Quarta-feira, 24 de outubro de 2012 - 12h25
Por Marcos Coimbra
Correio Braziliense
As eleições de 2012 estão sendo uma desagradável surpresa para a maioria dos analistas da “grande imprensa”. Quase tudo que esperavam que fossem, elas teimam em não ser.
Ficaram atordoados com os resultados de 7 de outubro. Devem ficar ainda mais com os que, provavelmente, teremos no segundo turno.
Prepararam a opinião pública para a vitória de Serra em São Paulo. Quando, em fevereiro, o PSDB paulista implodiu o processo de prévias partidárias, fizeram crer que um lance de gênio acabara de ser jogado. Para sua alegria, Serra aceitara ser candidato.
Quem leu os “grandes jornais” da época deve se recordar do tom quase reverencial com que a candidatura foi saudada. Fernando Haddad, o novo poste fabricado por Lula, iria ver com quantos paus se faz uma canoa. Teria que lidar com o grão-mestre tucano.
Já tinham antecipado dias difíceis para os candidatos petistas com a doença do ex-presidente. Era, no entanto, apenas o desejo de que ele não tivesse condições de participar da campanha.
Quando Lula entrou em campo para melhorar as condições de disputa de seu candidato em São Paulo, ampliando o tempo de televisão de Haddad mesmo que às custas de uma coligação com Paulo Maluf, nossos argutos observadores decretaram que cometera um erro colossal. Que sepultava ali as chances de seu indicado.
Hoje, percebe-se que acertou no cálculo de que o verdadeiro campeão em rejeição na cidade é Serra e não Maluf.
Mas a grande aposta que não deu certo é a que fizeram a respeito do impacto do julgamento do “mensalão” nas eleições. Imaginaram que seria dinamite puro. Revelou-se um tiro de festim.
As urnas não evidenciaram a esperada derrota petista. E não é isso que aguardamos para domingo.
Ao contrário, as eleições de 2012 estão se mostrando muito positivas para Lula, Dilma e o PT. Foi o partido que mais cresceu entre os maiores no número de prefeituras, de vereadores, na presença em cidades grandes. Confirmando a vitória em São Paulo e nas capitais em que tem candidatos na liderança, está prestes a conseguir seu melhor desempenho em eleições municipais desde a fundação.
O inesperado dessa performance está levando esses comentaristas a interpretações equivocadas. Cujo intuito é diminuir o significado do resultado do PT.
A primeira é que o “grande vitorioso” destas eleições seria o PSB e seu presidente, o governador Eduardo Campos.
Com todo o respeito, é difícil incluir o PSB entre os grandes. Ganhou 435 prefeituras (no primeiro turno), metade das quais em cinco estados do Nordeste, mais de um quarto em Pernambuco e no Piauí. Como partido, permanece regional, acolhendo, no restante do Brasil, algumas lideranças que lá estão como poderiam estar em qualquer outro.
É do PSB o prefeito reeleito de Belo Horizonte. Mas ninguém que conheça a política da cidade atribui a essa filiação qualquer relevância na reeleição de Marcio Lacerda.
Resta a vitória de Geraldo Julio, no Recife, um feito para Eduardo Campos. O caso é que vencer na capital de seu estado está longe de ser um resultado espetacular para um governador competente.
A segunda versão equivocada é que “ninguém ganhou”, pois a alienação eleitoral é que teria sido a marca das eleições deste ano. Que as abstenções, somadas aos brancos e nulos, é que seriam as vedetes.
Não é verdade. Em algumas capitais, de fato houve um aumento expressivo desse agregado em relação a 2008. Como em São Paulo, em que foi de 24% para 31%.
Na média das dez maiores cidades brasileiras, no entanto, a alienação total aumentou pouco no período, indo de 23,5% para 26%. Na verdade, ela cresceu mais entre 2004 (quando era de 19,5%) e 2008, que de então para cá.
Ou seja: nem PSB, nem alienação, o maior vitorioso está sendo o PT. Se Haddad vencer, uma chave de ouro para Lula. Justo quando decretaram que enfraqueceria.
Mais uma vez, o que se vê é que o povo não dá a menor pelota para o que pensam os “formadores de opinião”.em jovens que tenham cometido atos criminosos, mas que teriam “propensão” ao crime.
Segundo o dicionário Houaiss, propensão significa “capacidade inata para (algo); inclinação, vocação, pendor.” Inato, de acordo com a mesma fonte, é aquilo “que pertence ao ser desde o seu nascimento; inerente, natural, congênito”.
Pela declaração de Serra, podemos entender que o candidato do PSDB acredita que determinados jovens, estudantes de escolas públicas, tenham tendência natural à criminalidade.
Por não estar relacionada às experiências, esse “potencial”, para ele, não poderia ser combatido apenas com medidas educativas – como as que propôs seu adversário Fernando Haddad na mesma ocasião –, mas com “monitoramento”.
Superada a questão da “propensão” criminosa, base de algumas das maiores atrocidades do século XIX, nos cabe imaginar quais seriam os critérios utilizados pelo Estado para identificar esses jovens. Certamente não seriam frenológicos ou genéticos, como a estarrecedora declaração nos faz imaginar.
Porém, qualquer critério que se proponha a identificar criminosos em potencial é necessariamente preconceituoso e autoritário. Dentro da escola, essa intenção assume uma proporção absurdamente perversa.
Não é o caso de entrar na discussão sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente ou das práticas da Fundação Casa. O que espero sinceramente é que esse tipo de proposta não esteja realmente no programa de governo do candidato tucano – se é que esse programa existe –, e que Serra volte atrás, reconhecendo que disse uma das maiores bobagens de toda a campanha. Depois, espero que esse tipo de “solução” seja cada vez mais rejeitada pela sociedade, e que os próximos debates eleitorais se deem em mais alto nível.
Fonte: Vi O Mundo com informações do Correio Braziliense
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