Terça-feira, 4 de junho de 2019 - 08h00
Em vésperas de Santo António, o
atelier de Soares dos Reis, sito na rua de Camões, em Gaia, engalanava-se para
receber visitas. Arrimavam-se as esculturas; cobriam-se de panos brancos, os
esboços; penduravam-se vistosos balões chineses; acendiam-se as velas; e, para
concluir, o artista suspendia enfeites, de papel crepe, de várias cores.
Sobretarde, ao declinar do dia,
chegavam os convidados, entre eles, apareciam: Henrique Pousão, Souza Pinto,
Tomás Costa, Teixeira Lopes, Marques Guimarães, Diogo José de Macedo.
Serviam-se, em bonitas bandejas
de porcelana, doce de chã da “ Palaia” – estabelecimento que ficava na rua do
Bonjardim, no Porto, – e biscoitos de Valongo; abriam-se garrafas de “Porto”,
da Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Alto Douro; e quando a festa
atingia o auge, o anfitrião, tangia incipientes melodias ou dedilhava, nas
cordas de velho violão, trechos da “ Marcha de Luís XIV”.
Conversava-se sobre Arte, e de
conhecidos artistas plásticos, que residiam na Cidade da Luz; os que pretendiam
estar à la page, liam e comentavam o folhetim de: “ A Palavra”, onde
experimentado jornalista, desassombradamente, desancava na política e nos
políticos da capital.
Era festa modesta, mas de
intelectuais, onde imperava respeito e dignidade.
Tinha o escultor índole amargo,
frontalidade que facilmente se confundia com grosseria e agressividade. Só os
íntimos – e pouco mais, – conheciam-lhe o coração terno, e a apurada
sensibilidade hipersensível.
Insignificante falta de
atenção, frase não concluída, era bastante para o deixar em atroz ansiedade.
Tinha Soares dos Reis numerosos
detractores. Contribuiu para isso, o jeito agreste e rude como se exprimia.
Frequentemente citava Boileau:
“ Un sot, trouve toujours un plus sot qui l’admire”.
Ao analisar trabalho alheio,
não se inibia de declarar publicamente, se não fosse de seu agrado: “ É
uma borracheira! …”
Detestava os políticos,
mormente os hipócritas, que para ele eram quase todos. Considerava-se democrata
e católico, mas poucas vezes ia à missa. Escrevia muito pouco, e carteava-se
ainda menos.
Aos domingos, fazia longos passeios
a pé, por: Paço de Rei, Quebrantões, Gervide e Lavandeira. Levava casaco
comprido, botas-de-elástico, nada cuidadas, e cabelo desamanhado.
Fascinava-se com a beleza
campestre, o sossego das boiças, o trinar dos passarinhos, o sussurro embalador
dos córregos, e a beleza das flores silvestres, que atapetavam os verdes campos
de Oliveira do Douro.
Quando se apaixonou pela dedicada
esposa, mudou por completo. Mandou fazer, na Alfaiataria Rocha, bonito fraque e
substituiu as cambadas botas-de-elástico, por modernas de cordão. Passou a
cuidar o cabelo e amiúde frequentava o barbeiro.
Se o tempo não permitia passear
pelo campo, recolhia-se no Clube Recreativo de Mafamude, jogando bilhar e
dominó.
Numa hora de extremo desespero,
que o levou ao suicídio, escreveu no papel de parede do quarto: “ Sou
cristão, porém nestas condições, a vida, para mim, é insuportável. Peço perdão
a quem ofendi injustamente, mas não perdoo a quem me fez mal.”
Soares dos Reis – o maior
escultor português – nasceu em Santo Ovídio (Gaia), numa terça-feira, a 14 de
Outubro de 1847. Foram seus pais, Manuel Soares Júnior – proprietário de
mercearia, onde o filho era marçano, – e D. Rita do Nascimento.
Foi baptizado na Igreja de
Mafamude pelo Padre Francisco Ribeiro de Moura, e teve como padrinhos: Santo
António e D. Ana Maria de Jesus.
Desde cedo mostrou tendência
pelo desenho. Na escola (a do Cabeçudo) retratou, às escondidas, o professor, o
Sr. Matos. Descoberta a falta de atenção, o mestre não lhe bateu, e terminada a
aula andou a mostrar, admirado, o talento do aluno.
Pouco depois, os pintores
Francisco José Resende e Diogo de Macedo, este último, avô da esposa de Soares
dos Reis, ao conhecerem o extraordinário valor do rapaz, convenceram o pai a
matriculá-lo na Academia de Belas Artes.
Entrou na Escola a 1 de Outubro
de 1861; seis anos depois partia para Paris, como bolseiro do Estado. Devido à
guerra franco – prussiana, deslocou-se, depois a Roma, onde na Rua de S.
Nicolau, 4, esculpiu o fabuloso “ Desterrado”,a obra-prima..
Regressa à Pátria, em 1872,
torna-se em 1881, professor da Academia Portuense de Belas Artes.
A16 de Fevereiro de 1889,
suicida-se na sua casa da rua de Camões, em Gaia.
Casou a 15 de Julho de 1885,
com D. Amélia Aguiar de Macedo. Do matrimónio nasceram: Bernardo de Macedo
Soares dos Reis, que faleceu com 27 anos (foi empregado da Foto - Bazar e do
Banco Comercial do Porto,) e Raquel Soares dos Reis, que morreu solteira.
Quarenta e dois anos após a sua
morte – em Portugal é assim que se tratam os artistas de nomeada, porque os
outros, morrem à fome, se não se tornam políticos (à força,) – concederam à
viúva e filha, a pensão de mil e quinhentos escudos mensais, por despacho de 2
de Março de 1931, do Presidente Óscar Fragoso Carmona, como gratidão da Pátria
à família do genial escultor.
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