
E como passa. É mero assentamento de terreno. O murro que quebra o espelho
deriva da consciência de que não se é o que se imaginava ser. E é o espelho
quem se quebra. Na crise existencial, ninguém esmurra a própria cara. Não é
plausível, portanto, exigir-se isso dos congressistas do PSL. E menos plausível
ainda é enxergar-se no espelho quebrado uma imagem distorcida e sair dizendo
por aí que a situação é aquela imagem refletida nos cacos.
Bolsonaro é militar, mas,
ainda que seja da artilharia, sabe que o cerco, o bloqueio, a pressão
psicológica são tão ou mais importantes que os disparos para se vencer uma
batalha. Essa coisa toda vai passar e não vai dar nem documentário da Netflix.
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