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UMA REPÚBLICA DE CARTAS


UMA REPÚBLICA DE CARTAS  - Gente de Opinião
  Edilson Lobo

 

“Cai o rei de Espadas

Cai o rei de Ouros

Cai o rei de Paus

Cai, não fica nada...”

A atual República do interino governo de Temer, parece ter se constituído num castelo de cartas, que a cada sopro da Lava Jato, vai se desintegrando.

Quando teve início o processo de "deduragem" por uma figura do meio político das mais abjetas, na verdade, um grande crápula da política nacional, o ex deputado federal Roberto Jefferson, por estar descontente com o quinhão que lhe era devido, oriundo da rapinagem que deveria ser fraternalmente partilhada com os envolvidos nos esquemas de corrupção no governo petista e seus aliados, teve início uma narrativa que aos poucos, foi penetrando no universo da maioria do povo brasileiro.

Essa narrativa ganhou mais ímpeto, maior densidade e foi cristalizada com um ímpeto avassalador,  com a Operação Lava Jato.

O PT ganha os holofotes da grande mídia e das redes sociais, com uma lente ampliada, a cada novo episódio de escândalo descoberto. Nesse sentido, seguindo a mesma narrativa,  passa a se constituir  numa sigla marginal, que se converteu numa quadrilha, numa facção criminosa. O Partido mais corrupto em toda história do País.

Hoje, petralha, denominação cunhada pelo jornalista Reinaldo Azevedo, é um termo pejorativo, atribuído aos membros do Partido dos Trabalhadores e a quem se considere militante ou simpatizante dessa sigla.

Particularmente, nunca embarquei nessa narrativa. O PT ao longo da sua trajetória, foi aos poucos, entre erros e acertos, se desfigurando, se distanciando dos seus propósitos originários.

Entregou-se a ordem vigente, como qualquer outro partido, agravado pela “traição” que fez, aos que acreditaram nele, nem tanto pelas mudanças estruturais que prometeu e não cumpriu, e mais, pela conduta moral e ética, tão preconizada quando na oposição e desrespeitada no exercício do poder.

Sou dos que entende, que o os governos petistas, não roubaram nem muito mais nem muito menos, que os governos anteriores.

Quem se ativer a um esforço mais aprofundado, um processo mais investigativo e consiga vasculhar documentos, publicações e jornais dos respectivos períodos em cada época, destituídos de paixões, verá que o que mudou foi o estilo. Os esquemas continuam os mesmos. Grandes grupos econômicos, financiando executivos e legisladores, em todas as instâncias, escalões e esferas de poder, para depois cobrarem a fatura. Exigir o seu quinhão no botim.

Obras superfaturadas; licitações fraudulentas; operadores entronizados em cargos estratégicos ou lobistas intermediando somas elevadíssimas de recursos, (onde Correios, Furnas, DNER, hoje DENIT, Petrobrás , Eletrobrás, Bancos estatais, etc, são  grandes exemplos); “laranjas” usados como testas de ferro para camuflar a roubalheira; depósitos em paraísos fiscais, sendo utilizados como instrumentos de lavagem de dinheiro sujo; emendas parlamentares que servem como sorvedouro de recursos, através de uma série de artifícios  e que dissimulam os desvios para abastecimento do caixa dois de políticos desonestos.

Esta é uma lógica, que persiste e continuará a existir, enquanto  prevalecer o atual modelo de financiamento de campanhas, e o modelo político/partidário,  exercido na estrutura vigente.

A prova inconteste de tudo isso, é o quadro atual  em que mergulhou a política brasileira, juntamente com os principais partidos que conformam a estrutura de poder, quer na esfera executiva ou legislativa, tendo o judiciário como coadjuvante.

A delação premiada de Sérgio Machado, a exemplo das demais, tem sido devastadora. Com precisão de detalhes, tem desnudado minúcias, das entranhas de um labirinto pouco desvendado, que são os descaminhos percorridos pela ação deletério,  de um agudo processo sistêmico de corrupção no Brasil.

O Cientista político Aldo Fonaziere, em um dos seus textos produzidos, afirma que  “A gravidade da delação premiada de Sérgio Machado deveria ter produzido o efeito de uma bomba termobárica sobre o governo e sobre o sistema político brasileiro.”  E continua, “Se a delação tivesse ocorrido durante o governo Dilma, a mídia teria feito uma enorme escandalização, mas agora não fez. A oposição teria saído a campo para exigir explicações, demissões, afastamentos, renúncias. A oposição de agora mal se pronunciou. Como entender essa situação anômala?”

