Segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023 - 13h54
A fila significa uma sequência de objetos onde
o primeiro a entrar será o primeiro a ser retirado, ou atendido no caso de
pessoas. E, pasmem, porque eu não sabia, essa expressão simplesmente descreve o
modo de os indígenas andarem enfileirados pelas trilhas no meio da mata. Aí
agregaram o Indiana, a fila, mas não tem nada a ver com os moradores das
Índias, e sim com as populações nativas das Américas. Esse estilo de caminhar
era uma excelente estratégia de guerra para as tribos da América do Norte e
logicamente foi copiada pelos homens brancos!
Tudo isso para dizer que no Brasil, onde as
filas imperam seja para busca de emprego, vacinação, saque de auxílio
emergencial, atendimento no SUS, ou simplesmente para recadastramento de
transporte escolar, ela indica a classe social do indivíduo, sua educação, suas
origens e amizades! Afinal tem aqueles que não têm pudor em falar da própria
vida e de conhecidos nesses locais! E aí, vêm os impostos que pagamos,
altíssimos que também apontam que somos na pirâmide econômica e social do
Brasil! Eu sou Viviane Vieira, Sistematizadora da Vida, autora do VivicaCast e
vou mostrar para vocês como a fila e os impostos nossos de cada dia estão
interligados aqui e no mundo inteiro!
A fila do SUS e seus muitos impostos
Para os que estão por aqui comigo pela
primeira vez: sejam bem vindos ao VivicaCast. Eu costumo destacar o dia
comemorativo da semana do episódio do nosso Podcast, é hoje é dia 13 de
fevereiro, uma semana para o Carnaval, é o Dia Mundial
do Rádio. Essa data foi criada para conscientizar os
grandes grupos radiofônicos e as rádios comunitárias da importância do acesso à
informação, da liberdade de gênero e expressão dentro deste setor da
comunicação. E informação tem tudo a ver com as filas que enfrentamos no
Brasil e os impostos que pagamos, na verdade a desinformação!
Para falar da fila e dos impostos nada melhor
é mais conhecido do que a fila do Sistema Único de Saúde – o SUS. Ela é uma
situação recorrente no sistema de saúde brasileiro há anos e aponta uma questão
importante em relação ao sucateamento e baixo investimento no setor entra
governo e saí governo.
Você sabe de onde vêm os recursos que mantem
o SUS?! Não! Já teve interesse em descobrir, ou se já sabe, ficou surpreso
quando soube que o Brasil é o único país, com mais de 200 milhões de habitantes
que oferece atendimento médico gratuito! Quer dizer mais ou menos de graça, né,
afinal ele é mantido com contribuições sociais de patrões e empregados, no caso
do Instituto Nacional do Seguro Social, o INSS, para quem trabalha com carteira
assinada. Os municípios são obrigados a destinar
15% do que arrecadam em ações de saúde; e os governos estaduais, 12%. Ou seja,
quando compramos nos supermercados, ou mercadinhos dos bairros aqueles impostos
embutidos no preço de produtos e serviços: ICMS, o IPI – imposto de produtos
industrializados, o COFINS – imposto sobre o lucro e os mais conhecidos pela
população no início do ano: IPVA e IPTU estamos pagando pelo atendimento dito gratuito
do SUS. A diferença é que não pagamos aquele valor salgado mensal do plano de
saúde! Essa mensalidade sai diluída de nossos bolsos.
Tentarei explicar a fila do
SUS, segundo informações disponíveis que peguei do site do Ministério da Saúde.
Quando alguém precisa ser atendido em alguma
especialidade médica em sua cidade e não possui atendimento, essa mesma pessoa
entra na fila de regulação do SUS. O
problema é que este procedimento pode gerar uma longa espera. Isso porque o
indivíduo passa a disputar uma vaga para aquela modalidade em algum outro
centro de referência com outras pessoas que se encontram na mesma situação. Em alguns casos, a última pessoa da fila pode
ter que esperar por até dez anos para conseguir atendimento ou até mesmo um
procedimento de urgência. Impossível enumerar os que perdem a vida nessa
espera...
Até aí não há novidade alguma, você deve estar
pensando. OK! Levarei para o lado
pessoal à situação, para criar uma empatia mesmo, compartilhando uma
experiência que tive em 2015 quando meu filho precisou fazer uma cirurgia
eletiva simples de retirada de hérnia. Tínhamos plano de saúde, morávamos em
Altamira, no Pará, no entanto, esse plano estava naquele período de carência e
fui orientada pelos médicos a não adiar esse procedimento.
Fui para Goiânia, onde minha família reside e
busquei atendimento particular. Na época a cirurgia ficou em 12 mil reais.
Quando comentei o valor exorbitante para um parente ele comentou que sabia de
um médico em determinado hospital público da cidade que faria esse procedimento
por seis mil reais! Eu logicamente entendi que se tratava de furar a fila da
regulação do SUS, afinal eu estava fazendo os exames em laboratórios privados.
A jornalista que sou ficou alerta imediatamente. Sem nenhuma intenção de dar um
furo jornalístico descobri um dos esquemas mais comuns para furar a fila do SUS:
pagar um cirurgião que se responsabilizaria em dividir com os demais
profissionais envolvidos no procedimento, no caso: anestesista, enfermeiro,
técnico em enfermagem. Nada passaria pelo registro da regulação do SUS, afinal
essa cirurgia não teria acontecido.
