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Sérgio Ramos

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Tutóia – Um Paraíso no Maranhão, 10 de maio de 2021.

Não se discute o poder da solidariedade do povo brasileiro. Em tempos de pandemia que agravou a crise do desemprego, o qual agravou a qualidade de vida dos desempregados. Que, além de não terem mais os seus empregos, muitos também ficaram sem pai, mãe, filho, filha, irmão, irmã, cônjuge, parente, amigo, conhecido anônimo ou famoso como o Paulo Gustavo, que deixou o Brasil mais triste. E ainda com a impossibilidade de se reunir, abraçar e beijar pessoas que gostam e amam. Também sem comida, e o pior, sem esperança. Estamos com um pouco mais de um ano nesse estado e parece que sempre estivemos assim. Resultado da nossa capacidade de adaptação.

 

O Sars-Cov-2 não tem preferências. Assim, os empregados e empregadores também tiveram perdas, tanto quanto os desempregados e os que nunca tiveram empregos. Entre as perdas não está a falta ou perda de qualidade de alimentação. Certamente, há perdas, essa geral, de cunho psicológico. Afinal, também perderam alguém e estão sob os limites impostos pela doença.

 

Um em cada quatro brasileiros, perderam alguém muito próximo para a Covid-19, independentemente da posição social. Sete em cada 10, conhecem alguém que morreu por causa da doença. Uma tragédia. Há uma CPI em andamento para apurar responsabilidades. Hoje, o placar macabro é de mais de 420 mil mortes. No mundo, cerca de 3,3 milhões.

 

A falta de comida é crônica. Não é de agora que há inúmeras ações solidárias para aplacá-la. Governos e sociedade civil organizada e indivíduos diariamente se entregam a esse desafio permanentemente. Betinho é um ícone desses movimentos. Herbert de Souza, o Betinho, fundou a Ação da Cidadania em 1993, para reduzir a fome dos que viviam abaixo da linha da pobreza.

 

Felizmente, há milhões de “Betinhos” espalhados por aí. Ocorre que aumentou a demanda. E eles se multiplicam. Afinal, “Deus dá o frio conforme o cobertor”. Sabedoria popular inserida na poesia do saudoso Adoniran Barbosa. Será sempre assim. A solidariedade vem de fonte abundante. É inerente a nós humanos.

 

Os tempos são outros. As demandas se agigantaram. Se não bastasse a falta de comida, há também a falta generalizada de perspectiva, de tranquilidade, de paz.

 

Esse vírus é uma fonte poderosa de coisas ruins. Isso exige união das pessoas boas para combatê-lo. O Brasil é uma fonte interminável de pessoas boas. O mundo é uma fonte infinita de pessoas boas. Ao contrário do vírus, produzem coisas boas em quantidade suficiente para anular os efeitos das coisas ruins produzidas por ele – o coronavírus – e por pessoas ruins. Sempre foi assim. O mundo sempre produziu vírus e pessoas ruins. A produção de pessoas boas é maior. Por isso os problemas sempre foram resolvidos. Continuará assim. Questão de tempo. O problema é: quanto tempo?

 

A falta de alguma certeza de quando isso chegará ao fim, aumentou a demanda de pessoas que necessitam de ajuda psicológica. Diferentemente de ajudar os que tem fome, ajudar os que não tem perspectiva parece ser algo mais complexo. Afinal, isso é coisa para profissionais da psicologia. De fato. Por esse ponto de vista, alimentação seria coisa para profissionais da nutrição. No entanto, isso não impede ninguém de contribuir para alimentar os que passam fome. Assim, como sabemos e podemos alimentar os que precisam também sabemos acalmar os que necessitam de um pouco de atenção. Ou pelos menos tentar. Temos um pouco de tudo. Somos de certa forma, “clínicos geral”.

 

Aos famintos damos alimentos. Aos sem perspectiva, damos afeto. Isso podemos fazer. Na verdade, já fazemos. Agora precisamos fazer isso de forma consciente para poder ajudar mais pessoas.

 

Ligar para uma pessoa é mais barato que comprar um pouco de alimento. Ao entregar um pouco de comida, também entregamos afeto, entregamos perspectiva. Só precisamos nos conscientizar disso e melhorar essa ainda mais essa parte. Está nos versos de Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto - Titãs: “A gente não quer só comida”. Queremos também “saída para qualquer parte”, “diversão e arte”, “prazer pra aliviar a dor” entre outras justas reivindicações.

 

A história da Preta, publicada no jornal O Estado de São Paulo, me chamou a atenção para isso. Sua história é só mais uma. O preocupante é o aumento da demanda, que exige que mais pessoas se engajem no trabalho solidário de ajudar outras a aplacar a fome de perspectiva.  

 

No caso da Preta, ela usa a sua própria experiência, as lições tiradas do seu particular desespero para matar a fome de alento, de esperança, de perspectiva de outras pessoas. Há motivos de sobra para aumentarmos a nossa oferta de empatia.

Diene Carvalho, a Preta, após tentar quatro vezes tirar a própria vida, certamente porque o mundo fechou-lhe a maioria das portas, ajuda outras pessoas a também encontrarem suas respectivas “luz no fim do túnel”. Ela recebeu ajuda. Alguém a conduziu para que encontrasse uma porta, pela qual saiu e se recuperou. Preta sofria de Síndrome de Pânico. Uma espécie desse gênero é a ansiedade. O que não faltam são pesquisas que apontam a disparada de casos de ansiedade motivados pela pandemia e agravada por outros motivos.

