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Viviane Paes

Anjos e heróis da Covid-19: Policiais militares - Cabo Mello, o policial cantor!


Jonas de Mello Marques Moraes, o PM cantor - Gente de Opinião
Jonas de Mello Marques Moraes, o PM cantor

O povo brasileiro é no mínimo estranho para não iniciar com um palavrão!

     Quando lançaram o primeiro filme Tropa de Elite, que mostrava a realidade do serviço policial e como a rotina estressante afetava à vida familiar: salas de cinemas lotados para verem o Wagner Moura, usuário nada discreto de maconha arrasar na interpretação do linha dura e sistemático – amo essa expressão que me persegue, capitão Nascimento... Mas para por ai a admiração da maioria ao trabalho policial.

Porque seria diferente nessa pandemia da Covid-19?! Povão “bomba” nas redes sociais a ação louvável mesmo do Windersson Nunes em adquirir balões de oxigênio e incentivar outros artistas a fazerem o mesmo, na crise desse produto em Manaus. Essa mesma parcela da população passa os olhos nas notícias das mortes semanais de policiais militares, civis e do corpo de bombeiros – que atuam na “linha de chão” nesse mesmo período, no Amazonas e aqui em Rondônia não é diferente.

Estou tão afetada por saber que mais de 30 policiais militares rondonienses morreram em decorrência da contaminação do coronavírus que conversei com o editor desse portal de notícias, o Luka Ribeiro, e propus uma nova série de artigos como fizemos em fevereiro destacando diversos funcionários da Saúde, e saindo da temática da pandemia, em 2019 uma sobre a energia elétrica com a qual conquistamos o terceiro lugar no prêmio de jornalismo do Ministério Público Estadual.

Dessa vez vamos nomear alguns “irmãos de fardas” que estão virando estatísticas aqui e nos demais estados da federação. O negócio é tão assustador que em maio do ano passado a Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública elaborou o relatório: A Pandemia de Covid-19 e os Policiais Brasileiros. Confiram essa fonte: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/05/policias-covid-19-v3.pdf

O intuito da pesquisa que envolveu 1.540 policiais brasileiros foi de compreender qual a percepção destes profissionais sobre os impactos da crise em seu trabalho, bem-estar e modo de agir cotidianamente. Vale a leitura!

Cabo Mello, o policial cantor!

Terça-feira, 16/03, será uma data - infelizmente inesquecível para familiares e amigos do Cabo Mello. Ele entrou como mais um óbito da Covid-19, no boletim diário emitido pelo governo de Rondônia, mas não vamos deixá-lo mais assim e em reconhecimento aos seus 15 anos de serviços prestados à segurança pública do Estado e ao sofrimento imensurável da sua família nesse momento vou apresentar o Jonas de Mello Marques Moraes, o PM cantor.  (Peço desculpas aos leitores e aqui serei deselegante e cutucarei colegas de profissão que atuam na comunicação da Segurança Pública estadual: básico do jornalismo a conferência da grafia de nomes, né?! Na faculdade de jornalismo que não concluí me ensinaram isso. Nas redações dos jornais de RO e GO, onde atuei com profissionais em sua maioria sem diploma de jornalismo, mas formados em Direito, Letras, Matemática e outros cursos, a informação errada resultava em momentos de risadas, meses de “pegação no pé” e em demissão! Por favor, emitam uma errata sobre isso! A família merece e os veículos de comunicação que divulgaram o comunicado da morte dele também!).

 

Jonas (de Mello Marques Moraes) ingressou na corporação no concurso de 2006 e logo ficaria conhecido pelos futuros irmãos de farda como Mello, o cantor! No perfil de suas redes sociais, fotos com ele cantando em bares, casas de amigos e na própria residência são destaques. É lógico que os perigos iminentes da profissão eram limitantes de fotos fardados, mesmo assim aparece uma ou outra.

 

“O Mello era uma pessoa muito divertida, comprometida com as missões. Ainda no curso preparatório já demonstrava muita dedicação à profissão, mas não deixava de lado o cantor. Tirar serviço com Mello era garantia de diversão mesmo que a missão fosse complicada. Era conhecido pelo vigor e retidão no cumprimento do dever e sempre conseguia encaixar uma música para relaxarmos nos intervalos”, compartilhou um colega que não identificarei por questões óbvias.

 

O cabo Mello era lotado no 5º Batalhão de Polícia Militar (5ºBPM).

Aos 42 anos, 14 deles dedicados a PM, e tinha sido condecorada com duas medalhas, uma delas a de Dedicação à PM -1º Decênio.

 

Um gráfico assustador tem circulado entre os irmãos de farda, o de óbitos de policiais militares de janeiro de 2020 até 19 de março de 2021. As mortes referentes a fevereiro seriam de casos de Covid-19. Esse documento aponta em março, 13 mortes de policiais militares em decorrência do coronavírus. Do ano passado até hoje seriam: 58 mortes!

Anjos e heróis da Covid-19: Policiais militares - Cabo Mello, o policial cantor! - Gente de Opinião

Buscamos esse suposto gráfico no site da PM em Rondônia, no entanto, não aparece nada sobre esses dados que divulgamos avisando que não tem procedência reconhecida.

 

Informações assim são doloridas por dois motivos: as conhecidas “fake News”  e a segunda apenas pela possibilidade de ser verdadeira. O boletim diário divulgado pelo governo estadual sobre a Covid19, de 16 de março, registou 48 mortes, uma elas do cabo Mello, totalizando 3.464 vidas perdidas para essa doença somente na terça-feira.

 

Vacina para policiais... Agora não!

Fiquei surpresa quando constatei que os policiais miliares, os civis, e os do corpo de bombeiros – para ficar nos que formam a Unisp – Unidade de Unificada de Segurança Pública, ainda não começaram a ser imunizados em todas as unidades da federação!

 

O plano elaborado pelo governo federal deixou os policiais, mesmo os que atuam diretamente no enfrentamento da Covid-19 quase no final da fila da vacinação. Algo assustador porque centenas de policiais são obrigados a trabalhar expostos à contaminação diariamente. Esses mesmos trabalhadores retornam depois de operações de fiscalização das aglomerações em bares e restaurantes para seus lares e podem contaminar os entes queridos que também não sejam prioridades na imunização.

 

Por toda dedicação, amor à corporação e aos irmãos de fardas eu humildemente reconheço o sacrifício de policiais como o Cabo Mello e estendo meu mais profundo sentimento de gratidão e de respeito a todos os demais policiais militares! Também abraço a dor dos familiares e amigos que perderam não o policial, mas sim o ser humano!

Mello faça aquela festa no céu!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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