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Viviane Paes

A morte inexplicável de Andrea Sofia! Essa história você não assistirá no streaming


Andrea Sofia e Viviane Paes - Gente de Opinião
Andrea Sofia e Viviane Paes

Em 24 de maio de 2021, uma brasileira de 51 anos é encontrada morta em um apartamento no centro de Miranda de Ebro, uma cidade espanhola da comunidade autônoma de Castilha e Léon, da província de Burgos. Mas, a família da goianiense Andrea Sofia dos Santos só ficaria sabendo do seu falecimento em março de 2022, durante uma troca de mensagem em uma rede social – entre amigas dela. Andrea Sofia era minha prima em segundo grau, uma entre dezenas de brasileiros que perdem a vida no exterior vítima de algum crime, ou por motivos injustificáveis ou inexplicáveis. Infelizmente essa estória você não verá transformada em um filme ou documentário de algum streaming, porque ela não era parente ou conhecida de nenhum político, de nenhuma celebridade ou de algum político de nosso País!

Andrea Sofia dos Santos morava há mais de 20 anos, em Miranda de Ebro, uma cidade do norte da Espanha que fica duas horas e meia de distância por via terrestre da capital Madrid.  Durante os primeiros meses de 2021 grande parte dos mais de 38 mil habitantes de Miranda de Ebro ainda cumpria medidas de contenção do tipo lockdown para prevenção e controle da pandemia da Covid-19. Minha prima Andrea estava desempregada e passava a  maior parte do tempo no apartamento da Calle de la Estación, centro comercial e bancário dessa localidade.

Em março de 2022, durante uma troca de mensagem com uma amiga de uma determinada rede social residente na Espanha, uma vizinha e amiga de longa data da família de minha prima Andrea que moram em Goiânia, perguntou por ela. Fazia muito tempo que Andrea estava ausente das redes sociais, não passava mensagens aos três filhos e nem atendia ligação de celular. Para total surpresa da Fabi – vou nomeá-la sem citar sobrenome, por questões de privacidade, a amiga dominicana da minha prima respondeu: Andrea Sofia morreu no ano passado! Você não sabia?! E, foi dessa maneira inacreditável que a família foi informada do falecimento.

Vocês provavelmente estão fazendo algumas perguntas básicas: por que os familiares demoraram tanto tempo para perceber o sumiço dela? Por que os amigos ou conhecidos dela na Espanha não avisaram a família no Brasil?

A partir daí que essa estória começa a ficar estranha e sem sentido algum. Os amigos da Andrea Sofia lá de Miranda de Ebro e das cidades vizinhas também descobriram sua morte, de maneira casual, seis meses depois e pelo tempo ninguém cogitou em avisar a família. Todos deduziram que no Brasil, os familiares foram informados do falecimento.

O que teria provocado sua morte? A Covid-19, ou outra doença que avançou rapidamente? Ela teria sido vítima de um crime?!

 As primeiras informações que a amiga dominicana repassou foi a de que Andrea havia sido encontrada caída próximo ao armário da cozinha, provavelmente quando tentava pegar algo na prateleira e teria tido um ataque cardíaco fulminante.


A inquilina de duas décadas

O apartamento não tinha sinais de arrombamento. Andrea Sofia morava sozinha há muitos anos. Ela não foi vítima de nenhum crime, pois não havia sinais em seu corpo de nenhuma agressão física. Quem a encontrou foi à dona do prédio, depois de sentir falta da movimentação rotineira no apartamento. Andrea e essa senhora desenvolveram uma certa amizade nessas duas décadas de convivência. Foi ela quem comunicou a polícia. Apesar dessa proximidade essa mesma senhoria – que estranhamente a amiga de Andrea não quis dizer nem o primeiro nome se recusou a falar sobre essa morte trágica com a família ou amigos da falecida alegando traumas psicológicos.

Por que amigos, ou conhecidos na Espanha não foram comunicados. Não houve nenhuma notícia desse falecimento nos meios de comunicação de Miranda de Ebro, apesar de ter havido outras mortes no período de estrangeiros que foram amplamente divulgadas nos portais de notícias. Eu, como jornalista que sou passei semanas pesquisando os veículos de comunicação e enviando e-mails para delegacias, jornais locais buscando o registro dessa fatalidade. Nunca tive resposta alguma...

O caso de minha prima Andrea Sofia é incompreensível não apenas pela triste morte sozinha, mas a ausência de registros básicos e comunicação às autoridades brasileiras. Posteriormente quando a filha da Andrea fez o primeiro contato com o Consulado Brasileiro na Espanha buscando a confirmação ou não do falecimento da mãe, recebemos um e-mail do Setor de Assistência aos Brasileiros do Consulado-Geral do Brasil em Madri comunicando que não houve nenhum registro oficial de óbito da cidadã Andrea Sofia dos Santos.

Pensamos na possibilidade de um engano, na verdade queríamos acreditar nisso afinal não era incomum que Andrea ficasse sem fazer contato algum por alguns meses. Através de troca de mensagens com amigos das redes sociais dela descobriríamos o mesmo padrão distante de comportamento.

Para nossa surpresa com o envio da certidão de óbito veio também informações conflitantes da morte de Andrea. A imprecisão do dia e mês do falecimento. O registro foi feito como 24 de maio de 2021,  no entanto, as primeiras informações que recebemos eram de que aparentemente ela teria vindo a óbito entre julho a agosto de 2021. A dona do prédio não quis nem falar o mês certo da morte.

