Sábado, 28 de julho de 2012 - 07h50
João Baptista Herkenhoff
Quando faleceu Flávio Shogo Ishii, o “Japonês”, da Banca do Japonês, em Vitória, Dona Lourdes, a viúva, e suas filhas continuaram a tocar a banca para a frente, num belo exemplo de fidelidade ao trabalho.
Agora falece Dona Lourdes, notícia que li através da coluna de Leonel Franca, n’A Gazeta.
Sempre fui freguês da Banca do Japonês. Mas depois que mudei da Praia do Canto para a Praia da Costa, deixei de ser frequentador diário. Mas é lá que continuei comprando o “Sete Dias”, de Cachoeiro de Itapemirim, e algumas outras publicações ausentes das bancas em geral.
Sempre vi o senhor Flávio e sua esposa Dona Lourdes como um casal paradigma, em matéria de amor ao trabalho. A Banca estava sempre aberta, desde o alvorecer até o romper da noite.
Seu Flávio e Dona Lourdes conheciam os fregueses e sabiam das manias individuais. Havia um jornal que eu comprava uma vez por mês por causa de um suplemento. Havia outro jornal que só me despertava atenção num dia da semana para ler a colaboração habitual de um determinado articulista. Eu não precisava me preocupar. O casal tinha um computador na cabeça. E ainda sabia dos assuntos que interessavam a seus fregueses. A mim mais de uma vez foi dito, com um ar de inocência, quase de ternura, para não parecer indiscreto: “tem uma reportagem em tal jornal ou em tal revista que eu acho que é de seu gosto”.
A “Banca do Japonês” é um exemplo da chamada “pequena empresa”, esta que, a meu ver, é a mais importante para o futuro do Brasil. A pequena empresa assegura a distribuição da riqueza. Sua ampla difusão é muito mais relevante do que o ilusório crescimento do Produto Interno Bruto. De que vale um imenso PIB nas mãos de poucos ou nas mãos de empresas estrangeiras?
Gosto de ler jornais. Nos dias úteis, quase sempre só dá tempo para a leitura dos locais. Nos sábados e domingos, os locais e os nacionais. Gosto também das revistas e jornais alternativos, ainda indispensáveis, mesmo nestes tempos em que há liberdade de imprensa.
Não tenho o hábito de ler jornal pela Internet. Acesso alguns, criteriosamente escolhidos. Mas nada substitui o prazer de pegar o papel, sentir o cheiro da tinta, dobrar o jornal, virar as páginas ouvindo o doce ruído do manuseio. Sou, decididamente, um apaixonado por jornais.
Vejo um pouco de televisão, quase sempre de pé, em posição defensiva. Na televisão, quem indica a importância ou irrelevância da matéria é o editor. Cinco minutos para um tema que não me interessa. Cinco segundos para um assunto que me desperta a máxima atenção.
No jornal, eu sou o dono do meu interesse. Posso desprezar a manchete de primeira página, em letras garrafais, e ler, cuidadosamente, um artigo ou uma nota não destacada da quinta página. E o mais interessante: posso interromper a leitura, levantar-me e dizer a minha mulher. Olhe aqui, veja isto, vou ler alto para você.
Nós não poderíamos ter acesso aos jornais, se não houvesse a figura do jornaleiro.
Os jornais, pelas mãos de seu Flávio e Dona Lourdes, tinham sabor de artesanato. Os jornalistas escrevem os jornais, os gráficos imprimem, um mundo de profissionais trabalha para que tenhamos nossos jornais circulando. Pessoas foram presas, mortas ou torturadas para salvaguardar a liberdade de imprensa.
Mas tudo seria incompleto se não houvesse o toque humano e direto do jornaleiro.
Jornais e revistas aproximam-se do público, conquistam seu interesse e simpatia pelas mãos dos jornaleiros.
Minha homenagem póstuma a Dona Lourdes, por sua vida, seu trabalho, sua dedicação.
Parabéns jornaleiros do Espírito Santo e do Brasil. Parabéns, pequenos jornaleiros, meninos que gritam pelas ruas o nome e as manchetes dos jornais.
Vocês, meus caros amigos, ajudam a politizar o povo, despertar consciências, distribuir cultura, prazer e recreação.
Sem jornais livres, não se faz História. Sem jornaleiros os jornais não circulam.
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