Segunda-feira, 24 de agosto de 2015 - 05h50
Na política, é incrível como os cenários mudam rapidamente. Veja bem: na semana passada, o peso de todos os problemas estava nas costas de Dilma Rousseff. Os protestos no Brasil demonstraram que algo muito mais profundo que uma “normalidade democrática”, defendida pelo governo, estava em andamento. Entretanto, o foco saiu do Planalto – e do impeachment – e agora se concentra no Congresso Nacional. Duas das figuras mais importantes do sistema bicameral foram indiciadas.
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o político mais polêmico do país, foi denunciado pela Procuradoria Geral da República por crimes relacionados à operação Lava-Jato. As acusações versam sobre corrupção e lavagem de dinheiro. De acordo com a Procuradoria, o deputado recebeu propina de contratos firmados entre a Petrobras e fornecedores da estatal. Na mesma barca, o senador – e ex-presidente – Fernando Collor de Mello, acusado de ilícitos semelhantes.
Cunha, de prontidão, negou os fatos a ele imputados e fixou que não sai da presidência da Câmara. “Eu não farei afastamento de nenhuma natureza. Vou continuar exatamente no exercício pelo qual eu fui eleito pela maioria da Casa”, afirmou. Convicto, acusa o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de conluio com o governo federal para tentar derrubá-lo. A bem da verdade, ele já sabia que a denúncia aconteceria. Foi por essa razão que cindiu com a situação, proclamando-se oposição.
Enquanto o colega peemedebista da Câmara passa por maus lençóis, outro, do mesmo partido, ri à toa após suar frio durante meses. Renan Calheiros (PMDB-AL) não apareceu como alvo das denúncias do Ministério Público Federal, ainda. Observando a turbulência vivida por Cunha, ele ensaia a reabertura do diálogo com o governo federal. Se antes o Congresso estava contra Dilma, agora o PT, apoiado pelo Senado, começa a articular a retomada do poder. Em uma semana, o impeachment se esvaziou. Para enterrar esta hipótese de vez, só o aval do Tribunal de Contas da União.
No primeiro semestre, Eduardo Cunha foi, inegavelmente, o político mais influente do país. Ele ainda não está acabado, mas a história mostra que processos de corrupção desgastam a imagem dos políticos gradativamente, mesmo que não haja condenação. Creio que o erro do deputado ficou claro: ir com muita sede ao pote. Seu desejo por protagonismo colocou um imenso alvo em suas costas. Conseguirá o presidente da Câmara se reerguer após a denúncia? Aguardemos os próximos episódios.
Fonte: Gabriel Bocorny Guidotti
Bacharel em Direito e estudante de Jornalismo.
Porto Alegre – RS
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