Sábado, 8 de agosto de 2015 - 05h05
Nos jogos de futebol sempre aparece o gritinho, repetidas vezes, de “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor...” Até emociona, mas a cidadania orgulhosa do brasileiro fica restrita aos estádios.
Essa euforia precisaria ir além do futebol e alcançar ações coletivas no dia a dia. Reforça essa tese esperta contida na frase “o brasileiro não desiste nunca”. Isso serve para deixar-nos contentes e para ficarmos acomodados, mesmo diante de aumento de impostos constantemente para benesses daqueles que fazem essa apologia.
Com relação à frase em si, seria importante saber por que há o orgulho em ser brasileiro. Poderia ser por ter um país com distribuição de renda justa, sem disparidades galácticas entre ricos e pobres.
Poderia ser por viver num país onde se curasse uma dor com facilidade. Todos os dias as notícias dão conta de pessoas morrendo nas filas de postos de saúde e de hospitais, sem qualquer atendimento. O ápice nessa questão são pessoas com câncer sem os medicamentos e sem aparelhos para diagnosticar a doença.
Poderia ser por viver num país tranquilo – o que é apregoado pela mídia de modo geral, mas aqui morrem assassinados mais de 50 mil a cada ano. E esses números não diminuem. Não existe estatística aceitável sobre crime, mas aceitasse um quinto desse número, ainda assim seriam mais de 10 mil, número maior do que em centenas de partidas nos campeonatos nacionais de futebol.
Poderia ser por ter um povo bem-educado formal e de comportamento. Hoje, o dinheiro mais desperdiçado neste país é o investido na educação, porque nem ninguém está ensinando e ninguém está aprendendo nada. Os ensinos fundamental e médio no Brasil são uma vergonha.
Poderia ser o esporte a razão de tanto orgulho. Em todos os tempos de Olimpíadas temos poucas medalhas de ouro a mais do que o nadador norte-americano Michael Phelps sozinho. No Pan Americano que se realizou no Canadá agora em 2015, o Brasil tem um feito esplendoroso. Verdadeiro. Mas são esplendorosos com relação aos nossos resultados anteriores. Só que os índices que nos deram mais de uma centena de medalhas nos dariam, no máximo, umas duas em Olimpíadas.
Sobram os políticos. Ah! Sobre eles vale a pena mencionar que o povo não os suporta mais e vem reagindo. O ex-ministro Guido Mantega não consegue mais ir a locais públicos. A mídia sempre o defende e ataca a quem o hostiliza. Como outras feitas pela mídia nacional, essa defesa também é suspeita por demais. Mas, se os políticos podem ser aplaudidos quando deixam o povo satisfeito, a recíproca pode – e deve – ser proporcional.
Por enquanto, o orgulho de ser brasileiro fica adstrito aos clichês futebolísticos. O amor é subjetivo, e a Síndrome de Estocolmo pode explicar essa paixão pelo nosso país, por nós mesmos. Tudo bem quanto a não desistir nunca, mas é preciso transformar clichês em ações duras, constantes e solidárias.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
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