Sábado, 20 de março de 2021 - 13h57
O povo brasileiro é no mínimo
estranho para não iniciar com um palavrão!
● Quando lançaram o primeiro filme Tropa de Elite,
que mostrava a realidade do serviço policial e como a rotina estressante
afetava à vida familiar: salas de cinemas lotados para verem o Wagner Moura,
usuário nada discreto de maconha arrasar na interpretação do linha dura e
sistemático – amo essa expressão que me persegue, capitão Nascimento... Mas
para por ai a admiração da maioria ao trabalho policial.
Porque seria diferente nessa
pandemia da Covid-19?! Povão “bomba” nas redes sociais a ação louvável mesmo do
Windersson Nunes em adquirir balões de oxigênio e incentivar outros artistas a
fazerem o mesmo, na crise desse produto em Manaus. Essa mesma parcela da
população passa os olhos nas notícias das mortes semanais de policiais
militares, civis e do corpo de bombeiros – que atuam na “linha de chão” nesse
mesmo período, no Amazonas e aqui em Rondônia não é diferente.
Estou tão afetada por saber
que mais de 30 policiais militares rondonienses morreram em decorrência da
contaminação do coronavírus que conversei com o editor desse portal de
notícias, o Luka Ribeiro, e propus uma nova série de artigos como fizemos em
fevereiro destacando diversos funcionários da Saúde, e saindo da temática da
pandemia, em 2019 uma sobre a energia elétrica com a qual conquistamos o
terceiro lugar no prêmio de jornalismo do Ministério Público Estadual.
Dessa vez vamos nomear alguns
“irmãos de fardas” que estão virando estatísticas aqui e nos demais estados da
federação. O negócio é tão assustador que em maio do ano passado a Fundação
Getúlio Vargas (FGV) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública
elaborou o relatório: A Pandemia de Covid-19 e os Policiais Brasileiros.
Confiram essa fonte: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/05/policias-covid-19-v3.pdf
O intuito da pesquisa que envolveu
1.540 policiais brasileiros foi de compreender qual a percepção destes
profissionais sobre os impactos da crise em seu trabalho, bem-estar e modo de
agir cotidianamente. Vale a leitura!
Cabo Mello, o policial cantor!
Terça-feira, 16/03, será uma data -
infelizmente inesquecível para familiares e amigos do Cabo Mello. Ele entrou
como mais um óbito da Covid-19, no boletim diário emitido pelo governo de
Rondônia, mas não vamos deixá-lo mais assim e em reconhecimento aos seus 15
anos de serviços prestados à segurança pública do Estado e ao sofrimento
imensurável da sua família nesse momento vou apresentar o Jonas de Mello Marques
Moraes, o PM cantor. (Peço desculpas aos
leitores e aqui serei deselegante e cutucarei colegas de profissão que atuam na
comunicação da Segurança Pública estadual: básico do jornalismo a conferência
da grafia de nomes, né?! Na faculdade de jornalismo que não concluí me
ensinaram isso. Nas redações dos jornais de RO e GO, onde atuei com
profissionais em sua maioria sem diploma de jornalismo, mas formados em
Direito, Letras, Matemática e outros cursos, a informação errada resultava em
momentos de risadas, meses de “pegação no pé” e em demissão! Por favor, emitam
uma errata sobre isso! A família merece e os veículos de comunicação que
divulgaram o comunicado da morte dele também!).
Jonas (de Mello Marques Moraes)
ingressou na corporação no concurso de 2006 e logo ficaria conhecido pelos
futuros irmãos de farda como Mello, o cantor! No perfil de suas redes sociais,
fotos com ele cantando em bares, casas de amigos e na própria residência são
destaques. É lógico que os perigos iminentes da profissão eram limitantes de
fotos fardados, mesmo assim aparece uma ou outra.
“O Mello era uma pessoa muito
divertida, comprometida com as missões. Ainda no curso preparatório já
demonstrava muita dedicação à profissão, mas não deixava de lado o cantor.
Tirar serviço com Mello era garantia de diversão mesmo que a missão fosse
complicada. Era conhecido pelo vigor e retidão no cumprimento do dever e sempre
conseguia encaixar uma música para relaxarmos nos intervalos”, compartilhou um
colega que não identificarei por questões óbvias.
O cabo Mello era lotado
no 5º Batalhão de Polícia Militar (5ºBPM).
Aos 42 anos, 14 deles
dedicados a PM, e tinha sido condecorada com duas medalhas, uma delas a de
Dedicação à PM -1º Decênio.
Um gráfico assustador tem circulado entre os irmãos de farda, o de óbitos de policiais militares de janeiro de 2020 até 19 de março de 2021. As mortes referentes a fevereiro seriam de casos de Covid-19. Esse documento aponta em março, 13 mortes de policiais militares em decorrência do coronavírus. Do ano passado até hoje seriam: 58 mortes!
Buscamos esse suposto gráfico no site da PM em Rondônia, no entanto, não aparece nada sobre esses dados que divulgamos avisando que não tem procedência reconhecida.
Informações assim são doloridas por dois motivos: as conhecidas “fake News” e a segunda apenas pela possibilidade de ser verdadeira. O boletim diário divulgado pelo governo estadual sobre a Covid19, de 16 de março, registou 48 mortes, uma elas do cabo Mello, totalizando 3.464 vidas perdidas para essa doença somente na terça-feira.
Vacina para policiais... Agora não!
Fiquei surpresa quando constatei que os policiais miliares, os civis, e os do corpo de bombeiros – para ficar nos que formam a Unisp – Unidade de Unificada de Segurança Pública, ainda não começaram a ser imunizados em todas as unidades da federação!
O plano elaborado pelo governo federal deixou os policiais, mesmo os que atuam diretamente no enfrentamento da Covid-19 quase no final da fila da vacinação. Algo assustador porque centenas de policiais são obrigados a trabalhar expostos à contaminação diariamente. Esses mesmos trabalhadores retornam depois de operações de fiscalização das aglomerações em bares e restaurantes para seus lares e podem contaminar os entes queridos que também não sejam prioridades na imunização.
Por toda dedicação, amor à corporação e aos irmãos de fardas eu humildemente reconheço o sacrifício de policiais como o Cabo Mello e estendo meu mais profundo sentimento de gratidão e de respeito a todos os demais policiais militares! Também abraço a dor dos familiares e amigos que perderam não o policial, mas sim o ser humano!
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