Segunda-feira, 21 de outubro de 2019 - 16h56
Para
quem acompanha a trajetória de lançamentos de livros com temas/formatos
minimalistas, não se surpreende com essa nova investida do escritor Viriato
Moura, ao mundo poético/formal das aldravias.
Frasista
de escol, autor de livros de haicais, minicontos, micro- contos, pela qualidade
dos textos, acreditamos que não foi difícil para o autor retirar mais um livro
do emaranhado de palavras denotativas e conotativas que lhe percorrem a verve
imaginativa, até chegar ao duplo hemisfério cerebral, onde a palavra recebe, em
seu contexto final, um ornato especial das figuras de estilo, antes de chegar
ao leitor. Viriato Moura é um mestre desse processo.
Minimalismo, palavra da moda, começou em meados do século
XX, mais precisamente no anos 1960, nos EUA, e se expandiu com a internet,
reportando-se a um conjunto de movimentos artístico-culturais, especialmente
nas artes visuais, no design e na música, por conta disso adquiriu várias
vertentes, mas o fundamental é ter em mente que ser minimalista é simplificar a
vida, eliminando os excessos e mantendo apenas o essencial. É o desejo de viver
com pouco num mundo absurdamente consumista.
No entanto, o velho ditado em cada cabeça uma sentença se
encarregou de variar a forma como o movimento se manifestou e como difere de
uma pessoa para outra: as regras do movimento não são rígidas.
Minimalismo
acabou sendo uma ferramenta para todos que estiverem dispostos a se livrarem dos
excessos, pela concentração no que é importante para se encontrar a felicidade,
realização pessoal etc. A nós, nesta resenha, interessa o minimalismo enquanto
preferência estética, visto que o livro em processo de análise literária foca
uma das várias veredas do minimalismo.
Vale lembrar que a literatura minimalista é
caracterizada pela economia de palavras, textos em que os autores preferem
sugerir contextos a ditar significados, dando ao leitor participação ativa na
criação, por exemplo, nos mini ou micro- contos, ou seja, o leitor complementa
a fabulação.
No caso da poesia, a aldravia é a mais nova
vedete do mundo minimalista. O nome deriva da aldrava, aquela peça de metal
móvel, presa a outra parte, que, antes das campainhas elétricas, era parafusada
nas portas de madeira e serviam para que o visitante se anunciasse. Neste caso a aldravia é um convite aos poetas
para que ingressem neste novo mundo da estética, em que se permite ao leitor
ampla interpretação, daí o título do livro: Abra-se
para a poesia.
Os criadores da moda sugerem que se enverede
mais pelo campo da figura metonímica do que pela metafórica, mas a metáfora
está tão arraigada à literatura que é muito difícil seguir à risca o conceito
dado pelos criadores, na forma de se fazer aldravia. Metonímica ou metafórica o
fato é que a aldravia, enquanto poema sintético identificado com o virtual, é
constituída por seis palavras verso, em que a ordem é retirar o máximo de
poesia num mínimo de palavras, usadas em forma vertical, sem utilização de
maiúsculas e sem títulos.
Logo de entrada,
no livro Abra-se para a Poesia, o poeta Viriato Moura orienta o leitor, dando
detalhes, no texto, O Verso Mínimo, sobre como fazer e entender uma Aldravia, e
a seguir ingressa, sem pedir licença, no seu cantinho dedicado ao prazer da
poesia:
desnuda de
sem
tanto
adereços pensar
aldravia esqueceu
emana de
poesia ser
E continua mexendo na reflexão do leitor:
abismos lavava
não
saudade
assustam com
quem água
sabe dos
voar olhos
Observem que, além da economia de palavras,
nunca se usa advérbios, e as aldravias são construídas com palavras simples,
mas que se agigantam no contexto, como se fossem pedaços de vida. A
incompletude é uma característica provocativa das aldravias.
mendigo chegou quando
morto ao me
sua
mundo reli
miséria em não
mais
lugar me
viva
nenhum entendi
De fato, a arte da síntese se presta ao momento
especial em que vivemos, neste mundo de tendências reducionistas, comandados
pelo Facebook, twitter, whatsapp, instagram, etc. Pouco se lê e pouco se
escreve, tudo se contrai, elimina-se os adereços para que a essência da palavra
seja levada ao extremo. Há quem veja essas modernas modificações no universo
das comunicações, como o início do domínio da inteligência artificial no mundo
da linguagem: os robôs vão se comunicar com um mínimo de palavras possíveis.
Em se tratando de aldravias
recomendamos a leitura do Abra-se para a Poesia, vivendo
momentos de pura arte, com certeza você não será o mesmo, quando chegar à
leitura da última página, a 143, assim como a gente, você vai ficar amassando o
livro, tentando extrair dele outros ensinamentos, outras aldravias, como as que
despertaram em nós o gosto pelo novo de bom gosto.
silêncio fugiu introjeção
da de de
morte tudo sóis
pode chegou aquecem
ser ao almas
ensurdecedor nada vivas
* Presidente da Academia Rondoniense de Letras
.
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