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Viviane Paes

Heróis e anjos contra Covid-19


 Jeferson Carvalho - Gente de Opinião
Jeferson Carvalho

Assisti ontem, no nosso portal de notícias, a entrevista emocionada do secretário estadual de saúde, Fernando Máximo, ao Sic News, alertando: “as pessoas que estavam festejando o carnaval em festas clandestinas, provavelmente estariam nos próximos dias, buscando atendimento nos hospitais de campanha”. https://www.gentedeopiniao.com.br/saude/coronavirus/com-mais-de-2-500-mortes-em-rondonia-populacao-insiste-em-desafiar-o-virus

Tenho total empatia pela declaração feita, afinal ele sofreu com a Covid-19 e teve familiares contaminados em outro estado. É um especialista no assunto como paciente e médico.

De 2020 para esse ano, acompanhando os noticiários vi a progressão do cansaço extremo em sua fisionomia. Só não vê o mesmo quem não quer! Igual ao secretário com responsabilidade maior, igual, ou menor está uma centena de profissionais da saúde em todo nosso Estado, demais estados brasileiros e no mundo. Ouvi o desabafo de uma pessoa, não da autoridade. Ele tem muito em comum com os “personagens” que conversei nos últimos dias, daqui, de Pernambuco e de Santa Catarina.

Além de me prevenir, de cumprir o isolamento social eu quero reconhecer a dedicação destas pessoas que deixaram suas famílias nos últimos 11 meses arriscando suas vidas – sem desfrutar o privilégio de cumprir algo simples como evitar aglomerações. Os considero anjos e heróis de verdade e acreditem seus esforços não são em vão para a maioria!

O rondoniense que salva vidas em Santa Catarina

Na manhã da primeira semana de janeiro de 2021, o técnico em enfermagem, Jeferson Carvalho, 43 anos, se despede da esposa e das duas filhas em Guaramirim, localizado no norte de Santa Catarina. Entra no carro e dirige para o município vizinho, Jaraguá do Sul, limítrofe com Joinville – maior cidade do Estado. São apenas 25 minutos para percorrer os seis quilômetros, mas esse tempo é suficiente para preparar seu corpo e principalmente sua mente para mais plantão.

Como é comum a maioria dos 2,8 milhões de profissionais de enfermagem, no Brasil, dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) faz jornada dupla e até tripla em diferentes hospitais para melhorar a renda familiar. A esposa também técnica em enfermagem tem uma rotina de trabalho mais tranquila que proporciona mais tempo com as filhas do casal.

Ele ás vezes olha a própria imagem no retrovisor do carro e sorri. Tem gratidão pela rotina corrida na profissão que sonhou quando era criança e pelas conquistas dos últimos 18 anos. Não foi fácil sair de Porto Velho (RO) e recomeçar a vida no Sul, distante dos pais e dos três irmãos. É o segundo filho mais velho. A adaptação a uma nova cultura, as diferentes comidas, ao clima frio tão oposto aos 36 graus costumeiros da região amazônica foi evolutiva.

Há 10 anos trabalha na área da saúde. Fez curso de técnico em enfermagem em Joinville, onde residiu nos primeiros anos, uma especialização em instrumentação cirúrgica e trabalhou no SAMU – Serviço de Atendimento Móvel em Urgência em 2019. Toda essa experiência em atendimentos pré-hospitalares, emergenciais, cirúrgicos o capacitaram para atuar no Centro de Tratamento de Doenças Renais (Pró-Rim), um dos anexos do Hospital São José. A instituição filantrópica de 85 anos é referência no atendimento de várias especialidades e de transplantes da região norte e nordeste de Santa Catarina.

O primeiro caso de contaminação pelo coronavírus em Guaramirim foi confirmado em abril de 2020. Uma médica que trabalhava na cidade e residia em Joinville. Algo comum para os mais de sete milhões de moradores, dos 295 municípios catarinenses.  Para Jeferson o diagnóstico de uma colega da área hospitalar foi preocupante por lembrar sua rotina e os riscos diários de contaminação.

Em 20 de março, em Jaraguá do Sul, um auditor fiscal de 57 anos, com histórico de viagem para o Paraguai teve diagnóstico de Covid-19 e foi internado na UTI do Hospital São José por mais de 40 dias. Ele seria a primeira vítima fatal da doença na cidade. Nos meses seguintes, os números de pacientes com covid-19 e óbitos pela enfermidade aumentariam assustadoramente na região, e em todo o país.

Pandemia e insuficiência renal

Cerca de 30% a 50% dos infectados pelo coronavírus, em estado crítico desenvolvem insuficiência renal. Desses, de 30% a 40% precisam de diálise, o procedimento no qual uma máquina externa substitui o papel dos rins por 24 horas, às vezes por dias, quando o órgão exerce menos de 10% da sua função.

Esse foi mais um desafio imposto no dia a dia de médico intensivistas, nefrologistas e equipes de enfermagem. Jeferson enfrentou a situação quando aumentou o atendimento de pacientes com insuficiência renal em seu trabalho. Os pacientes renais crônicos continuaram a ser atendidos no centro de tratamento de doenças renais, e os infectados pelo coronavírus em outra área, com equipes diferentes.

Dos primeiros pacientes com Covid-19 ele recorda a dificuldade em vê-los em coma. “É muito doloroso você conversar com um paciente lúcido e depois vê-lo inconsciente pelo avanço da doença. Você volta para sua casa, mas não deixa de pensar sê irá vê-lo sair com vida do hospital”, confidencia.

Como bom rondoniense, que “bebeu da água do Rio Madeira”, e profissional da saúde, Jeferson tem empatia pelos colegas que são obrigados a atender parentes e conhecidos com coronavírus.  “Acompanho as notícias em Rondônia sobre a pandemia e me preocupo demais. Hoje meus pais, funcionários estaduais aposentados, estão aqui comigo juntamente com uma irmã também, mas ainda tenho um irmão e outra irmã, vários tios e primos aí”, explicou destacando que somente o preparo psicológico, físico e principalmente espiritual de todos que exercem a profissão é possível aguentar o desafio. “É muito doloroso!”.

Diferente de muitos outros colegas, o técnico em enfermagem comemora o fato de não ter perdido nenhum paciente para a doença, durante seus plantões. “Graças a Deus todos conseguiram lutar e vencer a Covid!”.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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