Quarta-feira, 28 de abril de 2021 - 16h15
Bom, chegou o dia. A primeira consequência importante
de ter me tornado um sexagenário – 27/01
Soube que chegaram vacinas para a minha
idade ontem à noite. Confesso que não senti nada especial. É claro que eu
queria ser vacinado. Talvez por ter optado por seguir as regras de prevenção
desde março do ano passado, a vacina seria uma consequência natural. Até porque
o fato de estar vacinado não muda absolutamente nada em relação ao uso de
máscara, distanciamento ou isolamento social e o uso exacerbado de álcool em
gel. Minha rotina. Além de ir a lugares fechados como supermercados, farmácias,
padarias etc. somente quando necessário. Tudo igual. Ocorre que agora tenho um
seguro que pode aliviar ou neutralizar os efeitos, caso seja contaminado. Não é
pouca coisa.
É difícil valorizar algo que você ainda
não sentiu. Como efeitos de um câncer adquirido pelo hábito de fumar, antes de
acontecer. Não há efeitos imediatos, mas a longo prazo. E mesmo assim, pode não
acontecer. Se tudo é tão incerto, por que então não continuar fumando? Parei de
fumar quando entendi que a conta poderia chegar, há mais de 25 anos. Não
precisei passar pela experiência para saber que ela existe.
Não penso assim. Os 400 mil óbitos,
somente no Brasil; no mundo são mais de 3 milhões – incluindo parentes e muitos
amigos e conhecidos, pessoas famosas que admirava -, além de inúmeros
sequelados e terríveis efeitos colaterais - são mais que suficientes para não
arriscar. Nem precisava disso. As notícias alarmantes de fora do país, ainda em
março do ano passado, já eram bastantes para tomar a decisão de mudar a rotina,
com convicção.
A GRATIDÃO, que reitero agora, vai para
Deus, para os cientistas, para a imprensa, para os governadores, prefeitos,
empresários de insumos médicos e hospitalares, profissionais de serviços
essenciais, em especial, os profissionais da saúde, para a minha esposa Úrsula
por, além de acreditar na gravidade da doença, ajudar a suportar a rotina de
restrições, limitações impostas pela pandemia.
A gratidão às minhas filhas e filho e
amigos pela marcação serrada. E a todos que direta ou indiretamente
proporcionaram receber a minha dose de vacina. Objeto de desejo mundo a fora.
Desejo que todos possam receber a sua, o mais breve possível.
Tenho respeito pelo SARS-COV-2 e suas
variantes. E por respeitá-los, me submeti e continuarei me submetendo às
orientações pró vida, indicados por autoridades responsáveis preocupadas com a
vida da população. Aquelas que acreditam na doença e nos protocolos científicos
utilizados por quase todo o mundo, para combatê-la.
Lamento profundamente por aqueles que
não tiveram a oportunidade de receber tal insumo. Meus sentimentos a todas as
pessoas que perderam alguém estimado. Pesquisa recente, apontou que pelo menos
86% da população brasileira conhece alguém que morreu por Covid-19 no Brasil.
Uma verdadeira tragédia. Faço parte da estatística.
Acordei cedo, mais do que o habitual –
entre 4h e 5 5h -, 3h45min. Acredito que tenha sonhado com algo relacionado ao
assunto. Principalmente porque a vacina que me escolheu foi a Astrazeneca – a
minha preferida era a Coronavac. Há notícias sobre formação de coágulos em
vacinados na Europa. Alguns países chegaram a proibi-la. Depois voltaram a
autorizar a vacinação. No Brasil, não há nenhum caso que desabone a Astrazeneca.
Logo que soube que seria vacinado com uma dessas doses, fui mais uma vez para a
internet buscar informações para me tranquilizar. Encontrei o suficiente. A OMS
autorizou a vacinação de acordo com os riscos e benefícios. Já está mais que
comprovado que a Astrazeneca traz muito mais benefícios que riscos. Inclusive o
Ministério da Saúde autorizou grávidas e puérperas a se vacinarem com a
Astrazeneca, Coronavac e com Pfizer. Até aquelas com comorbidade.
Não há medicamentos sem risco, muito
menos vacinas. Sempre estaremos expostos a alguma consequência, mínima que
seja. Enfim, não temos escolhas quando há risco contra a nossa saúde, e no
caso, riscos contra a nossa vida. Risco real. Estamos há meses computando mais
de 3 mil mortes por dia, com picos de quatro mil.
Enquanto não chegava a minha vez,
vibrava com cada ente querido que tinha sido vacinado. Vibrava também pela
imunização de desconhecidos tanto no Brasil quanto no mundo. Pois quanto mais
pessoas vacinadas melhor para todos.
Fui até ao Posto de Saúde. Chegando lá,
percebi que não tinha tanta gente como imaginava. Sempre tive a impressão de
que a chegada da vacina atraísse mais gente do que a chegada do Papai Noel. Não
foi assim que aconteceu. Pelo menos hoje.
Posicionado a porta do Posto de Saúde
da Rua Senador Lemos, estava o Elias, para fazer a triagem, evitando
aglomeração dentro do posto. Me identifiquei, disse a minha idade – 60 anos com
orgulho -, e entreguei meus documentos: identidade, CPF e carteira do SUS, não
sem antes receber borrifadas de álcool em gel. Disse-me que somente eu poderia
entrar. A Úrsula, para fazer as fotos, só entraria no grande e esperado
momento.
Entrei. Vi meus pares. Todos com
máscaras. Até porque o Elias não deixa ninguém entrar sem a dita cuja. Ainda
não tinha me encontrado com tantos sexagenários de uma só vez. Fiquei
satisfeito, por ainda estarmos na flor da idade, querendo viver muito mais.
