Quinta-feira, 29 de maio de 2014 - 15h06
Prof. Sílvio M. Nascimento[1]
As estórias (ou histórias?) aqui contadas se referem ao imaginário popular, fonte de tantas inspirações que o Vale do Guaporé e os seus encantos nos proporciona. O texto faz parte de um artigo científico escrito por mim para publicação em revistas de divulgação científica.
É do cotidiano dos ribeirinhos e habitantes de Costa Marques e da comunidade do Forte Príncipe da Beira, a tradição de narrar as mais diversas estórias que a Fortaleza inspira com seus ares de mistérios. São narrativas populares, cujas identidades, estão servindo de fontes que percorrem os caminhos dos símbolos, das imagens, das interações e subjetividades do mundo ao nosso redor.
O primeiro conto diz respeito à estrada de chão de barro batido, com seus 25 km de extensão, ligando Costa Marques à comunidade. Os mais antigos contam que é impossível trafegar à noite, sozinho, por aquelas plagas. Assombrações sinistras aguardam os mais incautos que, não raras vezes, insistem em viajar pela madrugada, a pé ou em suas magrelas pela escuridão da estrada.
O trajeto é mal assombrado em consequência das dezenas de mortes trágicas ocorridas durante o passado. Quem insiste em seguir, sente um peso estranho no bagageiro da bicicleta, mas o medo mórbido de olhar para trás impede de descobrir quem é o fantasma que pega carona.
Outra estória conhecida denota o perigo de passar em frente da entrada principal da fortaleza, simplesmente pelo fato de ter a desagradável companhia de uma mulher vestida de branco, provavelmente alguém que faleceu em época desconhecida, embora, não se tem conhecimento de algum morador mais desavisado que tenha dialogado com a fantasmagórica figura.
Deixando o sobrenatural de lado, há narrativas sobre o roubo de relíquias quando do abandono da fortaleza na última década do século XIX. Os canhões espalharam-se e chegaram até a serem vendidos a navios ingleses em Antofogasta, no Pacífico. É sabido pelos ribeirinhos que no interior da capela do Forte Príncipe havia um grande sino de ouro. A relíquia parece ter sido subtraída por algum viajante fronteiriço que por lá passou, antes da redescoberta do monumento pelo Marechal Rondon.
O ex-prefeito da cidade, o costamarquense Raimundo Mesquita Muniz, em suas viagens pela Bolívia, encontrou a aludida peça na cidade boliviana de Madalena. Pelos símbolos portugueses gravados nas abas da peça, o ex-alcaide acredita ser mesmo o sino desaparecido do Forte, com um detalhe apenas, a peça é de bronze, desmitificando a alegoria contada pelos beradeiros que, divagando pela imaginação, garantiam que o sino realmente era ouro até o badalo.
foto(Créditos: Joel Maria Rodrigues)
[1]Historiador formado pela UFRN, mestrando em educação pela UNIR e professor EBTT do Instituto Federal de Rondônia – Campus Ariquemes.
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