Sábado, 31 de maio de 2014 - 09h01
Por Reginaldo Trindade[1]
Hoje não é 25 de setembro.
O trânsito em Porto Velho, em Rondônia ou mesmo no Brasil está tão violento que se pode dizer que temos uma verdadeira guerra em nossas ruas.
De fato. Estatísticas divulgadas por grande semanário apontou que, no Brasil, morre mais gente no trânsito do que por câncer ou em homicídios.
Segundo a mesma reportagem, um estudo do IPEA estimou em 40 bilhões de reais o prejuízo anual causado pelos acidentes no país.
A matéria termina com um dado perturbador:
“Em dezesseis anos, a Guerra do Vietnã foi menos letal para as fileiras dos Estados Unidos do que o vai e vem de veículos e pedestres consegue ser em um ano para o Brasil. O trânsito é o nosso Vietnã”.
O Instituto Avante Brasil elaborou, com base em relatório da ONU, um ranking de países com trânsito mais violento no mundo e o Brasil amargou um desastroso quarto lugar, ficando atrás somente de China, Índia e Nigéria.
O ranking foi feito em números absolutos, considerando a quantidade de mortes no trânsito. Dado o tamanho populacional relativamente pequeno do Brasil perante os gigantescos China e Índia, pode-se bem perceber a violência que nos aflige diariamente em nossas ruas e rodovias.
O mesmo instituto estimou em quase cinquenta mil mortes por acidentes de trânsito no Brasil em 2014. Ou seja, mais de quatro mil mortes por mês, mais de cem por dia, cerca de seis mortes por hora. Uma morte a cada dez minutos no país!
Foto ilustrativa: Eliênio Nascimento |
Claro que o governo bem pode objetar que tudo isso são números e estatísticas, os quais podem ter leitura diferente. Também se pode dar uma desculpa qualquer, coisa do gênero “o país está investindo “X” reais para melhoria dos transportes e rodovias etc”.
No entanto, precisamos mesmo de estatísticas para chegar à conclusão de que nosso trânsito é demasiadamente violento?
Em Porto Velho os carros conseguem capotar dentro da cidade, não raro no meio da quadra! Isso para ficar num só exemplo do quão imprudente é o volante de alguns condutores da capital.
Desnecessário dizer que um trânsito mais saudável é (ou deveria ser) um assunto que interessa a todos. Todos nós precisamos de um tráfego mais civilizado.
Mesmo quem não dirige, precisa – talvez até mais que os motoristas, já que, não raro, as maiores e mais graves vítimas são ciclistas e pedestres.
Até quem fica em casa e sequer vai às ruas com regularidade necessita urgentemente que o trânsito melhore. Basta ver que, de vez em quando, os acidentes vitimam as pessoas mesmo dentro de suas residências.
Logo, todos precisam fazer a sua parte nessa batalha...
Dirigir no trânsito de Porto Velho é uma atividade de razoável risco, quase como quem vai à guerra. Raramente quem dirige aqui não presencia, ao menos, um acidente por semana, às vezes até um (ou mais) por dia!!!!
Mesmo após o “desenvolvimento” decorrente das usinas do Rio Madeira, o trânsito na capital continua péssimo, absolutamente violento, quase assassino.
No fundo, o trânsito piorou depois das usinas. O aumento populacional fez crescer, naturalmente, a frota de veículos, sem o correspondente incremento da infraestrutura viária.
O resultado é de todos conhecido. Todos o sentem diariamente na pele, especialmente próximo das oito horas da manhã, ao meio dia e depois das seis da tarde.
Em Porto Velho, cruzar faixa de pedestre é quase uma roleta russa. As faixas de pedestres estão normalmente mal pintadas e, mesmo que estejam visíveis, nem motoristas, nem pedestres as respeitam.
Dia desses presenciamos um “motoqueiro” falando ou mandando mensagens através de seu celular com a motocicleta em movimento! Não tardará e o whatsapp, que liga o mundo inteiro através do celular, servirá para piorar, ainda mais, nossos já trágicos números no trânsito.
Noutro dia, havia uma propaganda do Detran no cinema. Isso é até interessante, principalmente se comparada com outras publicidades que são/serão feitas, ainda mais nesse ano eleitoral...
Gentileza no trânsito por aqui é artigo de luxo. Aliás, não apenas indelicadas, as pessoas estão absolutamente à beira do colapso com o volante às mãos.
Os brasileiros estão se matando (isso mesmo, se matando!!!!) pelas causas mais banais no trânsito. Não de acidente de trânsito, mas por perder a cabeça depois de uma “fechada” ou por alguma razão diminuta qualquer.
Como se a vida humana nada valesse. Como se as pessoas não pudessem errar de modo algum, sob pena de pagar com a vida. Como se o ser humano não fosse capaz de perdoar. Como se a chegada, alguns minutos ou segundos mais cedo em casa ou no trabalho, fosse mais importante que tudo isso.
As pessoas valorizam tão pouco a vida! Elas se esquecem que o Altíssimo legou a cada ser vivo do planeta, pelo menos, a dádiva mais sublime que existe na Terra: viver.
E as pessoas acabam se estressando e até se martirizando com as questões mais ínfimas em prejuízo do que verdadeiramente importa.
Por exemplo, em viagem com a família ou com amigos, não é incomum ver homens e mulheres, às vezes até crianças, dando mais valor aos contratempos próprios da viagem que à coisa mais importante que deveria mover seus corações no ensejo: estar com a família, estar com os amigos.
Talvez se tenha uma guerra das mais sanguinárias no trânsito de Porto Velho (de Rondônia, do Brasil!!!!) pela pouca importância que todos nós damos à vida.
E, daí, a enorme dificuldade de se obter algum avanço significativo, curando o trânsito e tornando-o mais humano e civilizado. A dificuldade maior, Senhores, é porque, antes de mudar o comportamento de motoristas e pedestres, teremos que mudar nossos próprios corações e mentes; e, para isso, infelizmente, temos severas dúvidas acerca da eficácia de qualquer campanha publicitária.
25 de Setembro é o dia comemorativo do trânsito no país.
Hoje não é 25 de Setembro. Nem que fosse. Haveria muito pouco a comemorar. Se é que haveria...
[1]Procurador da República. Responsável, no Estado de Rondônia,
pela Defesa do Povo Cinta Larga. Especialista em Direito Constitucional.
Fotos ilustrativas/Arquivo/Gentedeopinião
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