Domingo, 12 de julho de 2015 - 18h01
Bruno Peron
Para cada empreendedor exitoso no Brasil, há três burocratas retrógrados que cerceiam a liberdade e atrasam o país. A crise no âmbito de empregos – quer dizer, os 8% de desemprego e o desespero por benefícios – mostra claramente que a máquina pública incha com profissionais dispensáveis e onerosos para tirar dos poucos que geram riqueza e têm visão progressista.
É interessante notar, nesse meio político de tantos conflitos de opinião e decisões esdruxulamente mal tomadas, que a ministra da agricultura – Kátia Abreu – desafia práticas e costumes acomodados. Falo principalmente da crença de muitos – mas felizmente não a dela – de que se deve proteger a indústria nacional, se é que temos algum setor nela que valha mesmo a pena. Digo isso porque parte considerável do que hoje se classifica como indústria nacional é composta por empresas multinacionais que possuem fábricas de processamento de seus produtos no Brasil, como a Nestlé.
Com exceção de tecnologias em aeronaves, maquinários agrícolas e algumas outras, as tais indústrias nacionais brasileiras engatinham e, por vezes, fecham suas portas porque a tal da proteção às vezes se converte em cobrança de propinas. Isso se deve, por exemplo, às exigências rigorosas que fiscais de governo impõem a empresários brasileiros realmente dignos e à proteção de indústrias multinacionais que têm sucursais no Brasil. Ou é grande o suficiente para cumprir a lista enciclopédica de exigências burocráticas para funcionamento, ou paga as propinas, ou fecha as portas.
Temos, assim, um cenário optado e persistente de Terceiro Mundo. No Brasil, há proteção de indústrias nacionais acomodadas em vez de promoção de competitividade para que os preços baixem, os produtos tenham mais qualidade e o mercado ofereça mais opções aos consumidores. O caso da máfia dos táxis e do conflito com o Uber em cidades brasileiras ilustra bem meu argumento, mas analisarei este tema noutra oportunidade.
Logo se entende por que Kátia Abreu sugeriu, no início de julho de 2015, que a cadeia de produção não se limite somente ao Brasil. Ela defende um modelo aberto ao circuito global em que cada país tem vantagens competitivas em certos produtos e serviços. Do jeito que está, a indústria nacional vê mais facilidades para comercializar somente dentro do Brasil e barreiras burocráticas de todos os tipos para abrir-se ao comércio global.
Há, portanto, favorecimento de burocratas a marcas que trouxeram suas indústrias ao Brasil e a empresas nacionais de nomes fortes. Tal preferência não se faz somente com base em ideologias nacionalistas ou que imaginam aumento do nível de emprego. Ela realiza-se com a mão pesada do Estado em questões econômicas em que ele não se deveria meter, e com relações corruptas entre burocratas e empresários dessas indústrias nacionais.
As críticas e propostas de Kátia Abreu, apesar de centradas em agricultura, são oportunas para que pensemos no modelo de Brasil que queremos. Imaginamos para nós e as gerações futuras o Brasil dos carimbos e dos trâmites burocráticos ou o Brasil da escolha e da iniciativa livres?
Só para dar um exemplo, quem tiver a chance de entrar em supermercados de países mais desenvolvidos na América do Norte e na Europa ocidental observará um contraste com os de países explorados como o Brasil. Naqueles, há mais variedade de produtos, todos têm qualidade excelente, eles apresentam-se em quantidades grandes nas embalagens e têm preços mais baixos que os daqui mesmo que se produzam pertinho daqui. Até castanha-do-pará e banana se comercializam mais baratos lá que aqui.
No Brasil, vejo que esses burocratas corruptos, inúteis e vende-pátrias unem-se com os empresários das tais indústrias nacionais protegidas e riem da população brasileira. Vendem-se produtos cada vez mais caros, em quantidade menor (“agora com embalagem mais econômica”, “redução de 150g para 120g”), como se se tratasse de mudanças boas e vantajosas para os consumidores. Eles dão risada dos tupinicas, ignorantes que somos.
É nesse ponto que toca o receio de Kátia Abreu, de empreendedores pequenos e médios, e de outros tupinicas que se cansaram de ser enganados. Imagino que compartilho esse cansaço com você, leitor. Se a competitividade fosse maior, sem proteger o acomodado nem taxar o importado, teríamos redução de preços, aumento de opções e de qualidade.
Somos imensamente enganados por esse governo conluiado com o luxo e por burocratas que fingem promover o bem-estar geral, mas na realidade estão mais preocupados com a garantia do interesse próprio. A maioria dessas pessoas não tem vocação nem moral para trabalhar no serviço público.
O Brasil é desigual por escolha de sua gente em vez de fatalidade colonial.
Nós, tupinicas, somos transigentes demais. Ou palermas, melhor dizendo.
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