Quinta-feira, 30 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Artigo

Vini Jr e o racismo que nos adoece


Livia Marques, psicóloga - Gente de Opinião
Livia Marques, psicóloga

Infelizmente, mais uma vez precisamos falar sobre isso. Perceber um jogador de futebol, estrela de um dos maiores times do mundo, em uma coletiva, chorar pelo fato de ter de se defender e justificar sobre o racismo vivenciado, dói. 

O choro pode ser julgado ainda assim, levando em consideração o fato de ser um homem negro e questionarem: “Ué, mas ele sempre ‘bate de frente’ no campo e até levanta o punho cerrado. Agora, ele está chorando?” 

Sim! Estar no front e lutando frente a tantas violências que oprimem e violentam é dolorido. Ou será que pessoas negras não podem ter emoções? Ou será que não podem se expressar? Possivelmente, ambos os casos. 

Quais são os posicionamentos que se tem? Não se tem. Será que existe uma normalização nisso tudo? Interessante dizer que se caso a pessoa reaja e fale algo, ela pode ser entendida como alguém que é arrogante, violenta ou “raivosa”. 

Caso chore, a pessoa é considerada fraca. Os julgamentos sempre colocam a pessoa nos extremos. Ou se inferioriza ou se percebe como uma pessoa muito ruim. 

O racismo adoece e muito. Lutar o tempo todo contra algo que impacta a sua existência. O quanto que adoece a cada um de nós. Para a população negra é sobre lutar pela existência e contra o processo de opressão e violência. 

Mas, caso a pessoa fale e diga com todas as letras que aquilo é racismo, logo somos taxados como militantes e raivosos. Para estereótipos que associam pessoas negras ao papel de desumanos serve, não é? 

O fato aqui é que o racismo desumaniza, como Frantz Fanon e Abdias Nascimento nos trazem perfeitamente em páginas dos livros “Pele Negra, máscaras brancas” e “O genocídio do Negro Brasileiro. Processo de um racismo mascarado” que, por vezes, precisamos parar e respirar. 

Quando abordamos o assunto racismo e saúde mental da população negra, percebemos o quanto o adoecer dessas pessoas ainda é invalidado e ainda pouco abordado. 

Isso gera na pessoa diversas marcas, como, por exemplo, o sentimento de não pertencimento; defectividade, que é a sensação de ser defeituoso; desejo de se isolar socialmente; processo ansiogênico, a ansiedade que causa desconforto físico e psíquico, e o silenciamento. 

A escritora Conceição Evaristo nos traz uma reflexão com relação à luta que é bastante pertinente para o caso: “eles combinaram de nos matar, mas a gente combinamos de não morrer”. 

 (*) Psicóloga Clínica, Especialista em Terapia Cognitiva Comportamental, Formação em Terapia do Esquema, Estudiosa em relações raciais e saúde mental negra, Palestrante, MBA em Gestão de Pessoas, Coordenadora editorial e autora.

Gente de OpiniãoQuinta-feira, 30 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Distribuição da água, coleta e tratamento do esgoto rumo a privatização em Pernambuco

Distribuição da água, coleta e tratamento do esgoto rumo a privatização em Pernambuco

Virou palavrão falar em privatização, depois das promessas não cumpridas com a privatização da distribuidora de energia elétrica, a Companhia Energé

Recomeços: como traçar sua melhor jornada para 2025

Recomeços: como traçar sua melhor jornada para 2025

Sempre há tempo de recomeçar, porém o Ano Novo é um período no qual geralmente as pessoas dão uma parada para reflexões que nos trazem mais uma chan

Gastança, a praga moderna que atrasa o Brasil

Gastança, a praga moderna que atrasa o Brasil

No século XIX, o pesquisador francês August Saint-Hilaire (1779-1853) ficou espantado com a ação devastadora das formigas cortadeiras no Brasil, ati

Dom Bosco, o santo do Amor

Dom Bosco, o santo do Amor

Dom Bosco é reconhecido e estimado por ter sido um exímio pedagogo e educador de todos os tempos. Ele como ninguém inaugurou um apostolado inovador

Gente de Opinião Quinta-feira, 30 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)