Quinta-feira, 22 de agosto de 2024 - 11h23
Em alusão aos 18 anos da Lei Maria da Penha, comemorado em 7 de
agosto, a deputada estadual Ieda Chaves (União Brasil) promoveu o Painel
"Caminhos para a Transformação - Reflexões e Estratégias no Combate à
Violência Contra a Mulher", em Porto Velho, na quarta-feira (21). O
evento, que faz parte da programação da campanha "Agosto Lilás",
realizado na Faculdade Católica de Rondônia (FCR), contou com a presença de
convidados, acadêmicos e autoridades de diversas áreas.
Ieda Chaves, ao abrir o debate, abordou a violência contra a
mulher, destacando a importância de discutir e conscientizar sobre esse tema.
Além disso, reconheceu os avanços, como as medidas protetivas, mas lamenta que
a violência contra a mulher ainda seja uma realidade persistente no Brasil e no
mundo.
"Infelizmente, parece que estamos nadando e não saímos do
lugar, porque essa violência não diminui. E eu sempre digo, precisamos
conversar mais com os homens. Eu tenho certeza que eles não são contra as
mulheres e, sim, é preciso unir forças contra essa violência excessiva. O homem
tem a força bruta, a mulher tem outro tipo de força, e os dois juntos é o que
faz a diferença no mundo", disse Ieda Chaves.
Outro ponto abordado foi a criação dos filhos. Para a parlamentar,
é imprescindível que as mulheres (mães) e os pais tenham compromisso com a
educação dos filhos. "Temos uma responsabilidade gigantesca em educar de
forma correta, ensinar caráter e valores. Estamos lutando por vidas",
afirmou.
Contribuições e conhecimento
Entre as painelistas, estava a defensora pública Aline Dayane
Ribeiro da Luz. Ela abordou que, corriqueiramente, o tema "violência
contra mulheres e meninas" é um assunto que ainda interessa muito ao
público feminino e considera isso importante.
"Conhecimento é informação, é poder e protege. Então, na
medida em que as mulheres detêm um conhecimento maior sobre os direitos que
elas têm, sobre quais são os tipos de violência, sobre o que é a violência, que
não é só física, mas também psicológica, essas informações são disseminadas, e a
gente faz entender quais são todos os contextos de violência. Muitas das nossas
ações ou das ações dos homens são normalizadas nos nossos contextos sociais.
Quando a mulher adquire esse conhecimento, ela consegue buscar seus direitos e
fazer com que a violência seja diminuída", argumentou Aline Dayane.
Aline Dayane defende que palestras sejam direcionadas para homens,
que sejam ouvidas por homens, porque eles são os agressores. Ela destacou que o
Anuário da Segurança Pública com dados de 2023 diz que o Estado de Rondônia
está no topo como o que mais pratica violência contra mulheres e meninas.
"Além disso, Porto Velho é o segundo município em âmbito
nacional com maior número de estupros contra mulheres e meninas. No Brasil, uma
mulher é estuprada a cada seis minutos. É um dado muito triste e que tem que
nos leva a refletir sobre onde estão as nossas ações e para onde elas estão
sendo direcionadas", refletiu a defensora ao citar que há, ainda, o
machismo estrutural na sociedade.
Fenômeno mundial
Já a Dra. Flavia Shimizu, promotora de Justiça, destacou logo no
começo de sua fala que a violência contra a mulher é um fenômeno mundial e que
a mulher vive e morre com medo da violência sexual. "Nós não somos
assaltadas como os homens, nós não somos agredidas como os homens. Para a
mulher, sempre haverá o medo de seu corpo ser violado. Infelizmente, qualquer
mulher, qualquer menina, e todas as mulheres que estão aqui sabem disso",
contribuiu.
A promotora lembrou ainda que, no Brasil, a Lei Maria da Penha traz
de fato a discriminação positiva da mulher. Ela apresentou que, em sua vivência
criminal, numa vara de enfrentamento à violência doméstica, todos os dias ouve
sobre a vulnerabilidade da mulher, vídeos de homens agressores, tudo isso de
uma forma desigual.
"Nós precisamos desigualar para igualar. A vivência de uma
mulher é uma experiência tão mais difícil em relação à violência que foi
preciso uma lei com discriminação positiva. A lei desiguala para dar equidade,
porque a mulher tem uma situação diferenciada. Então, esse é o contexto;
precisamos desmistificar isso", completou Dra. Flavia.
Dados
Em Rondônia, foram registradas, entre 01/01/2022 e 15/02/2024,
mais de 40 mil ocorrências de violências física, sexual, moral, psicológica e patrimonial
contra mulheres e meninas rondonienses, segundo dados da Secretaria de
Segurança Pública de Rondônia (Sesdec/RO). A quantidade de denúncias feitas na
Justiça de Rondônia, no primeiro trimestre de 2023, por exemplo, é 153% maior
se comparada ao mesmo período de 2021.
Registros
O evento contou com a participação da coordenadora do curso de
Direito da FCR, Carolina Simões Correia; da coordenadora da Vigilância das
Violências e representante da SEMUSA no Conselho Municipal dos Direitos e
Defesa da Mulher, Itaci Ferreira; da presidente do Conselho Estadual dos
Direitos da Mulher (CEDM), Sandréia Costa. Outros órgãos e entidades parceiras
também foram representados.
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