Domingo, 20 de julho de 2014 - 11h05
Bruno Peron
O Brasil viveu momentos de implosão interna e explosão externa durante a Copa. Enquanto as divisões do país distraíram-se pela exaltação nacionalista, telespectadores do mundo agitaram suas bandeiras para que seus times fossem vitoriosos. O planeta respirou futebol durante um mês. O país festeiro inspirou uma festa universal.
Quando digo que houve implosão interna no Brasil, penso, por exemplo, no viaduto que desabou em Belo Horizonte e vitimou passageiros de um ônibus. Lamento também a falta de segurança em zonas universitárias, como o assalto que pegou estudantes de surpresa no câmpus principal da Universidade de São Paulo assim que a noite chegou. Igualmente, as forças policiais preocuparam-se com furtos de bilhetes para os estádios do campeonato. E, acima de qualquer descontentamento, esteve o das famílias que se desabrigaram com o excesso de chuvas nos estados do Sul do Brasil.
Desastres naturais complementaram infortúnios humanos no ínterim em que o mundo todo esteve de olho na capacidade do Brasil para organizar um grande evento e na receptividade do país. Capas de jornais estrangeiros não deixaram de noticiar alguns pontos fracos da organização da Copa e de acontecimentos que revelam como o Brasil é. Por isso, turistas estrangeiros ouviram as recomendações de seus países para que aproveitassem sua viagem com segurança (USA Fora-da-Lei pediu que evitassem o aluguel de quartos no primeiro andar de hotéis, enquanto Cool Britannia pediu que tivessem cuidado com escorpiões da Amazônia). Não podiam esquecer, porém, que eles mesmos trouxeram barbarismo e selvageria, como o cool britannico comedor de orelhas e turistas que tentaram entrar nos estádios sem que tivessem bilhetes.
As divisões do Brasil são notórias: enquanto muitos só teriam condições de assistir aos jogos da Copa se ganhassem bilhetes, outros comemoram em clubes elitizados onde o preço de entrada e das bebidas seleciona. A única mistura permitida não é de classes senão do uníssono nacionalista. Este, porém, ao mesmo tempo em que integra torcedores de uma nação através do hino e da vitória de sua seleção, desune países que tinham condições satisfatórias para irmandade. É assim que a vaia ao hino do Chile antes do jogo com o Brasil causou descontentamento de chilenos com a falta de educação de segmentos da torcida brasileira. Há um conflito de valores entre ideais integracionistas na América do Sul e a exclusão de perdedores de um campeonato.
Além destes exemplos de implosão interna que houve no Brasil, menciono também o esfriamento dos protestos que tomaram as ruas no início da Copa. Até mesmo os manifestantes acabaram resignando-se às exaltações festeiras e nacionalistas nas cidades-sede dos jogos, embora alguns grupos tenham mudado sua estratégia de fazer reivindicações ao governo. Em vez de fechar vias públicas e enfrentar o sobreaparelhamento das forças policiais, eles lutaram por suas demandas através de frases irônicas, cartazes com imagens comoventes e vestimentas hilariantes.
Esta disposição dos manifestantes levou em consideração que o mundo inteiro esteve de olho no Brasil e que, portanto, nossa mensagem não poderia ser destrutiva e rancorosa. As sutilezas das reivindicações populares foram capazes de questionar os métodos da explosão externa de que o Brasil espera ser beneficiário. Basta que lembremos as campanhas de Lula e Dilma para promover o Brasil no exterior enquanto o investimento e o turismo são faces convencionais de desenvolvimento econômico.
Turistas estrangeiros são bem recebidos no Brasil, porém é necessário que o país acolha primeiramente seus próprios moradores e acredite neles. Portanto a maior campanha ainda está para ser feita no Brasil a favor de equidade social. Muitos acreditam que uma “reforma política” daria um grande passo. Tudo dependerá de que ela signifique.
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