Então, ela não acordou...

Ângela Abreu, a administradora do portal de notícias Rondoniagora, amiga de muitos jornalistas rondonienses, mesmo não sendo formada na profissão; ex-esposa de um jornalista político, Eliânio Nascimento e mãe de uma talentosa assessora de comunicação empresarial, a Ingrid Valerie, não despertou do AVC que sofreu, no último dia 8 de julho.

Ontem, 25/07, foi à data que ela partiu deste plano, onde deixa enlutado profundamente sua amada mãe, filha e neta, Charlote; sobrinhos, companheiro e muitos amigos.

Para não mudar o início de nossa amizade bem torta, Ângela não despertou no mesmo dia em que comemorávamos os seis meses de vida da minha primeira neta! Tive que rebobinar uma fita VHS imaginária, sou dessa época e daí, para ter certeza de como realmente nos conhecemos. Não consigo precisar o mês, mas o ano é certeza: 1995.

Eu estava grávida de uns seis meses da minha primogênita e a Ângela tinha trazido ao mundo sua Ingrid Valerie, há uns quatro meses. Enquanto eu acompanhava amigos da redação do extinto jornal “O Estadão do Norte”, em uma festividade, ela o esposo que trabalhava, no periódico rival, “Diário da Amazônia”. Começamos a conversar casualmente, ela me adiantando o que estava por vir nos próximos meses, animada com a aventura dos seus primeiros “tudos” materno.

Ficamos uns anos sem contato quando o jornal, em que eu trabalhava, inaugurou modernas instalações físicas e parque gráfico, na Avenida Tiradentes. A vida de mães e jovens profissionais também impedia os encontros prolongados. Acontecia uma vez por ano, um esbarrão na feira livre, um oi corrido na entrada de um banco e a vida seguia...

Oito anos depois, no ensino fundamental, minha filha Victória Libertad começou uma amizade ilimitada, como todas são nessa idade, com uma nova colega. Ela pedia para passar o final de semana na casa da nova amiguinha e como não conhecíamos a família, trocamos número de telefone fixo – ainda com os pais da Ingrid. Pois é, meu marido, Alex, descobriu na primeira ligação que a mãe da Ingrid Valerie era a Ângela, sua colega de escola e vizinha do bairro São Cristovão!

Quando o pai da Ingrid foi busca-la na casa de meus pais, onde ela e a Victória passaram o dia, nova surpresa, era o Eliânio, jornalista, cujos pais foram vizinhos de uma vida toda da família materna do Alex!

Aceito que Porto Velho não é uma capital tão grande assim, mas essas coincidências me marcaram, junto com outras situações que o destino brincou conosco sem jamais interromper essa amizade ½ torta.

Quando retornei de uma temporada a trabalho no Pará, fiquei sabendo pelo Eliânio que a Ingrid, recém-formada, já atuava em uma grande empresa do setor elétrico e que a Ângela continua administrando o “Rondoniagora” enquanto conciliava com outras atividades laborais, no setor público.

Finalmente um dia a encontrei no shopping e colocamos rapidamente as novidades da vida em dia! Combinamos uma reunião entre nossas “meninas”, quando a Victória viesse de férias do Pará, e aconteceu a pandemia da Covid-19...

Continuamos conversando eventualmente por telefone e aplicativo de mensagens. Há um mês confidenciei que era avó da Yamã, e ela compartilhou mais uma vez as aventuras e delícias de ter a Charlote em sua vida! “Eu nem consigo respirar direito, quando estou perto dela amiga, é o segundo amor da minha vida, o primeiro foi a Ingrid”, lembrou sorrindo.

De ontem para hoje, nesse horário, 10 horas, em que está previsto seu sepultamento, relembrei de seu sorriso sempre generoso com todos, daí sua facilidade em fazer “milhões de amigos”, sua conversa sem rodeios e seu ser desprovido de preconceitos...

Enfim, não é o fim! A Ângela não acordou, como bem pediu em um texto emocionado, em uma rede social a secretária municipal de esportes, e amiga dela de décadas, Ivonete Gomes. Ela não acordou nessa vida, entretanto despertou em outra, creio demais!

Ângela continuará entre nós, na gargalhada gostosa da Charlote, no olhar apaixonado da Ingrid para filha e principalmente nas lembranças de momentos incríveis que cada um dos amigos que ela conquistou, e dos parentes com quem compartilhou seu brilho único...