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Vivendo a morte. Morrendo a vida - Por Jair Queiroz


 Vivendo a morte. Morrendo a vida - Por Jair Queiroz - Gente de Opinião

Jair Queiroz

O título deste artigo foi tema de uma palestra que proferi por solicitação da ACESF – Administração dos Cemitérios e Serviços Funerários, órgão da Prefeitura de Londrina-PR e serviu de referência para um trabalho que objetivou o apoio aos servidores classificados como “profissionais do luto”, entre os quais é relativamente comum desenvolverem sintomas psicoemocionais ou psicossomáticos que podem lhes comprometer drasticamente a qualidade de vida, podendo evoluir para patologias mais graves. Partindo dele vamos discorrer sobre alguns tópicos que foram apresentados e que nos remete a um dos maiores causas da angústia para a espécie humana: a morte!

Durante séculos a morte foi tema de domínio exclusivo das religiões e era ritualizada através de cânticos, rezas, devoções, oferendas, jejuns e a marcação de um tempo determinado para a sua elaboração, período esse denominado “luto”. Cada cultura determinava seus ritos para se despedir dos mortos. Nas tradições cristãs era comum às mulheres vestirem-se com roupas e véus inteiramente pretos - simbolicamente a cor da morte - durante o período de um ano. Nesse período acreditava-se que o espírito do morto se libertava definitivamente da vida terrena e seguiria para descansar no berço eterno. A não satisfação dessa necessidade pelos seus legatários poderia aprisionar o espírito do morto e fazer com que ele permanecesse vinculado à vida terrena, interferindo no ambiente e sobre as pessoas a quem confiaram o luto.

Só nos anos sessenta, portanto numa época historicamente muito próxima aos nossos dias, o tema tornou-se objeto de estudo das ciências humanas e de saúde, mais especificamente da psicologia. Nasceu assim a tanatologia, termo que se reporta a Thanathos, a personificação da morte na mitologia grega. Dentre as propostas do estudo teórico da tanatologia estão a compreensão dos fenômenos envolvidos nos processos de luto, suas percepções a partir da cultura em que está inserido, as mudanças nas formas de compreensão de fenômeno ao longo da história humana, além das formas de promover o alívio do sofrimento à pessoa enlutada. Ensinam que fugir do luto pode ser perigoso, causar doenças psicossomáticas ou distúrbios de comportamento como alcoolismo e outros tipos de drogadição e até levar ao suicídio. O ideal é que seja vivenciado na sua intensidade, chorado, ritualizado, discutido etc, para que seja devidamente elaborado. Isso depende não só do tipo e intensidade dos afetos envolvidos na relação com o morto, mas também da qualidade da compreensão que se tenha do “evento morte” em nível de crenças, concepções culturais, do estado de saúde mental e física do enlutado e até das condições que cercaram a “passagem” do ente querido. Sabe-se que os lutos mais demorados levam em torno de um ano para sua total assimilação, exatamente como era estabelecido nos ritos do passado. O apoio psicológico nesse período em muitos casos pode ser determinante para a facilitação do processo. Mas se mesmo assim não houver uma significativa diluição dos sentimentos de perda, os cuidados devem ser redobrados, pois as possibilidades de somatizações também se dilatam e podem por em risco a saúde a até a vida da pessoa que sofre. Enfim, a morte, enquanto fenômeno, não é o fim de tudo, mas apenas a abertura para uma gama de possibilidades que podem ser saudáveis ou destruidoras. De concreto nessa área temos apenas a certeza de que a morte continua sendo a única verdade incontestável da espécie.

Jair Queiroz– Psicólogo Clínico

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