Quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Saúde

Doenças erradicadas criam falsa sensação de que vacina é desnecessária


Em 2017, apenas a BCG, que protege contra a tuberculose e é aplicada ainda na maternidade, atingia a meta de 90% de imunização (Antonio Cruz/ Agência Brasil) - Gente de Opinião
Em 2017, apenas a BCG, que protege contra a tuberculose e é aplicada ainda na maternidade, atingia a meta de 90% de imunização (Antonio Cruz/ Agência Brasil)

Dados do Ministério da Saúde mostram que a aplicação de todas as vacinas do calendário adulto estão abaixo da meta no Brasil – incluindo a dose que protege contra o sarampo, doença que registra surtos em pelo menos três estados. Entre as crianças, a situação não é muito diferente – em 2017, apenas a BCG, que protege contra a tuberculose e é aplicada ainda na maternidade, atingia a meta de 90% de imunização.

A tendência de queda nas coberturas vacinais, segundo a pasta, começou a aparecer em 2016 e vem se acentuando desde então. Em 312 municípios brasileiros, menos de 50% das crianças foram vacinadas contra a poliomielite. Apesar de erradicada no país desde 1990, a doença ainda é considerada endêmica em pelo menos três países – Nigéria, Afeganistão e Paquistão – e ensaia uma reintrodução nas Américas caso a cobertura vacinal não se mantenha em 95%.

Em entrevista à Agência Brasil, a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, Carla Domingues, avaliou que o sucesso da vacinação no país ao longo das últimas décadas e a consequente erradicação de doenças criaram uma falsa sensação de que as doses não são mais necessárias. Outro problema, segundo ela, é a divulgação das chamadas fake news nas redes sociais e que, no caso das vacinas, podem causar alarde e assustar a população.

“Se não tivermos a população devidamente vacinada, poderemos ter o risco de reintrodução de doenças”, alertou. “Existe, por exemplo, um fluxo constante de pessoas viajando. Se pararmos de vacinar, uma pessoa doente chega ao país e o vírus tem a chance de voltar a circular. Enquanto a doença não for erradicada no mundo, precisamos da vacinação”, completou.
Sarampo

De acordo com a coordenadora, a situação do sarampo no Brasil é a que mais preocupa. Amazonas e Roraima, juntos, já registram cerca de 500 casos confirmados e mais de 1.500 em investigação. O Rio Grande do Sul também confirmou pelo menos seis casos. Países de alta renda, segundo Carla, “relaxaram” com a vacinação. Itália, Grécia e Bulgária são exemplos de nações com baixa cobertura vacinal para a doença.

“O sarampo é um risco concreto. Mais de 450 casos confirmados no Norte, em Roraima e no Amazonas. Há casos confirmados no Rio Grande do Sul. [Estamos] Investigando casos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Podemos ter uma retransmissão do sarampo em todo o país”, alertou. “Os próprios profissionais de saúde deixaram de achar que recomendação de vacina é importante”.

A orientação do ministério é que todas as crianças, adolescentes e adultos até 29 anos recebam as duas doses previstas para imunização. Adultos com idade entre 30 e 49 anos devem receber uma dose.

Campanhas

Até 2012, o Brasil realizava duas campanhas anuais de vacinação contra a pólio – época marcada pelo personagem Zé Gotinha. Atualmente, acontecem apenas as campanhas de vacinação contra a gripe e de multivacinação, quando as doses do calendário infantil que estão atrasadas são atualizadas. Entretanto, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde para situações de baixa cobertura, a pasta volta a realizar este ano campanha de vacinação contra a pólio e o sarampo.

As doses, segundo Carla, devem ser distribuídas em todo o país de 6 a 31 de agosto, no formato de campanha indiscriminada. Isso significa que todas as crianças com idade entre 1 ano e menores de 5 anos que procurarem os postos nesse período vão ser imunizadas – mesmo as que já haviam cumprido as doses previstas no calendário infantil. “Será uma oportunidade de dar à criança mais um reforço e aumentar a imunidade”, explicou.

Estratégias


Ainda de acordo com a coordenadora, a estratégia do ministério frente à baixa cobertura vacinal e aos recentes surtos registrados em diferentes regiões do país é a de mobilizar a sociedade e gestores para alertar sobre os riscos. Há situações, segundo ela, que envolvem, por exemplo, bairros específicos com baixa adesão às vacinas ou ainda problemas na hora de registrar os dados no sistema.

“A população só procura vacina quando o surto está na mídia e temos pessoas morrendo. Fora isso, as pessoas não são vacinadas. Como se a vacina fosse uma ação curativa e não preventiva. Ela deve vir antes do surto. É dessa forma que você ganha imunidade. Até porque a vacina vai demorar pelo menos 15 dias para fazer efeito e, em um surto, nesse espaço de tempo, você não fica devidamente protegido.”

Veja Mais

Gente de OpiniãoQuinta-feira, 27 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

ESTOQUE NO LIMITE: Banco de Leite de Rondônia pede reforço das doações no período que antecede o Carnaval

ESTOQUE NO LIMITE: Banco de Leite de Rondônia pede reforço das doações no período que antecede o Carnaval

O período de Carnaval, com o feriado prolongado que se aproxima, traz uma preocupação a mais para o Banco de Leite Humano Santa Ágata, localizado no

Saúde de Rondônia é destaque na região Norte com primeiro transplante de osso com cartilagem viva, realizado pelo governo do estado

Saúde de Rondônia é destaque na região Norte com primeiro transplante de osso com cartilagem viva, realizado pelo governo do estado

O governo de Rondônia, sob a gestão do governador Marcos Rocha, acaba de alcançar um marco histórico na medicina da região Norte com a realizac

Domingo de Fiscalização: TCE-RO detecta melhorias e aponta falhas em UPAs de Porto Velho

Domingo de Fiscalização: TCE-RO detecta melhorias e aponta falhas em UPAs de Porto Velho

O Tribunal de Contas do Estado de Rondônia (TCE-RO) realizou, neste domingo (23/2), uma nova rodada de fiscalizações em unidades de pronto atendimen

Gente de Opinião Quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)