Terça-feira, 24 de maio de 2016 - 05h03
Por Jair Queiroz
Para a sociedade organizada, o uso de droga representa um grave problema. Para um dependente químico ela representa a única possibilidade da existência. Tirá-lo da droga, ou melhor, tirar a droga do dependente é uma ameaça à sua possibilidade de resistir à sofrida existência ancorada na droga, que mata aos poucos enquanto oferece um alívio ilusório para o vazio que assoma a cada pedra, cada carreira cheirada, cada trago, cada gole, cada pico.
Paradoxalmente a substância que proporciona o prazer é a mesma que conduz à degradação moral, social, psíquica, física, enfim, a destruição do ser. O retorno é quase impossível, exceto por um único detalhe: A certeza da “natureza divina no humano”. A droga não é “deus química” capaz de aniquilar a força divina no homem. Ela se aproveita das fraquezas que podem embotar-lhe a vontade, zombar dela, humilhá-la, mas não é capaz de apagar a centelha luminosa que permanece no interior dele. Quando essa centelha é realimentada a fogueira reacende e a saúde se restabelece. Para que isso seja possível é necessário que haja uma conversão, não necessariamente no sentido religioso do termo, mas uma conversão em si mesmo, um retorno ao EU verdadeiro, ao único lugar onde a felicidade é possível.
A função da droga para o dependente é proporcionar o esquecimento momentâneo de que ele é um ser que sofre e a única forma de afastá-lo dela é ajudando-o a remontar a sua vida a partir da elaboração da própria história, da compreensão das suas dores. Aliviado do sofrimento interno gradativamente a necessidade de consumir drogas vai desaparecendo. Seu pensamento vai sendo corrigido, o vazio existencial preenchido e a vida vai retomando seu curso. Não significa que todo sofrimento será extinto, mas que haverá uma nova compreensão dos conteúdos que fazem sofrer, proporcionando uma diluição das mágoas, sentimentos de rejeição, baixa autoestima, falta de perspectiva, além da aquisição de recursos necessários do ponto de vista psicológico/emocional/existencial e social, para os enfrentamentos que advirão. Essa nova dinâmica, esse novo olhar sobre si, os outros e o mundo, permite ao cérebro restabelecer o funcionamento do mecanismo de liberação de endorfina, dopamina, serotonina, acetilcolina e ocitocina, hormônios que têm a função de propiciar as sensações de bem estar e prazer.
Para se obter esse resultado algumas atitudes devem estar presentes na relação entre ajudador e ajudado. Dessas atitudes se destacam a aceitação incondicional, ou seja, o respeito à pessoa como ela é e como se apresenta, fragilizada, defensiva, cansada, desesperançada. É assim que ela chega e é assim que deve ser recebida e respeitada. Ela precisa ser vista, não apenas olhada; considerada na integralidade e não apenas aceita como mais uma ingressa num programa de tratamento; valorizada e não apenas quantificada para méritos estatísticos.
Outra condição é a empatia, isto é, a disponibilidade de estar com ela, sentir como ela, como se fosse ela, na pele dela, na alma dela, embora com a clareza de que não é ela. É palmilhar com ela cada passo da sua caminhada até ali, ajudando-a a remontar cada sensação, cada pensamento, revisar cada dúvida, cada medo, cada fracasso, e, por fim, a congruência, a autenticidade de quem se coloca por inteiro na relação, sem tecnicismos nem julgam entos, mas mostrando-se aberto para sentir, para emocionar-se com a emoção do outro e alegrar-se com a sua alegria. A magia da vida se reconstrói a partir do relacionamento interpessoal profundo e sincero.
Essa é a clínica da dependência de drogas, paradoxalmente simples e complexa. Simples pela naturalidade que se apresenta, complexa pela profundidade que atinge.
Jair Queiroz - Psicólogo Clínico, Diretor da Associação Casa Família Rosetta em Ouro Preto D’Oeste/RO.
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