Segunda-feira, 29 de junho de 2015 - 06h50
Professor Nazareno*
O Brasil sempre foi um país fracassado em quase tudo. Em termos de lazer e cultura, por exemplo, todas as vezes se apresentou como um grande fiasco. Mas agora a situação nestes setores, como se fosse possível, está muito pior. No futebol, deixamos de ser uma potência já há um bom tempo. Desde a humilhante e mais do que justa derrota por 7 X 1 para a Alemanha pela última Copa do Mundo não tínhamos outra notícia tão boa como agora: graças a Deus, fomos eliminados da Copa América pelo Paraguai e possivelmente não vamos nem participar da próxima Copa na Rússia em 2018. O futebol, que ajudava a alienar as massas ignaras, perdeu totalmente o seu prestígio, a sua função e o seu valor com as roubalheiras colossais na FIFA e a prisão de vários dirigentes da entidade. Para enganar os trouxas, deve-se inventar outra coisa.
As festas juninas espalhadas pelo Brasil afora neste meio de ano bem que poderiam substituir o futebol no imaginário do povão. Existe coisa mais bisonha e absurda do que estas comemorações de São João? Aliás, ninguém sabe direito o que estas festas homenageiam. Geralmente são pessoas comuns fantasiadas de matutos dançando algo “sem pé nem cabeça”. Para que se fantasiar de jecas se já o somos? Em termos de vestimentas não há muita diferença entre os brincantes e as tolas pessoas que a eles assistem. Em Porto Velho, por exemplo, são as escolas que fazem seus arraiais todos os anos. “Arraiá do cumpade fulano, arraiá do cumpade beltrano”. Fala-se assim mesmo como se matutos fossem e escreve-se tudo errado como se precisassem de festejos idiotas e toscos para assassinar a gramática normativa da nossa língua.
O mais interessante nestas festas, no entanto, são as quadrilhas. Outra tolice sem tamanho fazer festa caipira para dizer que se tem uma: o brasileiro está tão acostumado com esta palavra, pois rouba e é roubado diariamente, que também não precisava se expor de forma ridícula só para dizer que pertence a uma quadrilha. Talvez seja mesmo um dado cultural que faz parte da nossa triste realidade. Tem quadrilha da Assembleia Legislativa do Estado, tem quadrilha da Câmara de Vereadores, tem quadrilha do Detran, tem quadrilha em tudo que é repartição pública. Por que não ter quadrilha nas escolas também? Difícil saber qual a mais atuante. Já as comidas típicas servidas nestes ajuntamentos de gente, geralmente à base de milho, são gororobas intragáveis e “crocantes” devido ao excesso de poeira onde são servidas. Para que higiene na roça?
E como tem muita gente, e eleitores, o Poder Público se faz presente e até patrocina muitas destas brincadeiras. Este ano o Flor do Maracujá, “o maior arraial sem santo” do Norte do país será realizado em julho em vez de junho e será no Parque dos Tanques, talvez para homenagear os desabrigados da última enchente histórica do rio Madeira. Nenhuma novidade se os festejos de São João em Porto Velho fossem realizados dentro do teatro estadual, assim ele teria alguma serventia. Afinal de contas o famoso arraial cedeu-lhe desnecessariamente o terreno. Com o aumento da gasolina, da energia elétrica, dos alimentos e da roubalheira do PT e dos governantes em geral, o brasileiro precisa de circo para esquecer suas mazelas e agora sem o futebol as preocupações oficiais aumentam: pode haver uma revolução de verdade. Ballet, quadrilhas, Boi, futebol, pamonhas e canjicas. É a cultura “entorpecendo” os incautos.
*É Professor em Porto Velho.
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