Segunda-feira, 22 de junho de 2015 - 18h15
1 – Situando a questão
Em primeiro lugar, não se pretende com o presente texto, dada a sua característica, abrangência e as lacunas naturais do ponto de vista do aporte de conhecimentos de temas tão complexos, se não o de chamar a atenção, para a encruzilhada de um gravíssimo problema que está colocado como enorme desafio para a humanidade, a compatibilização entre progresso e qualidade de vida, face a sustentabilidade do planeta.
A evolução das sociedades, se é que podemos falar nesses termos, é uma sequência de rupturas entre as estruturas velhas que morrem ou perdem dinamismo, a capacidade de mover a história e, os novos paradigmas que surgem, inovando, superando e abrindo outros caminhos para que aquelas, prossigam de maneira inexorável os seus cursos. Aliás, a ruptura, é condição necessária para o devir.
Nessa perspectiva, a modernidade é justamente esse contraponto com a tradição. Mais especificamente com a tradição medieval. Como afirma a professora Elizabete Monteiro de Aguiar no artigo, A construção do conhecimento na modernidade e na pós-modernidade, “A modernidade apresentou uma nova visão de mundo que se confrontava com o mundo medieval...no lugar de uma verdade revelada pela fé, instituía a razão humana como princípio da construção do conhecimento e como promessa de melhor condução da vida humana”.
Foi uma profunda transformação nos campos das artes, da ciência, da cultura e da filosofia. O mundo passa a ser interpretado, pela ótica da racionalidade científica, onde ganha centralidade a concepção liberal clássica, pontificando cada vez mais a supremacia do mercado e a ideia do Estado mínimo, à medida que se desenvolve o modo de produção capitalista.
Pautado na subjetividade do indivíduo, em que a liberdade, e a propriedade se constituem em bem supremo, o sistema capitalista, baseado na lógica da lucratividade, proporcionou ao indivíduo, baseado no consumo, níveis de produção crescente, ao longo dos dois últimos séculos que antecederam o século XXI.
O desenvolvimento das forças produtivas, que fez crescer o estoque material nesse período, trouxe também sérios problemas para a humanidade, na medida que, para alcançar maiores níveis de produtividade que levou ao maior volume da produção de mercadorias, colocou em xeque o paradigma do desenvolvimento capitalista. isso se tornou perceptível, pela agressão e profundos danos de caráter irreversível, causado ao meio ambiente, chegando a níveis deveras preocupante nos anos 80, proporcionando um alerta geral aos líderes dos Estados Nação, acossados pelos movimentos que se levantaram mundialmente, preocupados com essa questão. A persistir o padrão de consumo vigente ao longo do tempo, sem que nada seja feito, o planeta tenderá a mergulhar no caos.
2 - A necessidade da quebra de paradigma
A racionalidade moderna que preconizava o domínio e o controle da natureza e, noutra dimensão a emancipação do indivíduo, entrou em crise, erodiu, se tornou inepta. Como afirma o prof. José Paulo Neto, em palestra sobre Modernidade e Pós-modernidade, na medida em que o projeto de modernidade, já não é mais possível pensar a humanidade, pensar a sociedade contemporânea, os parâmetros nos quais foram erigidos os seus alicerces, não dão conta de explicar o grau de complexidade e diferenciação dessa dada sociedade em que vivemos.
A perspectiva criada para um projeto de sociedade que na sua trajetória, proporcionaria o melhor dos mundos, se constituiu num desencantamento para a humanidade, na medida que alguns dos seus mais importantes enunciados, foram erodidos pela realidade empírica do mundo atual.
Essa condição, que para alguns teóricos como Bauman, criou um mal estar na sociedade contemporânea, impôs uma outra forma de interpretar a realidade. Como supõe alguns autores, ao ser decretada a falência dentre tantas outras questões, das metanarrativas emancipadoras, inspiradas na Revolução Francesa e sintetizadas nos ideários da igualdade, liberdade e da fraternidade, essas características se constituem como reveladoras da pós-modernidade.
Como enuncia o prof. Márcio Balbino Cavalcante, em seu artigo, O conceito de pós-modernidade na sociedade atual, “A pós-modernidade recobre todos esses fenômenos (sociedade pós-industrial, pós-estruturalismos, pós-fordismos, pós-comunismo, pós-liberalismo, pós-imperialismo, condição feminina, ecologia, etc) conduzindo em um único e mesmo movimento, à uma lógica cultural que valoriza o relativismo e a (in)diferença, a um conjunto de processos intelectuais flutuantes e indeterminados, à uma configuração de traços sociais que significaria a erupção de um movimento de descontinuidade da condição moderna: mudanças dos sistemas produtivos e crise do trabalho, eclipse da história, crise do individualismo e onipresença da cultura narcisista de massa”.
Interessa-nos enquanto contraponto entre modernidade e pós-modernidade, centrar foco na questão ambiental, mais especificamente no caráter da sua sustentabilidade, na medida em que esta, se configura no paradigma mais aceito, mais debatido e sem dúvida alguma mais controverso numa perspectiva desejável de desenvolvimento, na pós-modernidade.
Existe aqui sem dúvida alguma, uma tensão paradigmática de difícil superação, posto que na lógica de desenvolvimento nos marcos da ordem capitalista, o crescimento ou a prosperidade econômica, não se realiza, a não ser impactando ou destruindo os espaços naturais.
