Quinta-feira, 1 de outubro de 2020 - 10h33
Durante o mês de
setembro, fomos impactos por centenas de mensagens, reportagens e artigos que
tratavam da importância da prevenção ao suicídio. De acordo com a Organização
Mundial de Saúde (OMS), cerca de um milhão de pessoas tiram a própria vida
todos os anos. Os cálculos apontam, em média, um caso de suicídio a cada 40
segundos. Desse total, a grande maioria (75%) é composta de moradores de
regiões pobres e desfavorecidas.
O Brasil contribuiu
com essas estatísticas. Os números falam em aproximadamente 12 mil casos
anualmente. Todos os dias, pelo menos 32 brasileiros tiram suas próprias vidas.
Os dados do Ministério da Saúde indicam que o suicídio é a segunda principal
causa de morte entre jovens com idades entre 15 e 29 anos.
É triste, mas é
verdade. Acontece com muito mais frequência do que se imagina e, às vezes, com
pessoas que não aparentavam passar por qualquer crise. No entanto, esses
números e os dramas que representam poderiam ser evitados ou reduzidos
consideravelmente. O problema é que a dificuldade em falar sobre o assunto e de
expor o sofrimento contribui para que desfechos trágicos aconteçam.
Há o medo do
preconceito, da indiferença, de colocar em xeque a imagem projetada ao longo de
anos e que costuma estar distante da realidade. Segundo especialistas, o
caminho que leva ao suicídio passa por um martírio íntimo que inclui, entre
outros transtornos, depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, ansiedade e
abuso de substâncias. Todas essas dificuldades podem ser superadas, se tratadas
com a ajuda de profissional.
Como tem ocorrido
nos últimos anos, o Conselho Federal de Medicina (CFM e a Associação Brasileira
de Psiquiatria (ABP), com o apoio de inúmeras entidades, como, o Conselho
Regional de Medicina de Rondônia (Cremero), organizaram ao longo de setembro
uma campanha nacional sobre a prevenção ao suicídio que trouxe o assunto para o
centro das discussões.
No entanto,
setembro vai embora e fica a certeza de que não podemos limitar a preocupação
com esse tema a apenas 30 dias durante o ano. Esse engajamento solidário em
compreender e ajudar o próximo precisa e deve ser contínuo. Para tanto, é
necessário entender os mecanismos desse problema e se preparar para falar sobre
ele.
Aliás, estender a
mão e se dispor ao diálogo, despido de visões distorcidas e munido de
solidariedade, são medidas que trazem alívio para quem sofre em silêncio. Pouca
gente sabe que foi a agonia de um jovem americano, em 1994, que despertou no
mundo a consciência de que é preciso romper o tabu em torno das dificuldades
que podem levar alguém a tirar a própria vida.
A origem do
Setembro Amarelo e o simbolismo que encerra começou com o suicídio de Mike
Emme, de apenas 17 anos. Considerado um jovem carinhoso e feliz, ele um dia se
matou, deixando atônitos amigos e familiares que disseram nunca terem percebido
qualquer sinal sobre a crise que o abalava.
Dono de um Mustang
68 (no Brasil, conhecido com Camaro) que ele mesmo havia reformado e pintado de
amarelo, no seu funeral, os mais próximos montaram uma cesta de cartões e fitas
amarelas com a mensagem: “Se precisar, peça ajuda”. Esse foi o ponto de partida
para uma campanha de conscientização que tomou grandes proporções e, anos
depois, chegou ao Brasil pelas mãos do CFM e da ABP.
Histórias como a
desse rapaz podem ter um final diferente se todos entendermos que é possível
ajudar. O suicídio é o desfecho de um processo, muitas vezes longo, no qual a
depressão deixa de ser vista como doença que pode ser tratada.
Pena que, em lugar
de receber orientação, quem aparenta não ir bem acaba sendo classificado por
alguns como uma pessoa fraca, incapaz, com distúrbios de personalidade. Por
isso, convido todos a fazerem a inverterem essa lógica e olharem o outro com
solidariedade e compaixão.
Desse modo, a
campanha de prevenção ao suicídio permanente, pois todos os dias serão
dedicados à conscientização sobre esse grave problema de saúde pública. Para
tanto, estejamos atentos ao que ocorre ao nosso redor. Prestem atenção aos
amigos e familiares nos dizem com seus atos e gestos.
Irritabilidade, variações frequentes de humor, agressividade, isolamento, expressão de desesperança, sentimento de culpa e rejeição, tristeza, angustia ou ansiedade são alguns dos sinais que substituem palavras. Ao perceber esse quadro, se prontifique a ouvir e ajudar. Esse gesto pode mudar uma história.
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