Sábado, 20 de fevereiro de 2021 - 10h10
Em cinco dias, (15 a 19/02), 158 vidas rondonienses foram
interrompidas pela Covid-19. No mesmo período foram confirmados 141.212 casos
enquanto que 120.509 pessoas conseguiram vencê-la. Os dados do 336 boletim do
governo do estado, acessível à consulta no site institucional - causam dor aos
que perderam parentes e amigos. Entretanto, não são suficientes para inibir os
festejos clandestinos do carnaval no Estado...
Enquanto alguns ainda encontram motivos para comemorar, nos
últimos meses atípicos de pandemia, os profissionais de saúde seguem em suas
rotinas estressantes que limitam suas forças físicas e mentais. Quando
contaminados são afastados para tratamento e os que sobrevivem são obrigados a
retornar para atender outros doentes. Essa força de trabalho não é suficiente
em nenhum lugar do mundo para combater a pandemia.
Até agosto do ano passado, cerca de três milhões de
profissionais da saúde tiveram o coronavírus. Isso representava 10% dos quase
30 milhões de casos registrados no mundo. Um total de 2.200 profissionais
morreu. As informações do Conselho Internacional de Enfermagem (ICN) apontaram ainda
que o Brasil era um dos países com maiores números de infectados pelo novo
coronavírus.
Nas últimas semanas conversei com alguns profissionais da
saúde daqui de Rondônia, de Santa Catarina e de Pernambuco. Além do ofício
compartilham a naturalidade rondoniense e o amor à profissão. Á eles, nosso
respeito extensivo aos demais trabalhadores da linha de frente no enfrentamento
da Covid-19. Alguns deles preferem não
ser identificados por temer algum tipo de represália. Nem todo herói pede
reconhecimento, mas todos os anjos precisam de orações!
O enfermeiro
reikiano
O mantra sha seken sahu ecoa no despertador do celular. O
chamado egípcio com vozes suaves, às 5 horas da manhã, é a maneira que o
enfermeiro L.M, (nome em sigilo a pedido), 38 anos, encontrou para iniciar o
dia. Levanta fazendo um alongamento e
está preparado para o percurso de 1h30 minutos de transporte público, da
residência localizada na zona sul até um posto de saúde, na região central de
Caruaru - município localizado a oeste da capital de Pernambuco, Recife.
A cidade é a terceira mais populosa do interior nordestino,
segundo estimativa do IBGE de 2020, 363.278 habitantes, atrás apenas de Feira
de Santana (BA) e Campina Grande (PB). Mesmo saindo cedo de casa fará quase
todo trajeto em pé, durante duas trocas de ônibus e uma espera rápida em um
terminal. Já está acostumado, infelizmente, em ver apenas os olhos dos outros
usuários por cima das máscaras coloridas de tecido, ou brancas descartáveis.
No início da pandemia, o profissional de saúde se sentia um
alienígena por utilizar a máscara de proteção facial. Ele andava pelo bairro e
sentia os olhares irônicos. Entrava no coletivo e ouvia os sorrisos abafados.
Sabia bem sobreviver a isso, como homossexual assumido no nordeste sofria
preconceito sempre, mas isso era diferente. Era uma ignorância tão palpável à tragédia
real em outros países, que o praticante de Reiki – terapia integrativa, só
acalmava com uma meditação rápida.
Em nove de fevereiro de 2021,
dez meses depois do primeiro óbito pela Covid-19 na cidade, um homem de 85 anos
portador de doença respiratória pregressa, o boletim diário do governo estadual
pernambucano registrava 273.278 casos confirmados; 10.546 vidas perdidas nos 184
municípios e também no arquipélago de Fernando de Noronha.
No mesmo período, mais de 233
mil pessoas estavam recuperadas dos efeitos do coronavírus, ainda assim a pandemia
requer muitos cuidados e o isolamento social. https://www.pecontracoronavirus.pe.gov.br/boletim-secretaria-de-saude-do-estado-n-de-casos-127).
Dupla
jornada. Risco duplo
L.M nasceu em Porto Velho,
onde residiu até os 18 anos. Aprovado no curso superior de enfermagem em Recife
retornou à cidade natal materna para realizar o sonho de criança de cuidar de
pessoas. Já formado foi para sala de aula, lecionando em cursos técnicos de
enfermagem e depois de um tempo saiu da capital para o agreste nordestino e
assumiu um cargo público. Anos depois iria enfrentar um dos maiores desafios de
sua vida profissional, o enfrentamento do coronavírus.
“Ainda tenho muita dificuldade
em falar sobre essa pandemia, por ser algo que me marcou profundamente. Você presencia
pessoas morrendo dentro de um hospital, saí na rua e encontra outros que não obedecem
ao uso da máscara, do álcool em gel realizando festas no período de isolamento
e luta para não se contaminar e transmitir o vírus para parentes” desabafa. L.M
vive com a mãe, uma idosa de 63 anos sem comorbidades.
Não lhe faltam motivos para
temer. Em junho do ano passado, um levantamento do Conselho Federal de
Enfermagem (CRF) denunciava que o Brasil
era o país onde mais estava morriam trabalhadores da enfermagem (auxiliares,
técnicos e enfermeiros) em todo o mundo, por conta da pandemia. Haviam 16.064
casos confirmados e 143 mortes, no período.
Ele viu a rotina já cansativa
de trabalho durante todo o dia, de segunda a sexta-feira, com trabalhos
eventuais em campanhas nacionais de vacinação aos finais de semana alterada quando
a prefeitura de Caruaru redistribuiu os trabalhadores nos hospitais de campanha
de enfrentamento da Covid-19. Era o expediente diurno no posto e revezamento
noturno a cada 28 horas, no hospital. No primeiro plantão recebeu a missão de acompanhar
a transferência de um paciente em estado grave para a capital. Foram 130
quilômetros percorridos com muita apreensão em mantê-lo estável para internação
imediata. Esse não seria o primeiro.
Eu
vacino e sou vacinado!
O
governo estadual de Pernambuco foi o primeiro do país a criar um protocolo para
testar e afastar os profissionais da área da saúde com sintomas gripais. Até
o início de fevereiro, 25.840 casos foram confirmados e 45.549 descartados. As
testagens entre os trabalhadores do setor abrangem os profissionais de todas as
unidades de saúde, sejam da rede pública (estadual e municipal) ou privada.
No
final do ano, dispensado dos plantões nos hospitais de atendimento da Covid-19,
mas ainda sem direito a desfrutar das férias vencidas, o enfermeiro foi
convocado a integrar a equipe de vacinação dos trabalhadores da saúde. Em 10 de
fevereiro 110.010 profissionais atuantes na rede municipal, estadual e privada
de saúde receberam a primeira dose da imunização. https://caruaru.pe.gov.br/prefeitura-de-caruaru-amplia-vacinacao-para-profissionais-da-saude-que-trabalham-no-municipio/
L.M
foi vacinado por uma colega, já imunizada, antes de iniciar os serviços na
última semana de janeiro. “Estou mais tranquilo pela primeira etapa da
imunização, no entanto isso não é tudo. Temos que continuar nos prevenindo para
podermos cuidar dos pacientes com segurança e tranquilidade”, afirma o enfermeiro.
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