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Polícia

Corpos de militantes eram exibidos como troféus


Gente de OpiniãoLuciano Nascimento
Agência Brasil

Brasília – O ex-sargento do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna do 2º Exército em São Paulo (DOI-Codi-SP) Marival Chaves disse à Comissão Nacional da Verdade que viu corpos de militantes políticos sendo expostos como uma espécie de troféu de guerra. A declaração ocorreu na mesma sessão em que a Comissão da Verdade tomou o depoimento do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do DOI-Codi-SP, entre 1970 e 1974.

Ele relatou ter visto a cena envolvendo os corpos de Antonio Carlos Bicalho Lana e Sônia Maria Moraes Angel Jones. O episódio, segundo ele, ocorreu no final de 1973, quando Chaves, que integrou o DOI-Codi até o início de 1974, trabalhava como analista de informações. Ele narrou que “o casal foi trazido para o DOI [Codi] depois de morto e mostrado para o público interno. Eles tinham perfurações na cabeça, nos ouvidos, em vários lugares", disse Chaves, para quem o comando [a cargo do coronel reformado Brilhante Ustra], “era permissivo com este tipo de atitude”. 

Segundo Chaves, isto teria ocorrido também com Yoshitane Fujimori, outro militante cujo corpo também teria sido exposto dentro do destacamento. Chaves disse que quem estava em posição de comando "era o senhor da vida e da morte", pois escolhia quem iria viver ou morrer.

Chaves, que já prestou dois depoimentos espontâneos à comissão, disse que Ustra, cujo codinome era Doutor Tibiriçá, participava das sessões de tortura e que durante sua passagem pelo DOI-Codi teria implantado dois centros clandestinos de tortura em São Paulo: um na Serra do Mar e outro na Estrada de Itapevi, na Rodovia Castello Branco.

Na Serra do Mar, de acordo com Chaves, foram mortos Antonio Carlos Lana e Sônia Angel Jones. Conforme relato do ex-sargento, algumas pessoas mortas no DOI-Codi tiveram os corpos jogados no Rio Avaré, em São Paulo.

Chaves disse, aos membros da Comissão da Verdade, que não participava das sessões de tortura e citou o sub-tenente Roberto Artone, também integrante do DOI-Codi e homem próximo a Ustra, como uma das pessoas do núcleo duro da estrutura de repressão. De acordo com ele, Artone poderia dar informações sobre desaparecidos políticos.

Antes de prestar depoimento, Chaves relatou ter recebido cartas com ameaças. Em seguida, entregou o material com as supostas ameaças. Logo após o depoimento, a Comissão da Verdade ouviu o vereador de São Paulo, Gilberto Natalini, que confirmou ter sofrido torturas enquanto esteve preso no DOI-Codi pelo coronel Ustra.

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