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Viviane Paes

Dia Internacional da Mulher - Auxiliar técnica, cuidadora e espírita


Dia Internacional da Mulher - Auxiliar técnica, cuidadora e espírita - Gente de Opinião

17 horas. Maria das Graças já deu banho na mãe de 93 anos e a colocou para lanchar. Essa será a última refeição do dia, da idosa que sofre de Alzheimer e há mais de 30 anos fez uma reeducação alimentar. Foi assim que conseguiu controlar a diabetes e o sobrepeso. E são essas pequenas ações do cotidiano da mãe que a Graça – como é chamada pelos amigos, faz questão de manter desde o diagnóstico da doença degenerativa, há mais de 10 anos.

Viúva, mãe de quatro filhos, com netos e bisnetos no Brasil e nos Estados Unidos, assumiu a função de cuidadora da mãe juntamente com um irmão - que faleceu há dois anos, sem considerar o fardo pesado demais. E ele é! Segundo o IBGE, a população brasileira era de aproximadamente 205 milhões de pessoas em 2016; destes, cerca de 30 milhões eram idosos. Seja por fatores genéticos ou pelo desgaste natural do tempo, muitos desses idosos desenvolvem problemas de saúde, sendo o Alzheimer uma das doenças mais recorrentes.

Esses dados inspiraram diversos estudos no Brasil e exterior. Aqui, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), mostraram que 90% dos cuidadores é mulheres, e que elas dedicam período integral aos pacientes; todas moram com eles. “A situação gera sobrecarga que vai além de seus poderes; para piorar, acabam realizando tudo sozinhas, sem apoio de outros familiares ou com dificuldade em aceitar ajuda de outras pessoas”, destacou uma das pesquisadoras. https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/cuidadores-de-pacientes-com-alzheimer-adoecem-mais-facilmente/

Nas primeiras consultas com o neurologista e o geriatra que iniciaram o tratamento para retardar o avanço da doença, eles destacaram a  necessidade de ter mais de um responsável pela paciente para evitar sobrecarregar uma pessoa. Por esse motivo, Graça e o irmão revezavam os cuidados com a idosa e em seus momentos de folga ela aproveitava para viajar com um grupo de amigos aposentados pelo Brasil e até por países vizinhos como a Argentina. Futuramente, como orientado pelo médico, deverá contratar dois profissionais que irão se revezar em plantões de dia e de noite. Na fase mais crítica do Alzheimer, o paciente não consegue mastigar mais sozinho e nem controlar as necessidades fisiológicas.

Uma lutadora

Apesar da rotina de cuidadora e de dona de casa, essa é a fase mais tranquila da vida da Maria das Graças. Segunda mais velha de seis irmãos, ela já tinha idade para entender e sentir a perda repentina do pai. A partir desse momento a vida da roça foi deixada para trás. Sua mãe resolveu morar na cidade e por isso teve que dividir a família. Os quatro filhos menores foram para orfanatos, onde também estudavam. Eles saiam apenas nas férias e nos feriados. Graça e o irmão ficaram com a mãe porque já tinham idade de trabalhar e ajudar com as despesas.

Dessa fase, de trabalhar nas casas não tem boas recordações, apesar de não guardar mágoas. Espírita há mais de 30 anos aprendeu a perdoar, esquecer e seguir em frente de cabeça erguida, segurando o choro sempre!

Já adulta, casada, trabalhou numa estatal de telefonia como auxiliar técnica, sendo responsável pelo conserto dos aparelhos telefônicos que tinha como resultado os dedos da mão cortados na desmontagem e montagem dos equipamentos. No início da noite, já em sua residência dava início a outro expediente, o de dona de casa. Fazia o jantar, lavava a louça e ia dormir para reiniciar a rotina, na manhã seguinte.

Ela é a filha que sempre esteve perto da mãe, residindo na mesma cidade e até terreno, apesar do gênio forte das duas, não tem arrependimentos. “Eu vejo que é minha missão cuidar de mãe, todas as circunstâncias da minha vida me trouxeram a esse momento”, afirma sem lamentar.

Foi com a mãe, a cozinheira aposentada, que Graça desenvolveu o gosto pela culinária. Ama cozinhar para os amigos e familiares. É daquelas que sabe o que cada filho, neto, sobrinho e afilhada gostam de comer e eles sempre encontram o prato preferido quando vão visita-la, mas isso só quando tem tempo sobrando – que hoje é pouco e disposição também. É uma idosa, de 73 anos, lembra, apesar do rosto jovial e do sorriso contagiante.

As mulheres que são como Maria das Graças, a equipe do Gente de Opinião deseja Feliz Dia Internacional da Mulher com esperança de dias melhores para todos nós, no pós-pandemia!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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