Ao manter-se o padrão desigual de consumo nos níveis atuais, numa perspectiva de inclusão de enormes contingentes populacionais, que gravitam ao redor dos BRICS por exemplo, a vida no planeta ficará insuportável. Tomemos apenas China e Índia como ilustração. Para efeitos comparativos, coloquemos a América do Norte como parâmetro. Se hoje os EEUU, com uma população que equivale a 5% do globo, consome em torno de 25% a 30% de tudo que é produzido mundialmente, (dados da Fao), imaginemos, se China e Índia numa perspectiva histórica de longo prazo, busquem esses mesmos níveis, o que não acontecerá com o patamar de consumo do planeta?
Se considerarmos os países desenvolvidos que equivalem a 1/5 da população mundial, temos que estes, segundo Ronaldo Gusmão, Coordenador Geral da Conferência Latino Americana sobre Meio Ambiente e Responsabilidade Social, de tudo que é consumido no mundo, 80% correspondem ao consumo desses países. Os outros 20%, é a cota que cabe aos demais 4/5 dos países.
O dado preocupante. Segundo a mesma fonte anterior, hoje, o mundo já consome 25% a mais dos recursos que o planeta é capaz de regenerar. Ao levarmos em conta que o padrão de consumo americano, por uma questão de ordem cultural, é o desejável da grande maioria dos outros países, o cenário que se tem para o futuro é deveras muito desalentador.
A utopia ambientalista falhou. Não foi capaz de resolver essa equação complexa entre o padrão de consumo mundial e a sustentabilidade ambiental e ecológica. O desenvolvimento sustentável, constitui-se apenas numa peça de retórica, pela incapacidade de contrapor a lógica do desenvolvimento capitalista. O desenvolvimento capitalista tem um alto preço, a ser pago pela sua irascível capacidade destruidora, e quem paga esse alto preço é a humanidade, pela escassez dos recursos naturais, consumidos pelo processo produtivo que lhes é vital.
3 – No meio da transição há um desvio
Hoje, o mundo contemporâneo, vive um impasse de dimensões extremamente preocupante. Como disse Serge Latouche em uma conferência dentre tantas que tem proferido ao redor do mundo, existe uma crise civilizatória no mundo ocidental, engendrada pelo moderno desenvolvimento capitalista, na medida em que o crescimento econômico, proporciona níveis de produção e consumo ilimitados, com uma expansão extraordinária do progresso técnico material.
Como vivemos num planeta finito, com um crescimento infinito, estamos, afirma Latouche, a caminhar para o desastre. Isto porque a sociedade só funciona bem, quando cresce, enquanto está em movimento, a exemplo de um ciclista que só encontra equilíbrio enquanto pedala. Estamos condenados a pedalar continuamente, porque se pararmos de pedalar caímos.
O crescimento que foi o motor da história no próspero pós-Segunda Guerra, morreu em meados dos anos 70, e a gente não se deu conta. Vivemos sem o perceber, a exemplo (mais uma metáfora de Latouche), do brilho das estrelas que já morreram a milhões de anos-luz de distância, e ainda não nos demos conta, porque vivemos uma espécie de fuga para a frente, numa enorme bolha especulativa.
É frente a esse impasse, que culminou inclusive com a crise dos anos 2007/2008, cujos reflexos se fazem sentir até os dias atuais, que surge um movimento em torno do decrescimento.
É uma linha de pensamento recente, que se contrapõe à lógica de um crescimento ilimitado, que proporciona um padrão de consumo desmesurado, motivado por propagandas e marketing, que induzem as pessoas a consumirem em escala cada vez mais crescente, bens supérfluos desnecessários, tudo devidamente assentado na lógica do lucro.
Sobre esse tema, convergem vários autores em torno de uma ideia, “parte dos quais, considera que seu movimento não produz um modelo econômico novo, nem um sistema de pensar substitutivo do vigente, mas antes produz idéias e sugestões que permitem criar, aos poucos, uma sociedade distinta, mais saudável, mais simples, mais relacional”.
Latouche, propõe uma alternativa que ele chama de utopia concreta do decrescimento, onde ele trabalha três aspectos fundamentais para alcança-los, quais sejam, avaliar o alcance do decrescimento, propor como alternativa, a utopia concreta do decrescimento, e especificar os meios de sua realização.
Nessa perspectiva, conforme especifica Felipe E. Rodriguez Arancibia, é que Latouche faz a sua maior contribuição: “uma proposta concreta de como entrar num circulo virtuoso de decrescimento sereno, representado por oito mudanças interdependentes que se reforçam mutuamente: reavaliar, reconceituar, reestruturar, redistribuir, relocalizar, reduzir, reutilizar, reciclar”.
Tudo isso pressupõe naturalmente, uma reorientação no que tange ao crescimento infinito e ao consumo supérfluo e ilimitado, tão caros ao desenvolvimento capitalista. Requer uma mudança de mentalidade para uma convivência mais harmoniosa entre as pessoas na busca pelo equilíbrio entre homem e natureza.
Como se trata de uma proposta que contraria a lógica em que se assenta o modo de produção capitalista, com tudo o que esse sistema representa, as críticas são recorrentes e das mais variadas formas. É uma aposta numa utopia concreta.
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