Domingo, 27 de agosto de 2017 - 19h01
Evandro Casagrande
Enquanto os produtores de cultura não se organizarem e juntos pleitearem apoio para seus projetos, não conseguirão atingir minimamente suas pretensões. E isso só acontecerá se todos remarem na mesma direção. Mas é preciso que, antes, dialoguem entre si sem pretensões individualistas e cheguem a um consenso sobre qual a melhor estratégia para atingirem propósitos coletivos. Qualquer tentativa isolada, fragmentada, está fadada ao insucesso.
É lamentável, mas a maioria dos que ocupam cargos públicos não tem afinidades culturais. Se pertencerem ao Poder Legislativo, essa índice ainda é maior. Ouçam como alguns deles falam em nossa aldeia e logo concluirão que são ignorantes além da conta. A simples pluralização das palavras, para muitas dessas “excelências”, é grego. Aí eu lhes pergunto: como uns caras desse naipe podem se sensibilizar por ciência, por arte? São nulidades carentes de autocrítica, que conseguiram aliciar outros ignorantes a votarem neles — entre eles, sejamos sinceros e justos, muitos de nós.
Tentar convencer essa gente da importância do saber, da necessidade do estímulo e da divulgação dos melhores talentos humanos é mesmo que falar com uma rocha. Não estão nem aí, não é a praia deles. Gente de pensamento pequeno, insipiente e incipiente, que vê sentido para a vida onde, no fundo, não há muito sentido ou até nenhum.
Por isso, artistas e demais intelectuais, unam-se com o objetivo melhorar nível cultural de nosso estado, e partam pra cima. Digam, sem medo de ser feliz, suas verdades em alto e bom som, e em letras maiúsculas, bem grandes. Busquem as mídias, alardeiem seus projetos, denunciem quando as autoridades procuradas lhes negarem apoio sem uma explicação convincente. É preciso criar um batalhão de soldados da cultura, de competentes e determinados combatentes que não se abatam com os obstáculos, que são muitos, e que estejam dispostos a avançar sempre. Se o apoio não vier de quem deveria vir, sejam criativos, tentem mostrar suas artes e suas letras onde for possível mostrá-las. Levem-na aonde o povo está. Que tal eventos em locais muito frequentados? Inclusive isso virou moda em bares e espaços públicos de São Paulo. Promoções culturais itinerantes pelo bairros da cidade também podem ser boa ideia a ser viabilizada. Para tal, não é preciso de ajuda financeira, basta boa vontade, voluntarismo; amor pela cultura, enfim.
Na semana que passou, foi constituído mais um Conselho de Cultura. E daí? Quantos conselhos desses já vimos nascer, e morrer sem dizer a que vieram? Muitos. Quantos cumpriram suas funções a contento? Nenhum. Será que esse cumprirá? Vamos torcer que sim. Ter esperança é preciso. Duvidar de sua concretização, também.
E não joguemos pedras apenas nas instituições públicas. As privadas também deixam muito a desejar. A maioria dos empresários parece não achar que o apoio à cultura é importante para imagem de suas empresas. Há também aqueles que criam instituições culturais com nomes pomposos, mas que simplesmente não funcionam, não justificam suas existências.
Enquanto a educação e a cultura não fizerem parte de modo destacado da vida de uma sociedade, ela será sempre menor, desqualificada, frágil, presa fácil para espertalhões que fazem um discurso enganoso para, depois, quando conseguem seu intento, locupletarem-se o quanto podem do bem coletivo. Povo que impõe respeito é aquele que sabe pensar, discernir entre o verdadeiro e o falso, sobre o que lhe serve e o que deve ser rejeitado, e se posicionar sobre essas questões.
Uni-vos, pois, pessoas de boa vontade, cidadãos e cidadãs comprometidos com o melhor destino de sua gente, para enfrentar a deletéria ignorância que tanto tem prejudicado nossa qualidade de vida. Ignorância que, insidiosa, está sempre a postos com seu exército de despreparados estabelecendo essa inversão de valores que aí está.
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