Pelo menos 80% dos brasileiros, em pesquisa realizada nos meses de maio, junho e julho do ano passado, desenvolveram ou agravaram estados de ansiedade.

Preta é maranhense de Cururupu, cidade de 32 mil habitantes. Há muito tempo reside no Rio de Janeiro. Os médicos falavam para ela: “você só precisa ocupar mais a mente [...] sai, vai encontrar uns amigos que passa”. Não era bem assim. Agora, até sair para encontrar os amigos pode ser fatal. Podemos encontrá-los virtualmente. Fato.

Diagnosticada com síndrome do pânico, “ficou quatro dias sem forças nem para levar comida à boca. Não fazia sentido. Ela tentava ser clara com todos, organizada, metódica até, mas achava que ninguém a entendia de verdade”.

Era conhecida na faculdade de engenharia de petróleo como Sorriso. Continua sorrindo.

Os médicos justificando que ela precisava ser internada em um hospital psiquiátrico, escreveram na sua ficha: “paciente sem apoio familiar”. “Isso doía em mim [...] Caraca, achei que tinha uma família”, revelou Preta à reportagem.

Isso me faz lembrar de quantas famílias se desestruturaram, ou desapareceram; quantos órfãos surgiram.

Ah, claro, com esse apelido – Preta -, não poderia passar incólume sem a experiência devastadora do racismo. Venceu.

O ponto mais importante da matéria é como a Preta ajuda as pessoas. Descobriu a importância da conversa. Cita o Seu Roberto, que considera o seu Salvador. Segundo ela, Seu Roberto entendia suas dores e ela também entendia as dores dele. “Entendi que ser ouvido fazia bem para ele. As conversas com ele também faziam bem para mim”.

Se era para ocupar a mente, então por que não criar um projeto e ajudar jovens de uma favela? Surgiu Maküb Experiense. E sua vida mudou de vez. A vida de muitas pessoas também mudou.

Bom, o que podemos fazer para levar o nosso “quilo” de alimento espiritual a alguém que conhecemos? Provavelmente, você ao abrir suas redes sociais, encontrará notícias sobre mais uma morte de alguém conhecido, próximo ou não, e que certamente o entristece.

Seguramente, não é todo mundo que pode criar um projeto e contratar profissionais para ajudar pessoas, assim como a Preta. Também não é todo mundo que pode comprar centenas de quilos de alimento para distribuir. Nesse caso, podemos comprar um quilo e entregar a quem precisa. Felizmente, muitas pessoas já fazem isso. Sempre será necessário mais pessoas com esse propósito.

O que você pode fazer para ajudar pessoas a encontrar ou ampliar perspectivas?

E se for você mesmo que esteja precisando de ajuda? O segredo é pedir ajuda. A forma é a mesma: ligar para alguém. Se não tiver para quem ligar, pode ligar para mim: 98-98458-4783 e mesmo que para quem ligar e ainda assim quiser ligar para mim, seria ótimo.

A minha sugestão – como tenho feito -, é ligar para as pessoas para conversar, sem roteiro. Ouvi-las, sem julgá-las. Não importa há quanto tempo você não liga para ela.

Simplesmente pegue o seu telefone e ligue.

Ligar. Fazer uma chamada de vídeo de voz. Ligar se tornou um ato mais complexo do que enviar mensagens. Era o contrário. As ligações que tenho feito provam isso. São mais humanizadas, porque é possível captar e demonstrar emoções, o que enriquece a conversa. Tarefa mais difícil com mensagens escritas.

Uma ligação por dia ou três ligações por semana. Como se fosse um programa de exercícios físicos. Agendada. Um minuto para cada ligação. Tempo para dizer “Bom Dia!”, ou “Boa tarde!” ou “Boa Noite! E perguntar em seguida: “Como você está se sentindo hoje?” Tudo pode acontecer. Só precisamos ligar. Não tenho nada para dizer, você pode pensar. Não importa. Apenas ligue e siga algumas das sugestões simples para iniciar uma conversa. Para desenrolar um novelo de linha, basta encontrar a ponta e começar a puxar, não é verdade?

Consulte a agenda do seu celular e faça uma programação. Como se fosse um vendedor. Ao invés de oferecer produtos, ofereça afeto. Um produto muito valioso e escasso, que você pode dar, de graça. Deus sabe que é dando que se recebe.

Aos poucos, estou substituindo as mensagens de texto por ligações e assim expressar os meus mais sinceros votos de Saúde & Felicidade ao aniversariante. Ou para saudá-las e perguntar “Como você está se sentindo hoje?” Os resultados estão sendo incríveis para ambos.

Por enquanto ligo, no mínimo, para três pessoas por semana. O desafio é aumentar para no mínimo um por dia.

Chegará o dia que comemorarei 365 ligações durante um ano.

Se você ligar para alguém uma vez por semana, terá alegrado pelo menos 52 pessoas.

Se ligar para 3 pessoas por semana, poderá mudar a vida de 156.

Reiterando as palavras da Preta sobre as conversas com o Seu Roberto: “ENTENDI QUE SER OUVIDO FAZIA BEM PARA ELE. E AS CONVERSAS COM ELE TAMBÉM FAZIAM BEM PARA MIM”.

Não precisa ser nada especial. Ligue apenas para perguntar: COMO VOCÊ ESTÁ SE SENTINDO HOJE? Tente. Se já faz, amplie.

Mudar Para Viver Melhor.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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