Sexta-feira, 2 de março de 2012 - 17h21
Diogo Tobias Filho*
“Se um dia hei-de ser pó, cinza e nada/ que seja a minha noite uma alvorada,/ que me saiba perder... para me encontrar.” (Florbela Espanca (1895-1930), poeta portuguesa, autora de Charneca em Flor.)
Copiando o genial Euclides da Cunha, eu diria que o Professor de Rondônia é antes de tudo um forte! Se os números estão em baixa, se a educação vai mal, se os alunos não aprendem o satisfatório na escola pública, convenhamos, a culpa não é do mestre.O que se observa é quea classe política destruiu a educação do Estado. Agora, diante do processo irreversível da globalização, uma marcha inexorável para o domínio absoluto do globo pelas grandes corporações comerciais, industriais e financeiras,que relega aos recônditos periféricos do mundo que não domina o conhecimento tecnológico, a elite dirigente rondoniana resolveu acordar do seu sonho lerdo e buscar resultados imediatos.
O gargalo está no fato de que eles querem melhorar a educação sem investimentos e sem valorização dos docentes e funcionários de apoio. Como não há justificativas pra sociedade, jogam indiscriminadamente na fogueira da inquisição os professores, porquanto são os que estão cara a cara com o cidadão.Seria uma santa ingenuidade esperar de um grupo do poder dominante assumir sua parcela de culpa no fracasso da educação pública. Pelo contrário, seu discurso enfadonho se esforça para convencer que o Estado não pode arcar com mais despesas salariais em consequência da Lei de Responsabilidade Fiscal; que com a crise é melhor segurar o emprego, ou pior, se der um aumento melhor para o professor, outras classes vão exigir o mesmo tratamento. Argumentos esfarrapados não faltam ao vocabulário de tolices dos políticos locais.
Desde o início, o Governador Confúcio interagia com seus governados através do blog e suas declarações eram amplamente divulgadas pela mídia. Entre as últimas pérolas postadas, ele assim teclou: “Sobre a nossa Educação. Fraquinha nas pernas quase escorada na muleta. Ensino médio pra lá de Bagdá”.
Não é necessário ser expert em história da educação para analisar que os grandes pensadores que ousaram, desde os anos 50, inovar os métodos educacionais no Brasil foram ignorados, como Anísio Teixeira ou até mesmo expulsos como Paulo Freire. A classe aristocrática nunca se interessou em educar o povo. Confúcio deveria era reconhecer o contrário. Malgrado meio século de desmoralizações, roubalheiras, exploração de professores com cargas de trabalho pesadas, recursos didáticos ultrapassados, desconforto no ambiente escolar, status quo funcional jogado propositalmente na rua da pobreza, a escola pública ainda sobrevive, resiste de forma heroica aos suplícios impostos pela incompetência das sucessivas gestões.
Confúcio Moura é um neoliberal, um tucano travestido de centro-esquerda. Sua ideologia se assenta numa visão de mundo adepta do individualismo, da competição, do Estado mínimo e da primazia do mercado. O sonho dos políticos neoliberais é privatizar praticamente tudo e se livrar de vez dos sindicatos que, ainda diante dos reveses das últimas décadas, resistem fortalecidos como representação de classe.
Politicamente, estamos entre a cruz e a espada. Excetuando-se os bois e plantadores de feijão, nenhum professor gostaria de ver Ivo Cassol e a república da roça de volta ao poder, sobretudo, pelos tormentos psicológicos infligidos aos educadores de sala de aula durante oito intermináveis anos.Mas, não se vê em Confúcio Moura nada de promissor de que realmente haverá investimentos nos recursos humanos. O salário continua miserável, a estrutura da maioria das escolas em estado lastimável e o fato de escolher um jornalista de colunas sociais para dirigir a secretaria nem merece comentários.
Azar dos milhares de professores que são obrigados a cultivar uma paciência de meio século sem nenhuma revolução digna de mudanças. Ademais, falta realmente aos docentes aprender com a própria história. Segundo Eduardo Galeano, Francisco Pizarro era analfabeto e criador de porcos. Entrou em Cajamarca com 180 soldados, 37 cavalos, e encontrou e venceu um exército de 100 mil índios. Educadores querem formar cidadãos críticos, mas não conseguem metade dos pares e lutar contra o governo, muito menosmobilizar os mais variados movimentos sociais em prol da escola pública. O que está ruim ainda tem a chance de ficar pior. A revolução necessária à educação não virá.
*O autor é ex-professor de filosofia – digtobfilho2012@hotmail.com
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