Quarta-feira, 27 de junho de 2018 - 11h02
Direto do apartamento 108, de um hospital particular de Porto Velho (RO), na missão de acompanhante de uma amiga que vem lutando pela vida nos últimos quatro meses, cedi a uma indignação que me atormenta há 34 dias... O resultado do Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica do Profeta – Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica.
Trinta e seis institutos federais de todo o Brasil ofertaram, nesse ano, 820 vagas para o mestrado semipresencial, sendo metade reservada para servidores das instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, e a outra parte destinada ao público externo.
Em Rondônia, aonde resido atualmente, o certame ocorreu pela primeira vez, disponibilizando ao campus da capital, 33 vagas, das 820 para todo o Brasil. No Ifro foram: 11 para servidores, 08 para ampla concorrência e 03 para cotas: 01 indígena, 01 PcD e 01 negro.
Em Goiás, onde nasci, tenho parentes e residência foram outras 22 vagas, no campus de Anápolis. Servidores, 08 vagas; Servidores PcD (pessoas com deficiência, comprovada por meio de laudo médico) - 01 vaga; Servidores PPI (pretos, pardos e indígenas) - 02 vagas; Ampla concorrência - 07 vagas; PcD - 01 vaga; PPI - 03 vagas.
Sou e serei até que provem o contrário, desfavorável a esse sistema. Vejo de perto que as cotas tem mais atrapalhado do que ajudado. E não adianta aquele discurso de que a quantidade de formados em nível superior aumentou “trocentos” %, que os marginalizados pela direita, pelo centro, pelo alto, por baixo conseguiram seu lugar ao sol. A realidade é outra. Estudos apontam.
Quantidade não é sinônimo de qualidade, sempre foi e sempre será assim. Fui consultora em duas grandes obras do setor elétrico: UHE Santo Antônio e UHE Belo Monte, e vi e ouvi muito em reuniões estratégicas do setor de recursos humanos: “esse fulano aqui conseguiu o diploma, mas não sabe nada”; “Nossa como pode dizer que é formado em nessa área se não sabe nem o básico”... E muito: “Só podia ser cotista, o cara entra em uma faculdade sem saber o mínimo do ensino médio, consegue concluir o curso sem ter aprendido nada e na hora de trabalhar não desenvolve”... Existem exceções, com certeza, mas não irei abordar isso nesse momento.
O que me surpreendeu demais foi ver a nota final de classificação geral. Resumindo! É assustador comprovar o tempo todo, que nosso ensino público é realmente deficiente da educação infantil, no fundamental, no médio e no superior – se for ver o ranking das muitas e muitas instituições que surgiram na última década, e continua na pós-graduação.
A nota total do mestrado do Profept estava dividida em objetiva de múltipla escolha, valendo 30 pontos e discursiva 60. Nota completada com 10 pontos da avaliação de títulos. As duas provas foram aplicadas no mesmo dia.
A maior nota obtida nesse ano foi 85,5 e devo dizer orgulhosamente que vieram de cinco mulheres: uma do Ceará, uma do Tocantins, três de Goiás, e uma delas gabaritou a redação! Meus sinceros parabéns a elas, principalmente as goianienses! E, já defendo, o ensino tanto público quanto particular do Centro-Oeste é muito melhor do que o do Norte e do Nordeste. Eu atesto, saí de Goiânia com 10 anos, na terceira série, de uma escola particular para uma pública e foi um desastre.
Pra resumir bem minha vida escolar, no ensino médio, fiquei seis meses sem professor de português e meus professores de química e física eram todos profissionais da área, sem formação nenhuma para lecionar. Resultado. Fiz cursinho e estudei demais para ingressar na Unir – Universidade Federal de Rondônia, sem cotas. Até hoje minha deficiência em matemática é assustadora.
Agora vamos às notas de Rondônia. Um homem gabaritou as 30 questões, servidor do Ifro, seguido por uma mulher da ampla concorrência, com 29! Bacana. A maior nota obtida na redação foi 55,5.
Quando vamos para as notas dos cotistas a discrepância assusta. O candidato que obteve a nota de classificação para vagas destinadas aos indígenas foi de 35,5... 14 pontos na objetiva e 21 na discursiva! Abaixo dos 50% geralmente cobrado nos demais certames.
Na vaga destinada a negros foi menos discrepante, 24 acertos na objetiva e 42,5 na redação, totalizando 66,5 pontos dos 90.
Na vaga dos PcD, nota final 49, objetiva: 20 pontos e discursiva 29.
