Segunda-feira, 24 de setembro de 2012 - 21h06
Heródoto Barbeiro
A quadra do clube esportivo estava cheia até a boca. O calor do meio dia era insuportável em um sábado no meio de um feriadão em Nilópolis. Na mesa dos palestrantes uma dúzia de convidados, o público, do outro lado, juntava umas mil e 500 pessoas. Tinha gente de todas as cores, idades, condições sociais e origem. Os oradores se sucediam há, pelo menos, uma hora e meia. A estrela da festa era o líder Leonel Brizola, defensor do socialismo democrático, um visionário que acreditava ser possível construir uma sociedade mais humana e igualitária. Era um guerreiro. Não tinha medo de ninguém e apesar de ter o seu poder político restrito na época ao Rio de Janeiro, sua fala era nacionalmente respeitada. Quando falava dava bordoadas à direita e à esquerda, da burguesia aliada aos militares aos recém organizados de São Bernardo. Era o orador mais esperado, o mestre das pausas na oratória e capaz de empolgar o auditório com suas histórias e visão do futuro. Nem mesmo sua voz, ora esganiçada, era capaz de atrapalhar a clareza de suas ideias. Era possível discordar delas, mas era impossível, não entender.
Depois do índio Juruna, do negro Abdias Nascimento, e outros seguidores, Brizola anunciou um professor doutor, cheio de títulos acadêmicos.Certamente seria um chato, empolado, nariz arrebitado que usaria termos científicos e citações em línguas estrangeiras e quiçá em latim. Vestia uma cabeleira longa, esbranquiçada, que parecia demais para sua pequena estatura. De pé quase não era visto pela multidão que se espremia entre o calor e as arquibancadas. “Existem duas opções na vida: se resignar ou se indignar, e eu, não vou me resignar, nunca”. Foi o ovacionado . Era o Darcy Ribeiro, o professor Darcy Ribeiro, o mestre com titulaturas a dar com pau, currículo imenso, vários livros antológicos e respeitado dos bancos da universidade aos bancos de dinheiro, da zona sul a zona leste, dos apartamentos duplex às palafitas das beiradas dos córregos. Capaz de enfrentar as bancas de doutos doutores de antropologia e os líderes comunitários desdentados. Fazia parte da trupe colorida que acompanhava o engenheiro Leonel em suas andanças pelo governo, pelas cidades humildes e pelos debates onde quer que fosse chamado.
O exemplo de Darcy Ribeiro, mais do que nunca, é de uma atualidade gritante. No momento que muitos desacreditam da democracia uma vez que os partidos políticos se associaram aos seus financiadores, é preciso não se resignar. No momento que populistas e demagogos, sem programa, sem visão de mundo, sem intenções claras, a não ser o poder para servir a si e aos seus mantenedores, é preciso não se resignar. No momento que alguns querem excluir outros por sua etnia, condição social ou opção sexual, é preciso não se resignar. No momento que alguns gatunos roubam dinheiro dos postos de saúde, das escolas e do saneamento básico e vivem nababescamente, ainda que condenados pela justiça, é preciso não se resignar. Darcy não tinha a sua disposição as redes sociais e a facilidade com que um cidadão pode se comunicar com o outro como hoje fazendo parte da imensa mandala que é a internet. Não se resignou nunca, nem mesmo quando era necessário fugir do hospital onde se tratava de uma doença grave, para ir a um debate ou a uma palestra. Hoje exemplo do Darcy pode ser multiplicar na tela do seu computador.
Heródoto Barbeiro - escritor e jornalista da RecordNewsTV
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