Quinta-feira, 30 de janeiro de 2020 - 16h02
Aproxima-se a disputa
eleitoral e os narizes que ainda preservem alguma sensibilidade são capazes de
detectar no ar o cheiro da desfaçatez, do cinismo, da traição, da ganância e,
muitas vezes, dos sabonetes, e shampoos de motel. Essa é a realidade. E o profissional
que for ofertar seus serviços técnicos, suas consultorias de marketing, seus
planejamentos de comunicação, deve ter consciência disso.
Nos locais de reunião
política, infestados de proxenetas, sejam escritórios, gabinetes, diretórios ou
hotéis, aquilo de que menos de fala – pois o que vale aí são as silenciosas
trocas de olhares e as lacônicas negociações de preço – é o que mais influencia
as tomadas de decisão nas contratações e formações de equipe. É natural: cada
um dá o que tem.
O
poder é inebriante; e a disputa por ele é afrodisíaca. Quanto mais se aproximam
as eleições, quanto mais acirrada e extenuante é a disputa, ainda maior,
portanto, é a importância que os intermediadores de serviços sexuais assumem
nas máquinas de campanha. Lá pras tantas, decidem sobre qualquer matéria: são
uma espécie de consultores gerais, opinam sobre as peças publicitárias, definem
direcionamento de verbas, determinam a agenda do candidato.
Derrotada
a chapa, serão os primeiros a serem acomodados nos cargos conquistados com os
acertos feitos nas composições de segundo turno, ou nos postos já consolidados
como conquista do grupo partidário na eleição de dois anos antes. De tal sorte
que, no que a eles se refere, não há que se falar propriamente em derrota. O
que explica não terem estado em momentos algum efetivamente preocupados com o
sucesso da empreitada eleitoral.
Na
banda vencedora, só empatarão em prestígio com os agiotas. Aos quais não
tardarão em também os incluir em sua clientela. E aí o que a população terá pela
frente é a mera repetição de insucessos, que tendem a se agravar quando o
mandatário enfrenta uma maior dificuldade para discernir entre o marketing
eleitoral e o marketing governamental, entre o que já acabou e o que já deveria
ter começado. Note-se que tal problema se agravou ainda mais depois que se
instituiu a reeleição em nosso país.
E a
culpa? Ora, a culpa, dirão com a cara deslavada, é de quem estava antes – o que
não é de todo mentira! Acontece que a manipulação retórica ocorre justamente
desde aí: desde que se induz a população ignara a embarcar na onda de
inventariar culpas, quando na verdade o que deve é identificar
responsabilidades. Deixem-se as culpas para os inquéritos, denúncias e
processos. É na cobrança de responsabilidades que se consubstancia uma
cidadania proativa.
Ninguém venha se lamentar do
que encontrou em uma máquina administrativa cujo controle disputou
acirradamente. Ninguém é assume um mandato eletivo por acaso, senão depois de
incansável disputa. Há uma responsabilidade administrativa que não se herda,
mas se assume. E invariavelmente se o faz com o discurso de que se é a pessoa
mais indicada para assumir e resolver. Ser chefe de um Executivo exige a
consciência de que cada um sabe onde enfia seu nariz. Ou deveria saber.
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Formei-me em 1958 em Direito na FDUSP e desde o início da década de 60,quando cinco dos atuais Ministros ainda não tinham nascido, atuo perante a Su