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Vítimas e algozes



Lisboa, 1908. O coche do rei Carlos I transitava pelas ruas da capital com o toldo aberto, permitindo aos súditos da coroa uma visão privilegiada do soberano do país. Num período de turbulência política, o ato desafiou os partidos rivais da época, que espalhavam as fagulhas de um vindouro incêndio republicano. O rei desejava exibir uma monarquia coesa e interessada. Para tanto, ele posava junto de sua família: o príncipe Luís Felipe, herdeiro natural do trono, o príncipe Manuel, e sua mulher, a rainha Maria Amélia.

Conduzido de perto pela guarda monárquica, o coche adentrou a Praça do Comércio, então conhecida como Terreiro do Paço, um dos cartões-postais de Portugal. E ali, de soslaio, a família real sofreria um terrível baque. Das sombras, dois homens atacaram o veículo, atirando contra as figuras que o ocupavam. Faleceram o rei e o príncipe Luís Felipe. Manuel e Amélia sofreram ferimentos leves. Os atiradores foram mortos logo em seguida. Com o regicídio, o movimento republicano arrefeceu seus ânimos.

A morte do rei de forma tão covarde reavivou o sentimento nacionalista do povo português, que foi às ruas chorar o sangue derramado da Casa de Bragança. A rainha Amélia nunca se recuperou do atentado. Ironicamente, do quarteto que ocupava o coche, ela seria o último membro a falecer (1951), isto é, o pesadelo de suas memórias a perseguiria durante décadas. Manuel II, o último monarca de Portugal, ficaria no cargo apenas 2 anos, dando lugar à república, em 1910. Faleceu no ano de 1932.

Amélia ficou conhecida como “a rainha que jamais conseguiu perdoar”. Ela passou o resto de seus dias em Portugal refugiada no Palácio da Pena, o mais isolado castelo do Estado português. Com o fim da monarquia, partiu para o exílio na Inglaterra, mas não sem antes proferir as icônicas palavras. “Quero bem a todos os portugueses, mesmo àqueles que me fizeram mal”.

Há Amélias espalhadas pelo mundo inteiro. Muitas vítimas, muitos algozes. A rainha de Portugal não conseguiu perdoar. Você perdoaria? Nossa espécie, ao longo da história, se especializou em matar, pelos mais diferentes motivos. Resta aos bons resistir. Resistir e remediar, pois o mundo continua. O erro dos outros acontece o tempo inteiro. Hoje os corpos da família real descansam em paz no Panteão dos Bragança, em Lisboa. Na morte, encontraram a tranquilidade que seus opositores não lhes deixaram ter em vida.


Gabriel Bocorny Guidotti

Bacharel em Direito e estudante de Jornalismo

Porto Alegre – RS

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