Todos querendo a Astrazeneca.
Cadeiras dispostas em filas, distantes
uma das outras. Local aberto, bem arejado. Creio que atendia às exigências de
distanciamento social. Fui informado para aguardar ser chamado.
Fiquei esperando. Enquanto isso,
passavam filminhos na minha cabeça. Estava prestes a ter o que muitos estão –
desesperadamente – aguardando, para ter um pouco de paz e tranquilidade. Ao
mesmo tempo, as lembranças do medo – sem causa – de agulhas. Há muito
tempo, em uma farmácia de Icoaraci, minha saudosa irmã Francisca me levou para
tomar uma injeção para aliviar e curar uma recorrente inflamação de garganta.
Corria dos vacinadores quando eles apareciam na Rua do Sol, na minha infância
em Tutóia. Ainda tenho marcas daquela época. Alguém tinha que me segurar para
ser imunizado. Não tinha a menor ideia do que era isso. Essas lembranças rondam
a minha mente quando é extremamente necessário tomar injeção. Me cuido para não
passar por isso. Prefiro pílulas, as engulo até sem água.
Na farmácia, com a mente tomada por
enormes agulhas, fui para o sacrifício. Sentei em uma cadeira. Minha irmã atrás
de mim, me dando força moral. O farmacêutico fez o ritual. Encheu a seringa com
o antibiótico, levantou-a até a altura dos olhos, apertou-a até sair aquela
gota tradicional. Depois, como dedo médio liberado pelo polegar opositor, bateu
na seringa de vidro com cuidado até a gotinha cair. Depois apontou-a para mim e
a enfiou no meu braço. E não vi mais nada. Depois soube que desmaiei. Coisa de
adolescente traumatizado pelas agulhadas de infância.
Pensava nessas coisas enquanto
aguardava a minha vez. Além da vacinação contra a Covid-19, crianças estavam
sendo também vacinadas – não sei contra o que. Só sei que a enfermeira, com
todo cuidado, enfiava aquelas agulhas nas coxinhas das crianças as quais
choravam desesperadamente. E eu pensava: já passei por isso. Depois elas
agradecerão a seus pais, assim como sou grato pelos cuidados que os meus me
proporcionaram.
Li algumas notícias no Blog do Reinaldo
Azevedo – lei matinal obrigatória. Mas não conseguia deixar de ouvir o choro
das criancinhas. E logo a minha atenção se voltava para a agulhada que tomaria
a qualquer momento.
De repente, ouvi o meu nome sendo
chamado. Chegou a hora. Levantei-me, imediatamente. Confiante. Sem medo. Pedi
para o Elias chamar a Úrsula para registrar esse momento tão importante para
nós. Ela veio e entramos juntos no ambulatório.
Perguntei para a Eliza o que
aconteceria se a ponta da agulha atingisse o osso. Ela disse, sorrindo, que
puxaria um pouco a seringa e continuaria o seu trabalho. Rimos. Baixou um pouco
a tensão. Por cautela, já que a imagem da agulhada de Icoaraci continuava me
importunando, pedi para sentar. Ela disse-me que seria como eu me sentisse
melhor.
Olhei para o lado oposto ao braço que
receberia o líquido da vida. Senti o friozinho do álcool limpando o local e
logo em seguida, a tão esperada e temida agulhada. O lado bom de pensar o pior
é que tudo não passa de ilusão. A seringa é fina, a agulha quase não se enxerga
e não há dor. E a pergunta com ares de surpresa: Já? Ela respondeu: Sim. Pura
tempestade em uma pequena seringa. Não há o que temer. O benefício vale à pena.
É vida sendo injetada como seguro.
Pedi para a Eliza posar para a nossa
foto oficial.
Peguei meus documentos e o recibo da
vacina com a data de 28/07/2021. Retorno para a segunda dose. Tomara que seja a
Eliza novamente. Estabelecemos um relacionamento imediato de confiança. Nem
precisei inspecionar se era mesmo a vacina contra a Covid-19, da Astrazeneca
que está sendo aplicada em mim. E ainda me disse que se sentisse alguma febre
ou dor de cabeça ou os dois juntos, seriam apenas efeitos colaterais normais.
Agora o melhor de tudo: não precisei
esconder de nenhum nagacionista que estou imunizado.
Assim, minha GRATIDÃO para o serviço
público de saúde de Tutóia pelo belo trabalho de combate a pandemia. Em
especial, aos profissionais de saúde Eliza e Elias que, em nome deles, presto
minhas mais sinceras homenagens a todos os profissionais de saúde e de serviços
essenciais de Tutóia. Pois sem o ótimo atendimento na ponta, todo o esforço de
pesquisa, produção e logística para trazer a minha vacina até a mim, e
recebê-la com dignidade, não teria sido uma experiência tão
gratificante.
O ano de 2011 terminou consagrador para o então prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho. Ele concluía o sexto ano de governo, porque fora reeleito
Três meses depois... dia 28 de julho de 2021 - Leia o texto sobre a primeira dose: Eu e a Astrazenca]Enfim, estou devidamente imunizado. Mas não tot
Como o menino tirou a água da canoa
Estamos no inverno. No dia anterior choveu bastante, inclusive na praia. Há muitas canoas lá. Nessa época o vento é fraco. Sem o vento forte do verã
Tutóia – um Paraíso no Maranhão, 17 de maio de 2021“Não tente achar um atalho, porque não há atalhos. O mundo é uma luta, é árduo, é uma tarefa pen