Isso comprova que realmente as cotas contribuíram com seu objetivo, né! Nãooooooo! Isso demonstra o contrário. Uma estudante com uma classificação tão baixa não tem condições de cursar um mestrado. Duro, sistemático e real!
A Educação não deveria ser elitizada, mas ela é uma escada de conhecimento evolutiva. Aqueles gênios de 14 anos que ingressam na faculdade sem cursar o ensino médio realizam uma prova de proficiência para atestar o conhecimento que possuem.
Os processos seletivos foram feitos para separar os que estão preparados, dos demais. Fato! Isso não tem a ver com a cor dos olhos, da pele; classe social ou grau de deficiência física... Machado de Assis era negro e foi um dos maiores escritores brasileiro; fundador da Academia Brasileira de Letras e funcionário público, entre outras profissões que exerceu.
Stephen Hawking já tinha sido afetado por uma doença degenerativa quando formulou a Teoria da Singularidade.
Temos centenas de casos de pessoas humildes, abaixo até da linha da pobreza, que conseguiram ingressar no ensino superior sem qualquer tipo de ajuda, nem vou citar um específico as redes sociais, os jornais estão destacando com frequência!
Por favor, não continuemos a diminuir as minorias dessa forma. Vamos melhorar o ensino base, roubar menos, corromper menos para que as próximas gerações realmente tenham conhecimento. Somos capazes.
Não conheço nenhum dos candidatos aprovados, não é pessoal!
Aliás, pode ser sim, eu também concorri a uma vaga nesse mestrado. Fiz minha inscrição três vezes. A primeira para cota de negros, porque tenho consciência e orgulho de ser um ser humano que possui a cor negra! Fiquei tão ruim de ir contra algo que acredito, de que minha cor, minha posição social e até o bairro onde moro não influencia meu grau de inteligência, que passei mal. Adoeci mesmo! Minha vesícula que está repleta de cálculos renais, protestou com o excesso de bílis que não tem mais para onde escoar.
Na terceira inscrição resolvi voltar a ser “teimosa”, e ir contra os conselhos de alguns de que o importante era conseguir a vaga, não o meio que iria consegui-la.
Não sou política, não posso sair discursando hoje e daqui uns meses ter as atitudes que critiquei. E questão de ser mulher, com M, íntegra e principalmente mãe consciente. Sirvo de exemplo para meus filhos, o tempo inteiro.
Já chegaram a sugerir que eu colocasse meus filhos na rede pública de ensino para que os mesmos tivessem mais chances de conseguir uma vaga na federal ou bolsa do Fies, por meio das distas cotas... A pessoa consciente ou não, me ofendeu demais!
Não pela intromissão no aspecto financeiro de minha vida, de que eu deveria utilizar o recurso que invisto na educação de meus filhos em outras coisas, e sim pelo fato de colocar nas entrelinhas que não tinham inteligência ou capacidade suficiente para conquistar uma vaga na mesma Unir ou UFG que ingressei.Sério?! Ah, sim minha filha mais velha esta se formando em Engenharia Agrônomica pela UFPA, e ela não ingressou por meio das cotas. É questão de honra para nossa família!
Não sou A mais inteligente das pessoas que conheço, ou da família paterna e materna, mas sou com certeza A mais determinada que você irá conhecer pelo simples fato que sou humilde o suficiente para admitir: só sei que nada sei!
É por isso tenho humildade o suficiente para buscar ajuda sempre que necessário, em tudo na minha vida: familiar, financeiro, trabalhista e principalmente o espiritual que é o meu calcanhar de Aquiles, estou sempre pendendo para o lado de lá, das energias negativas, da descrença no ser humano sem perder jamais a fé em Deus! Minha luta continua. A paz Profunda, nesse caos chamado vida!
Gostaria de ler em 2020, a lista de formados do Ifro, todos os 22 mestrandos, principalmente os cotistas. Sério quero mesmo! Caso aconteça esses últimos terão conseguido vencer o estigma de incapazes que esses “benefícios” certificam.
É bem conhecido. O caminho mais curto não é seguro. O caminho mais longo
Com certeza tentarei novamente uma vaga nesse mestrado no próximo ano e vou passar, sim. Não terei cálculos renais me martirizando como ocorreu esse ano. Com isso estou assumindo o compromisso de tirar muito mais que 75,5 nota máxima da ampla concorrência no Ifro, dos cotistas foi 66,5 lembram?!
E, lógico farei um artigo bacana destacando a luta diária, o ciclo dos estudos conciliado com trabalho, o apoio recebido dos amigos, o desdém dos não tão amigos...
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