Quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012 - 17h11
ERCIAS RODRIGUES DE SOUSA
Procurador da República
Procurador-Chefe do Ministério Público Federal em Rondônia
Procurador Regional Eleitoral
Procurador Regional dos Direitos do Cidadão
Há tempos li a história de alguém que, em uma praia, cuidava de lançar novamente no oceano, uma a uma, algumas estrelas-do-mar trazidas pelas ondas e ali fadadas a morrer. Uma pessoa que o observava o censurou, alertando-o de que a praia estava coberta de estrelas-do-mar e sua atitude, embora louvável, seria absolutamente insignificante. Então aquele homem virou-se para o crítico observador, tomou um estrela-do-mar em sua mão, atirou-a de volta ao mar e disse: bom, ao menos para essa, a minha atitude foi absolutamente significante.
Escrevo essa reflexão enquanto assisto ao filme “A história de um massacre”, em mais uma madrugada em que perdi o sono. Trata da narrativa, a partir de memórias do general canadense Romeo Dallaire, sobre o massacre de Ruanda, no qual quase um milhão de pessoas, pertencentes à minoria Tutsi, foram mortos. Abandonado por todos, o general resolveu permanecer em Ruanda, salvando com isso a vida de mais de 30.000 pessoas.
Temos a tendencia de acreditar que os problemas serão todos resolvidos com grandes gestos, em atitudes cinematográficas. Com isso deixamos de adotar pequenos comportamentos cuja sedimentação, por repetição, poderia conduzir a transformações profundas.
As vezes nos perdemos na extensão dos problemas sociais, das desigualdades, das injustiças flagrantes em nossa volta, sem nos darmos conta de que as soluções passam pelo conceito de cidadania, uma construção tecida como que artesanalmente, a partir de atitudes e gestos os quais podem implicar mudanças quase imperceptíveis, mas que afinal serão como a trama compacta de um tecido, disposta fio a fio.
Certas pessoas, no entanto, têm uma ampla e incomum visão. Como pequenas formigas, insistem teimosamente em fazer do coletivo seu projeto de vida.
Transitou por uns tempos, aqui em Rondônia, alguém dessa rara estirpe. Sua vocação ficava imediatamente denunciada no traje humilde, na palavra mansa e no trânsito diuturno por assentamentos rurais, ocupações urbanas, casas de detenção e outros lugares onde houvesse uma injustiça a ser reparada.
Por força da vocação, fez da justiça entre os homens seu mote de atuação, como que anunciando a impossibilidade de se conceber uma justiça divina que não provocasse uma sede de justiça terrena.
Padre José Geraldo da Silva, o padre Juquinha, após cerca de oito anos, acaba de retornar para Mariana, Minas Gerais, onde certamente prosseguirá seu ministério salvador de corpos e de almas.
Em tempos de mercancia da fé e da capitalização política e econômica em agremiações religiosas empresariais, custa-nos a crer que possam existir pessoas com esse despreendimento.
Há, felizmente.
Verdade que ainda são “barro raro” ou, como se dizia antigamente, não “dão em pencas”.
De todo o modo é muito bom que existam esses poucos. Tomara que essa existência seja altamente contagiosa e transmissível por contato social.
As estrelas-do-mar agradecem. Os sobreviventes de Ruanda também. O povo de Rondônia, por certo.
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