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AS ÚLTIMAS AVOZINHAS


Por Humberto Pinho da Silva

Durante as férias de Verão, resolvi visitar o Alto-Minho. Aproveitei o passeio para conviver com velha amiga, viúva de médico, e mãe de três filhos.

Recebeu-me ao portão do antigo solar, e levou-me para escadaria de pedra, que dava acesso a ampla sala, cujas janelas de guilhotina, encontravam-se cobertas de pesados reposteiros encarnados.

Esta velha amiga, pouco mais idosa do que eu, vive sozinha, na companhia de duas empregadas. Os filhos há muito abalaram para a capital, onde exercem profissões liberais.

Durante largas horas, conversámos sobre acontecimentos, em que ambos fomos protagonistas, e que nos deixaram saudosas recordações.

Contou-me que semanas antes, tivera grande alegria, seguida de desilusão, que a deixou muito contristada.

A neta, telefonou-lhe para lhe dizer que vinha passar uns dias a sua casa.

- Saltou-me o coração de contentamento, quando ouvi a sineta do portão tocar – confessou-me.

A netinha, logo que chegou, foi a correr para o quarto. Depositou a mala; guardou os pertences; envergou vestido mais ligeiro; e veio merendar.

- Estou tão feliz! … - Disse-lhe a avó.

Com a natural sinceridade de adolescente do século XXI, prontamente respondeu:

- Vim de castigo! O papá disse-me: “ Como ficaste reprovada, vais de castigo para casa da avó…É uma maçada!...Bem gostaria de ficar em Carcavelos, com meus amigos…”

A velha e querida amiga, ao contar-me isso, tinha lágrimas escorrendo pelo rosto.

No meu tempo de menino, a avó era imprescindível: cuidava das crianças; ia busca-las à escola; dava-lhe banho; e muitas vezes estudava com elas, para facilitar a assimilação da matéria.

A avozinha era o membro da família mais querido. Os netinhos adoravam-na. Com a desagregação da família – difusão do divórcio e a partida dos filhos para os grandes centros, – os avós passaram a ser estorvos.

O lugar dos idosos deixou de ser junto dos filhos e netos, e passou a ser: nos lares, internados, muitas vezes, à força.

Ficaram condenados a viverem sozinhos ou em “ armazéns”, onde convivem com doentes, dormem com estranhos, e obrigados a permanecerem longas horas, embrulhados em mantas, diante de aparelhos de TV.

Felizmente, a maioria dos lares, já não recorrem a “drogas”, para mantê-los sossegados, como acontecia antigamente.

A senhora que visitei, graças aos bens que possui, não necessita de se internar numa residencial, mas nem todos os avós têm igual sorte.

O episódio que contei é elucidativo da forma como os adolescentes são educados:

O pai castiga a filha e envia-a para a avó, como se sua casa fosse prisão.

A neta, sem piedade, declara à avó – que a recebe de braços abertos, – que preferia estar com os amigos em Carcavelos.

Assim vai a juventude…e a educação que recebe.

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