Para Aldo, a vitória do golpe, foi também a vitória do cinismos e da hipocrisia. Nessa perspectiva, entende que nos ambientes cínicos, impera a desfaçatez, não havendo mais mesuras com a moral e os bons costumes e nem se quer os políticos se importam mais com as aparências.

Seguindo esta mesma linha de conduta, a jornalista Carla Giménez,  em texto publica no El País, menciona: “A traição de Machado é apenas uma das muitas que aparecem no enredo contado em capítulos pela operação Lava Jato que revela, de maneira nua e crua, a política brasileira”. Carla infere em seu texto que  “A cada nova delação fica claro que as negociatas entre o público e o privado vem de velhos carnavais, e não só na Petrobras... que desde 1946 o Brasil cobra o chamado “custo político” que moldava os orçamentos das empresas que negociavam com estatais, como a Petrobras. Um custo medido em “percentual de qualquer relação contratual entre empresa privada e poder público a ser destinado a propinas”,  ...  percentual de 3% em nível federal, de 5 a 10% no nível estadual e de 10% a 30% no nível municipal”.

Analisando todas essas articulações de clara promiscuidade entre o público e o privado no seu tempo histórico, é que ouso dizer, como já o fiz por diversas ocasiões anteriores, que esse engendramento urdido através de um pacto conservador da burguesia brasileira, alinhavado por cima, para entronizar o governo ilegítimo Temer, é tão somente uma acomodação de forças que pode não frutificar.

Esqueçam as manifestações que se colocaram como grande farsa contra a corrupção.

Cadê os panelaços, cadê os revoltados onlines? Cadê a grande mídia que aliciou diuturnamente as massas, concitando-as a ir para as ruas pedir a derrubada de Dilma, Lula e PT? Cadê os arautos da moralidade, da ética, que brandiam discursos inflamados, despejando um ódio mortal contra a facção criminosa petista?

Tudo não passou de um grande circo montado, para num arranjo golpista, apear do poder, um operador do sistema, que já não mais respondia aos reclamos e interesses da burguesia. Quer no âmbito local e suas frações, ou a transnacionalizada, manifesto à priori, no sistema financeiro global.

Para tanto, nada como legitimá-lo, com o aval do povo, clamando por um governo mais sério, mais honesto, menos corrupto, mais comprometido com os anseios da Nação e menos aliado com as aspirações esquerdizantes. Talvez este último, o que mais escancare o descontentamento antipetista, encarnado no “medo” bolivariano, na invasão do Foro de São Paulo e tantas outras sandices mais.

Ainda fazendo menção ao texto de Fonaziere, segundo este, “A grande mídia e boa parte da opinião pública, ambas desmoralizadas pelo monstro que ajudaram a produzir, procuram envernizar aquilo que não comporta nenhuma aderência a qualquer produto lustroso... Afinal de contas, a Dilma foi afastada e tenta-se dar a esse golpe desastroso para a democracia brasileira a aparência de normalidade.”

Não à toa, quando se faz críticas aos ministros do governo interino que caíram, delatados por se envolverem em corrupção e pede-se a saída de Temer, logo os outrora defensores  da moralidade e da defesa intransigente da queda de Dilma, pelas mesmíssimas razões, saem-se com essa: pelo menos, Ele não titubeou em demiti-los. Santa hipocrisia. Deslavado cinismo, para querer demonstrar uma falsa seriedade.

Os ministros caíram, não por uma atitude proativa de Temer, fora assim, se quer os teria nomeado, quando advertido dos riscos que corria, face o envolvimento dos mesmos nas trapaças da Lava Jato e outras manobras ilícitas. Cairam, face o imperativo que se impunha, a um governo que mesmo a despeito do golpe, precisa demonstrar ainda que sobre o manto da mediocridade e da indecência, uma aparente moralidade. 

Até quando o castelo se manterá de pé, só o jogo político, com seus pactos e interesses  inconfessáveis, poderá definir.

Edilson Lobo é professor do departamento de Economia da Universidade Federal de Rondônia – UNIR

E.mail: edilobo@bol.com.br

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