 

Conhecendo Andrea Sofia

Até julho de 2022 haviam sido registradas 107.799 mortes relacionadas à pandemia da Covid-19, em toda Espanha. Nesse contexto a prefeitura de Miranda de Ebro elabora o Acordo número 2./2021, em sete de janeiro declarando o território da comunidade de Castilha e León em alerta de nível quatro da pandemia. Essa também foi à última informação que eu recebi da minha prima Andrea Sofia, em fevereiro de 2021, durante uma chamada via rede social, apenas voz - eu não tinha seu número de celular, ela comentou que não usava o Whatsapp. Depois descobri que na verdade ela não quis fornecer, pois utilizava esse meio de comunicação para falar apenas com os filhos e uma tia em Goiânia. Coisas de Andrea Sofia...

No final de 2020 ela me confidenciou o diagnóstico de esquizofrenia, que inicialmente não quis acreditar! “Eu maluca, no! – misturava o português com o espanhol em nossas conversas. Não queria contar nada para os filhos e a mãe, mesmo assim iniciou o tratamento médico... Ao menos foi o que afirmou na época. Não temos como comprovar isso também, pois não recebemos ou tivemos acesso ao registro policial do local onde ela faleceu, ou inventário de seus pertences, medicamentos que estava usando... Absolutamente nada!

Eu sou a única parente de Andrea que conheceu o apartamento onde ela residiu nos últimos 20 anos, na Espanha. Passei duas noites de agosto de 2006 com ela, um final de semana de folga do curso de verão da Universidad La Complutense de Madrid.

Eu e Andrea somos primas em segundo grau, convivíamos muito na infância porque minha mãe era muito amiga de sua mãe Zita e  principalmente de sua tia Sofia, que passou alguns meses morando conosco. Na adolescência tivemos pouca interação, pois eu já residia em Rondônia e ela continuava em Goiás.

Durante a visita, Andrea Sofia me convidou para tomar “unas copas”, umas bebidas, em um barzinho local próximo ao prédio que morava. Eu comentei que não tinha saído nenhuma vez para conhecer a vida noturna de Madrid, apesar de estarmos em pleno verão europeu! Os atentados no metrô de Madri haviam ocorrido um ano antes e em minha primeira viagem ao exterior, com um filho de um ano e meio que deixei com esposo e meus pais eu não queria correr riscos desnecessários!

Aí a Andrea disse: “isso não pode ficar assim. Vamos dar umas voltas nos barzinhos daqui, é muito seguro, todos conhecem meu noivo, não teremos problema algum!”. Eu não tinha levado roupa para sair à noite e ela me emprestou uma blusa e uma sandália de salto alto! Saímos e me diverti muito! Era o ano da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, e ela havia pedido que eu levasse uma camisa da seleção brasileira. Consegui uma blusa muito estilosa com a bandeira do Brasil que ela gostou bastante! Não por acaso escolhi uma foto em que Andrea está vestindo essa blusa para esse artigo que transformei também em um episódio do meu Podcast ViviCast: Sistematizando a Vida. Vejam um resumo em vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=TnPheaDss5A

Ouça o Vivicast: https://www.iheart.com/podcast/53-vivicast-sistematizando-a-v-103037419/episode/a-morte-inexplicavel-de-andrea-sofia-

Registros oficiais de Andrea Sofia

Inicialmente nos informaram que a morte dela teria sido por ataque cardíaco fulminante, no entanto, no laudo da autópsia enviado pelo Setor de Assistência os Brasileiros do Consulado-Geral do Brasil em Madrid foi registrado apenas causa natural. Juntamente com esse documento veio um ofício do Juizado de 1ª Instância e Instrucción de Miranda de Ebro comunicando ao Consulado Brasileiro os procedimentos necessários para família ter acesso aos documentos do sepultamento realizado pela prefeitura de Miranda de Ebro, no cemitério municipal.

Apesar de possuir residência fixa, portar documentos pessoais, passaporte – mesmo vencido, carteira de motorista Andrea Sofia foi registrada como indigente. Em casos de óbito em outros países, somente os familiares ou uma pessoa oficialmente nomeada por eles deve comunicar o consulado do país de origem. Em casos de morte como Andrea, as autoridades deveriam ter encaminhado o passaporte ao consulado para devidas providências.

Perguntamos por e-mail aos agentes do Consulado, o destino dos documentos pessoais e o aparelho celular da Andrea e eles informaram desconhecer o paradeiro deles.

E, assim se resumiu 20 anos de permanência de minha prima, uma mãe, uma sobrinha e uma irmã que morreu aparentemente sozinha durante a pandemia. Ela acabou sendo sepultada como indigente e os móveis, eletrodomésticos, roupas, sapatos, aparelho celular, passaporte, fotos, e até um veículo tiveram paradeiro desconhecido.

Por favor, curtam, deem suas opiniões e principalmente compartilhem muito esse artigo e esse episódio do Vivicast: Sistematizando a Vida para que outras famílias não sejam surpreendidas com a morte de um ente querido no exterior de maneira tão insensível e dolorosa! E, principalmente lembrem-se: a vida é uma vela que se apaga muito rapidamente! 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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