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Viviane Paes

Dia Internacional da Mulher - Faz-tudo e condutora de transporte escolar


Dia Internacional da Mulher - Faz-tudo e condutora de transporte escolar - Gente de Opinião

“Tia tô com saudades de você me buscar e levar na escola”, essa é a frase que Cláudia Alves, condutora de transporte escolar há mais de 15 anos, tem escutado nos meses de pandemia. O áudio infantil queixoso a faz suspirar e relembrar com saudade a rotina intensa interrompida pela Covid-19.

Com a suspensão das aulas presenciais na rede particular e pública de ensino de Rondônia, depois da declaração de calamidade pública, os trabalhadores do transporte escolar tiveram que suspender as atividades e renegociar os contratos de prestação de serviços com os clientes. Mais de cinco mil famílias em 50, dos 52 municípios – que possuem prestação desse serviço foi prejudicada.

Para Cláudia a situação era triplamente crítica, o esposo e o filho também estavam atuando no transporte escolar complementando  a rota dela e realizando as deles, atendendo estudantes de pré-vestibular e universitários.

Rotina cronometrada

De segunda a sexta-feira, o dia da Cláudia iniciava às cinco da manhã, quando fazia a primeira rota do bairro novo até as escolas da zona norte da capital. 7h30 já estava em casa tomando café para em seguida iniciar o almoço. 11h00 o alarme do celular tocava e saía para buscar a turma de estudantes do período da tarde e deixava o grupo da manhã de volta ao bairro. 14h30 estava almoçando. Quando tinha tempo livre dormia até 17 horas, acordava para buscar os estudantes da tarde e os levava para casa. Final da rota: 19h30, sê não houvesse nenhum imprevisto, como alagamento das ruas por conta das chuvas, acidente no trânsito, atraso de algum aluno... Tenho certeza que você cansou só de ler essa rotina, né, imagina ela que deixava de conviver com a mãe, os irmãos e os sobrinhos no período letivo por conta dos horários apertados.

O estresse do trânsito, a responsabilidade com a segurança dos filhos alheios, dividida com as tarefas de casa e a maternidade – é mãe de dois rapazes, de 20 e 25 anos - que iniciaram a vida profissional como monitores da mãe, não tem comparação com a ansiedade dos primeiros meses da pandemia. “Nunca imaginei isso em minha vida. De repente fiquei sem renda e não sabia o que poderia fazer”, confidenciou a uma amiga. Cláudia é técnica em enfermagem, mas não exerceu a profissão. Algo que a desanimou no início da pandemia, mas não se sentia preparada para contribuir com um momento tão crítico da saúde mundial.

Dona de uma personalidade agitada resolveu fazer crochê para ocupar a mente e o corpo. O hobby aprendido com a mãe Maria Isabel, ainda na adolescência passou a ocupar cada vez mais horas de seu dia. O passatempo se tornou uma alternativa digna de renda. A motorista dedicada que aprendeu a dirigir na infância com o pai, que acalmava ao volante se descobriu uma artesã apaixonada!

Semanalmente entrega jogos americanos, de banheiro, de cozinha, tapetes de barbantes, e até bolsas para dezenas de clientes conquistados nos últimos meses e também os antigos do transporte escolar. É uma relação de muitos anos. Tem estudantes que começaram com ela na pré-escola e hoje já estão no ensino secundário.

Ela tem prazer em compartilhar em suas redes sociais suas conquistas, principalmente os aprovados nas faculdades em Rondônia e em outros Estados. “Eu pretensiosamente sinto que contribui com essa conquista. É como se todos fossem meus filhos ou sobrinhos que levei a escola diariamente”, comenta orgulhosa.

Cláudia é uma dessas mulheres que engana você pela aparência delicada e feminina, mas é na verdade forte e até um pouquinho “bruta”, entregam amigos e parentes.  Ela é uma verdadeira faz-tudo. A Van do transporte escolar dá um problema e ela já imagina o que pode ser, coisas de irmã de mecânico. A máquina de lavar parou de funcionar, revira e mexe até encontrar o defeito. Vê uma receita na televisão e vai fazer, dificilmente dá errado.

Mesmo sendo extrovertida, Cláudia tem um paraíso particular para fugir do movimento da cidade. Um sítio, com um riacho, onde consegue colocar os pés na água e relaxar sem preocupação com o horário, ou qualquer problema que a vida traz. Nesse local que compartilha com a família e os muitos amigos, desfruta de paz!

Vivenciando a Covid-19

Ainda no primeiro semestre de 2020, Cláudia foi contaminada pelo coronavírus. Nem imagina aonde ocorreu por não ter deixado o hábito de auxiliar parentes, amigos e conhecidos que precisam de transporte urgente. Não lamenta. Teve sintomas leves ficou em quarentena em um quarto de sua casa, onde recebeu todo tratamento indicado pelo SUS e o carinho do marido e dos filhos, que não foram expostos a doença.

Na última semana viu novamente a Covid-19 entrar em sua vida de forma assustadora. A sogra e um casal de cunhados foram diagnosticados e precisaram de internação por apresentar sintomas graves da doença. Cláudia tem apoiado esses parentes da melhor maneira possível e realizado orações para o retorno breve deles para casa.

As mulheres multitarefas que conseguem esconder uma guerreira por trás de um sorriso delicado igual ao da Cláudia, à equipe do Gente de Opinião deseja Feliz Dia Internacional da Mulher com esperança de dias melhores para todos nós, no pós-pandemia! Usem máscaras e cumpram o isolamento social.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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