Devo ter decepcionado ou assustado esse
parente quando disse que não faria isso, porque - longe de ser esnobe, eu tinha
condições naquele momento para pagar por esse serviço, e principalmente por não
querer contribuir com esse esquema absurdo! Imaginem uma equipe de
profissionais concursados ganhando por fora, colocando a vida de centenas de
pessoas que estão na fila em risco de morte... Fiz errado?! Você teria coragem
de entregar seu filho nas mãos de um cirurgião desonesto que não segue um dos
principais preceitos do código moral da medicina: a honra! Eu não tive. Deixei
o assunto para lá, apesar de ter tido uma vontade imensa de denunciar a
situação. Errei, com certeza, e ao mesmo tempo tenho convicção que poupei
algumas vidas não furando essa fila! A sistemática que sou me salvou!
A fila do INSS
Impossível
falar de filas e impostos sem citar a mais famosa delas, a do INSS. Em outubro
de 2022, a equipe de transição do governo federal divulgou que cerca de 5,5
milhões de brasileiros aguardam na fila pela concessão de benefícios do
Instituto Nacional do Seguro Social. Estamos falando de benefícios por incapacidade acidentária
(auxílio-acidente, invalidez, pensão por morte e auxílio-temporário) que tem
média de 122 dias para concessão. Já o Benefício de Prestação Continuada (BPC)
à pessoa com deficiência tem uma média de 223 dias para concessão. E o sonho de todo brasileiro que trabalha com
carteira assinada, a aposentadoria leva mais de 120 dias para entrar em
análise. Exatamente, não quer dizer que será aprovada nesse período, devido à
falta de documentos, recursos e outros trâmites.
Lembro
um caso específico de muitos que aconteceram no período da Covid-19. A viúva de
um pedreiro em São Paulo, vítima do coronavírus, em maio de 2020. Desempregada
com dois filhos de 6 e 8 anos, ela deu entrada em um pedido de pensão por morte
em julho do mesmo ano, o pedido foi negado e ela entrou com recurso e até o
final de outubro de 2022 aguardava resposta do INSS. Muito provavelmente o caso
dessa viúva foi um dos muitos indeferidos pela inteligência artificial criada
para analisar pedidos de benefícios do INSS de maneira
automática, no período da pandemia.
Segundo uma entrevista da presidente do
Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário, Adriane Bramente, durante uma
coletiva de imprensa naquele primeiro ano da pandemia da Covid-19, o robô mais
recusou do que aceitou pedidos do INSS. Foram 220.142 indeferimentos contra
154.784 concessões. Entre os indeferimentos: 84 mil de BPC por deficiência,
mais de 50 mil aposentadorias por tempo e 33 mil salários de maternidade. A
diretoria do Instituto reconhece que a inteligência artificial não consegue ter
a sensibilidade para avaliar caso a caso, como um técnico do INSS faria. Vem
outro problema difícil de solucionar a contratação de profissionais suficientes
para essa avaliação que sempre foi deficitária independente da pandemia.
Perceberam que até nos momentos em que
achamos que estaremos finalmente livres do incômodo de uma fila somos colocados
e descartados dela por uma AI, a tal inteligência artificial. Dolorosas, mas
necessárias essas informações para irmos ainda mais conscientes para outra fila
que nem mencionei no início desse artigo, por ser a responsável por todas as
outras que enfrentamos na vida: a da votação!
Financiamento do poder
Compartilharei o trecho do livro: Breve
história do Imposto, do autor português João Luís Gonçalves, o capítulo 3:
Financiamento do poder. “Além de cobradores de impostos, os publicanos eram
verdadeiros agentes financeiros. Até formaram alguma societates e adiantavam dinheiro aos governadores, por conta do
direito de recolher impostos. Nas cobranças posteriores tratavam de recuperar o
investimento, acrescido de juros, custos de coleta e, naturalmente lucro. Os
abusos eram frequentes e os publicanos rapidamente enriqueciam. O sistema de
adiantamento de despesas aos governadores, não foi exclusivo dos romanos. Um
dos casos mais conhecidos foi o do banqueiro alemão Jacob Fugger, que ajudou a
financiar a campanha do rei Carlos I, da Espanha para ser eleito, em 1519, como
imperador do Sacro Império Romano. A eleição não foi fácil e acarretou muitas
despesas para convencer os eleitores”. (páginas 23, 24 e 25 – Breve História do
Imposto – Edições Vieira da Silva)
Acredito que não preciso detalhar mais nada.
Os tempos são outros, o que não mudou foram os hábitos por trás das filas e dos
impostos que continuamos pagando, querendo ou não! Você pode ouvir esse artigo com mais detalhes
no VivicaCast – Sistematizando a Vida, em várias plataformas digitais, uma
delas é o Google Podcast: https://podcasts.google.com/feed/aHR0cHM6Ly93d3cuc3ByZWFrZXIuY29tL3Nob3cvNTY4MTk2NS9lcGlzb2Rlcy9mZWVk?sa=X&ved=0CAMQ9sEGahcKEwjIrN2yg5P9AhUAAAAAHQAAAAAQVQ
Caso queiram sugerir algum assunto ou tema
para eu sistematizar, aqui no portal de notícias: Gente de Opinião e no Podcast estou à disposição. Adoro um
desafio!
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