Sábado, 15 de maio de 2021 - 11h15
“Eu tenho medo de pegar esse vírus, porque tenho problemas
respiratórios e a medicina não sabe como esse vírus age dentro de cada pessoa.
Tenho medo de pegar isso e não saberem o que usar em mim e eu morrer. Eu
prefiro ficar na quarentena, já que eu posso, porque a gente pode pegar e ser
assintomático e passar para outra pessoa”. (Comediante Paulo Gustavo durante
uma live com a atriz Ingrid
Guimarães, em fevereiro de 2020)
“O Nélio era uma pessoa alegre e muito bom com outras
pessoas, independente de ser cidadão comum ou meliante”, compartilhou o APC
Nilton Cavalcante, amigo e colega de trabalho de Nélio da Costa Nunes, primeiro
policial civil do Estado de Rondônia a morrer em consequência da Covid-19.
(Entrevista realizada em 24 de março de 2020 via aplicativo de mensagem)
“Sei que amanhã
Quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha bom coração
Alguns até hão de chorar
E querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão
Mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora
Por isso é que eu penso assim
Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora... – Quando eu me chamar saudade – Nelson
Gonçalves. (Música compartilhada na rede social do estudante universitário
Jason Silva, em 20 de junho de 2020).
Um
desabafo
26 de julho de 2020. A namorada de Jason Silva,
Victória Libertad, minha filha, postou uma foto dele usando máscara de respiração
compartilhando com amigos e parentes que o estudante havia conseguido uma vaga
no Hospital Regional de Altamira, cidade da UHE Belo Monte, no Pará.
Jason estava a cinco dias buscando vaga na enfermaria
do único hospital público de atendimento da Covid na região. Tinha recebido o
diagnóstico e indicaram que realizasse o tratamento em casa. Dois dias depois
muito mal retornou para UPA próximo de sua residência. Recebeu medicação ficou
algumas horas e teve alta. Continuou sofrendo em casa, sem conseguir respirar
enquanto parentes e amigos buscavam uma vaga ou uma transferência para Belém.
Na segunda entrada na UPA foi encaminhado para o Regional. Um dia de tratamento
e foi intubado com 85% do pulmão comprometido. Menos de 24 horas depois deixou
de respirar...
Jamais conseguirei explicar para outro a dor que
senti ao ouvir por telefone a voz desesperada da minha filha quando descobriu
que o namorado havia falecido. Vamos dizer que Rondônia e o Pará nunca foram
tão distantes quanto nesse dia. Choramos juntos: eu, o pai e o irmão por ela,
por ele, por seus pais, irmãos e amigos!
Uma
entrevista
Em março deste ano iniciei a busca por personagens da
polícia civil que haviam morrido em decorrência do coronavírus. Eu sabia que
eles existiam, apesar da ausência nominal nos boletins diários da covid-19
emitidos pelos governos estaduais e municipais de Rondônia.
Pedi auxílio ao irmão do meu esposo, policial militar
casado com uma policial civil e ele me indicou o agente Nilton Cavalcante. “Ele
era amigo do primeiro PC que faleceu pelo coronavírus no Estado”, explicou meu
cunhado. Então, dois dias depois iniciei uma entrevista muito animada com o
Nilton, sem vídeo, só áudio, porque ele havia saído de um plantão e estava com
aparência “assustadora” brincou.
Uns vinte dias depois meu cunhado me passa mensagem
perguntando se havia visto as notícias sobre o Nilton. Ele também havia sido
contaminado pela Covid e estava em um hospital particular em São Paulo.
Enfim. Hoje, 15/05, ele ainda luta pela vida. Foi intubado
e extubado duas vezes, no entanto seu pulmão fragilizado pelo vírus ainda não
aguenta trabalhar sozinho. Ele lá, sua esposa e filho aqui realizando campanhas
para arrecadar recursos para bancar o tratamento. Na época em que Nilton foi
transferido, a fila de espera da UTI estava em mais de 100 pessoas!
Um famoso
Em quatro de maio, o corpo do comediante Paulo
Gustavo parou de tentar sobreviver após uma luta de mais de três meses, onde até
o OCMO – sigla para a Oxigenação por Membrana Extracorporea, cuja diária ultrapassa
os R$ 30 mil foi utilizado para substituir as funções pulmonares do artista por
alguns dias. Extubado, ele chegou a falar com a família e todos comemoraram sua
melhora. Dois dias depois a notícia de sua morte foi inaceitável!
Chorei, rezei e continuo em oração constante por
conhecidos, parentes e principalmente desconhecidos que estão lutando a cada
segundo para voltar a respirar sem equipamentos, depois normalmente – meses de
tratamento em casa para apenas voltar a viver aquela rotina de cada um!
Mas, não tem sido assim. Temos mortes e mais pessoas
sendo contaminadas. Temos doentes sofrendo pelo tratamento em casa ou em coma
induzido, intubado nos hospitais de campanha de todo o Brasil...
Devemos comemorar o “zero” caso na fila de espera de
UTIs, na maioria dos estados brasileiros. Sim e não!
Devemos ir aos
shoppings, bares, lojas e restaurantes abertos – liberados para atendimento
“normal”? Sim, vocês eu não!
Devemos frequentar academias, espaço de crosfit, artes marciais, piscinas e
praças? Sim, talvez vocês, eu? Não. Certamente. não.
Em Rondônia, menos de 10 por cento da população foi
imunizada.
As mortes por covid-19 ainda não zeraram, na capital
e na maioria dos 52 municípios rondonienses. O mínimo de vidas perdidas em um
dia, nos últimos meses foi de 12 pessoas... Sê fosse uma ainda é para mim, a
vida de um ser humano com parentes, amigos. Toda uma trajetória interrompida e
não importa a idade, estado civil, sexo, condição financeira. Vida...
Ontem, sexta-feira, o tio de um colega de trabalho de
meu esposo foi enterrado em Porto Velho, mesmo sendo morador do interior que
estava em tratamento da covid-19 em um hospital de campanha da capital. Três
pessoas, o sobrinho, um primo e um amigo iriam prestar as últimas homenagens a
ele, enquanto os demais membros da família sofreria a dupla ausência física e
espiritual.
Dá para entender que essa pandemia não acabou ainda?!
Que de quinta para sexta-feira: 46 vidas foram interrompidas em Rondônia por
essa doença cruel que está no matando física e espiritualmente?!
Eu optei por respirar – e sou do grupo de risco já
tive pneumonia e reinam as alergias nesse corpo que Deus me emprestou...
Respirar é o lema da minha família, não “festar só
com parentes”, “exercitar em grupo reduzido”, “passear ao livre sem máscara”,
“comer fora e não usar álcool em gel”, “abraçar porque já estou vacinado”...
Vontade não
nos falta, todavia temos algo latente em nós - que alguns no modismo chamam de
empatia! Eu digo: amor ao próximo seja ele conhecido como o Jason e o Nilton,
ou o desconhecido famoso: Paulo Gustavo.
Ame, respeite, cuide e vacine-se!
Como bem cantou Nelson Gonçalves:
“Me dê as flores em vida
O carinho, a mão amiga
Para aliviar meus ais
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade
Quero preces e nada mais..”
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