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Opinião: 'O Dia do Mal'


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Professor Nazareno*

No Brasil, foi criado em 2009 o Dia do Bem. Várias ONGS, parte da classe política e associações beneficentes, que não têm muito que fazer, criaram esse dia com o intuito de oferecer cortesia com o chapéu alheio. Uma forma legal para se redimir publicamente das maldades cometidas diariamente contra uma população de pobres e miseráveis.  Uma pequena esmola da elite num vasto oceano de fartura. Afirmam que o Dia do Bem não é só doar alimentos, mas também fazer uma prestação de serviços oferecidos gratuitamente à comunidade como corte de cabelos, cadastros de senhas para os programas sociais do Governo, aplicação de vacinas, atividades esportivas dentre outras ações. Mesmo com esse dia, as mazelas crônicas existentes na nossa sociedade crescem absurdamente a olhos vistos. O óbvio é que se há apenas um dia para o bem, significa dizer que os outros 364 são do mal. Então, a solução seria criar um dia para o mal, os outros seriam do bem. Uma data única para a remissão dos nossos pecados.

Nesse dia, o Dia do Mal, os brasileiros fariam uma profunda reflexão sobre os seus mais variados problemas. Logo pela manhã, todos de mãos dadas se perguntariam para que serve o Poder Legislativo do país. Em Porto Velho, por exemplo, qual a função da Câmara de Vereadores além de respaldar bovinamente as decisões do Executivo municipal? Por que cinicamente e na contramão do politicamente correto em quase todos os municípios brasileiros aumentaram o número de vereadores? E o Poder Legislativo do Estado que serventia tem além de nos envergonhar nacionalmente? Ficaríamos também sabendo nesse dia que a função de todo policial militar é servir à comunidade como agente de segurança e não torturar presos. O Dia do Mal serviria também para fazer um mutirão e limparmos a cidade de Porto Velho das imundícies e carcaças de animais mortos. Por que será que esta cidade fede tanto a carniça e ninguém faz nada para limpá-la? Será que já nos acostumamos com tanta sujeira e lama?

No Dia do Mal, a maioria dos sites eletrônicos de Porto Velho, ao contrário dos principais jornais do Brasil e do mundo, não desejaria mais se transformar em noticiosos impressos. Quantas árvores não seriam poupadas para fabricar papéis? Os comentaristas desses mesmos sites fariam, enfim, as pazes com a Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Todas as escolas públicas da cidade teriam recursos de sobra para desenvolver suas atividades pedagógicas e os pais, maiores interessados na educação dos jovens, participariam diretamente da formação dos seus filhos. O eterno açougue João Paulo Segundo finalmente seria transformado em Hospital de Pronto Socorro e não haveria mais necessidade de trazer, a custo milionário e pago certamente com o dinheiro do contribuinte, emissoras de televisão de fora para denunciar o que todo mundo já sabia. A Unir, com toda certeza, usaria a data para mostrar competência aos vestibulandos e à comunidade. Pesquisa e extensão em vez de “só papel higiênico”.

Se as autoridades não criarem o Dia do Mal, a população devia se unir e criá-lo por conta própria. Haveria grandes passeatas pelas cidades e a Justiça daqui, como faz nos carnavais fora de época, interditaria várias avenidas que têm importância vital para os moradores só para realizar tal evento. Até a fumaça das queimadas tão comum nos “Céus de Rondônia” e que ninguém nunca sabe quem a produz nem de onde vem, diminuiria. Que dia memorável seria esse. O problema é que não seria distribuída nem vendida espécie nenhuma de droga nem de bebida alcoólica, como se faz todos os anos durante o carnaval. Tinha que ser algo voluntário mesmo. Também não haveria shows de dupla caipira do momento nem patéticos apelos fundamentalistas para atrair multidões de imbecis e alienados. Em Porto Velho, faríamos uma profunda reflexão sobre a tolice que fizemos de aceitar hidrelétricas em nosso combalido meio ambiente  para beneficiar os outros e construir ponte caríssima apenas para transportar mandioca.

Nesse dia, o povão não assistia ao BBB, não veria jogos de futebol e nem entraria em nenhuma Igreja para orar. Numa inédita concessão, os “poucos” maus políticos do Brasil e de Rondônia teriam permissão para usar esse dia, e só esse dia mesmo, para roubar dinheiro público à vontade, enganar seus muitos eleitores otários, tripudiar da população honesta que ainda resta ou aumentar mais a já pesada carga tributária do país. Todo mundo se lembraria do Dia do Mal como uma espécie de dia nacional de ação de graças. Algo inesquecível nos corações e mentes de cada brasileiro. Rondônia não seria mais conhecida como Roubônia e todo eleitor daqui pediria e conseguiria finalmente a cassação dos oito deputados propineiros. Caçar e cassar políticos seria um jogo que entreteria a todos. Até o PT governaria bem neste dia e os viadutos de Porto Velho, enfim, seriam terminados. O único dia do ano em que não seríamos governados por um blog nem por filosofias baratas seria o êxtase, uma espécie de apocalipse da felicidade. Alguém pode nos fazer isto? Mas há uma pequena dúvida: com tanta gente ruim e desonesta existente no Brasil o correto não seria “Dia do Mau”? 

*É Professor em Porto Velho

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