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Gente de Opinião

Viviane Paes

Ouça o BEM e acredite no BEM!


Ouça o BEM e acredite no BEM! - Gente de Opinião

Na semana passada um post em uma rede social curtido por uma colega jornalista que atua em uma televisão local me fez retornar 27 anos atrás...

Eu, uma “foca” – pois sim sou dessa época, não estagiária de jornalismo dos tempos atuais, de bota coturno marrom, com camiseta cheia de mensagens espíritas, jeans escuro aguardava na antessala de uma secretaria estadual o início de uma coletiva de imprensa.

Meu repórter-fotográfico, José Hilde, estava na roda formada por cinegrafistas e outros da imprensa porto-velhense. Eu, pisciana, aos 18 anos, era o verdadeiro peixe fora d’água desse ambiente. Estava sentada, ou melhor, escondida em um sofá no canto da sala olhando admirada as jornalistas de TV com seus saltos altos, blazer e maquiagem. Quando uma delas veio em minha direção sorrindo tive um lampejo de coragem e perguntei humildemente: “Como faço para me candidatar a uma vaga na televisão?”. Ela me deu aquela olhada raios X que apenas as mulheres entendem e respondeu: “Precisa ter boa aparência, vestir bem e ter uma excelente dicção. Não é para todo mundo não!”.

José Hilde que eu conhecia apenas há dois meses quando inicie o estágio no jornal O Estadão do Norte veio me socorrer ao perceber minha cara de choro. Sim, aos 18 anos eu era uma manteiga derretida que chorava de felicidade, tristeza e até sorrindo...

A coletiva teve início e fim e eu não consegui esquecer o que a tal repórter me falou. Perguntei para o repórter-fotográfico se o que ela havia tido era verdade e ele riu muito para meu espanto! “- Claro que jornalismo de TV é para mulher bonita, bem vestida e de preferência burra igual à fulaninha que te falou isso”! – Esse comentário me apresentou a divisão que imperava na profissão nessa época e bem menos hoje, acredito!

A de que ser “padrão modelo ou miss” – detalhando: branca, cabelo liso, olhos azuis ou verdes, corpo magro e se possível uma voz agradável era garantia segura de vaga para atuar em frentes as câmaras de jornais ou programas de TV.

As mulheres não muito bonitas, gordas, negras, míopes deveriam ficar escondidas nas redações dos jornais impressos porque eram “intelectuais” demais...

Foi assim, aos 18 anos que essa filha única de pai pedreiro e mãe costureira descobriu que a vida profissional ia ser bem dura, apesar de ter começado fácil.  Ingressei no Estadão do Norte porque escrevia textos em um espaço dedicado aos leitores e um dia meu pai chegou para o editor-chefe, Antônio Queiroz e disse que a filha escrevia muito bem e queria trabalhar em um jornal futuramente. Esse editor que passei a chamar de meu pai do jornalismo pediu que eu fosse lá conversar com ele, pois, havia vaga para “foca” na redação antiga da Rua Duque de Caxias. Em poucos meses haveria a mudança para a sede nova, um prédio modelo, todo informatizado.

O professor Queiroz, como era chamado, só não falou que eu teria que concorrer com outra pessoa para obter essa vaga remunerada. Fui, concorri com um rapaz que era muito bom, mas na verdade almejava a carreira de policial militar e consegui a tal vaga.

Foi essa pessoa recém ingressa no trabalho que foi atacada por outra mulher, que nem veterana! Descobri que a tal repórter havia “aparecido” na TV um ano antes. Ela tinha algo que eu não tinha ainda, a tal autoconfiança!

Na minha cabeça jornalismo era apenas o impresso! Meu pai havia trabalhado em um dos mais antigos jornais de Goiás, o Diário da Manhã e minhas melhores lembranças de infância são dele chegando do trabalho de madrugada com jornal cheirando a impressão, com tintas enegrecendo os dedos e contando histórias da redação para minha mãe.

Na redação do Estadão eu aprendi com os melhores jornalistas do Estado a escrever sem ter o recurso visual que os colegas da televisão tinham em suas matérias. Sempre foi a redação dos jornais Alto Madeira, Diário da Amazônia e o Estadão do Norte que pautavam as retransmissoras de TVs da Globo, SBT, Record e Rede TV.

Bonita da voz marcante, eu?!

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Uns dois anos depois a jornalista Ivonete Gomes, primeira repórter de TV que eu conheci, na década de 90, teve matérias divulgadas a nível nacional. Durante alguns meses ela trabalhou no SBT, em São Paulo e trouxe muita bagagem da “cidade grande” que compartilhou com as colegas da profissão. Eu fui uma delas!

Ela falou que eu tinha uma aparência ótima, voz bacana e era fotogênica faria sucesso na televisão. E eu comecei com meu discurso pronto de que não estava no tal padrão exigido. Ela riu apenas, me ajudou a maquiar, a arrumar o cabelo, a usar roupas adequadas para televisão – tipo evitar listras.

Gravamos um piloto e eu me apaixonei pela Viviane Vieira, repórter de televisão. Magra, ok. Cabelo ondulado não alisado. Voz pausada, tranquila. Foi a Ivonete Gomes, hoje secretária municipal de Esportes, onde brilha e faz brilhar talentos do esporte, que também havia orientado aquela outra repórter que me fez acreditar que poderia ser sim, uma jornalista de televisão.  “Você já tem um texto maravilhoso, sem erros de gramática agora você só precisa aprender a falar ele”.  “Loira” você sabe, não te devo só isso!

Iniciei o curso de jornalismo em Goiânia, minha terra natal, voltei para Rondônia e comecei a trabalhar na TV Norte, do grupo do jornal o “Estadão do Norte”, retransmissora da Rede TV inicialmente e lá tive outro anjo que se nomeia, sim: Luiz Carlos Ribeiro, o Luka. Já havíamos trabalhado na campanha do candidato a prefeito Chiquilito Erse e quando pedi uma vaga, onde ele já estava contratado como coordenador tudo fluiu tranquilamente.

Na TV Norte novas sessões de aprendizado sobre o jornalismo televisivo com profissionais incríveis como a Lúcia Reis, Paulo Benito, Carlos Camilatto, Fabricius Bariani e a deslumbrante e segura apresentadora Sandra Santos.

Apesar de tudo isso, verdade seja dita, eu não havia superado aquelas três fatídicas frases de 1994, mesmo estando em 2001! Um dia a apresentadora do jornal matutino da TV Norte me perguntou o motivo de não querer apresentar o jornal e eu respondi até agressivamente: “Não tenho o padrão de beleza que é exigido para bancada!”. Ela mesmo iniciante na profissão argumentou: “você é bonita, sim e tem uma voz muito boa”!

Ainda mergulhada no meu trauma respondi: “não sou bonita o suficiente e minha dicção não é boa como a sua”! Ou seja, eu ouvi o mal, eu acreditei no mal e pior ainda espalhei o mal!

A apresentadora iniciante da TV Norte que toda população rondoniense aprendeu a amar, ainda antes da apresentação do Jornal Nacional: Ana Lídia Daibes! Já nessa época, ela era muito positiva e sempre enxergava o melhor das pessoas!

Cássia Firmino

Por excesso de trabalho - eu atuava na TV Norte de manhã, na assessoria da Eletronorte, à tarde, estava concluindo o curso de Letras-Espanhol e era recém-casada, tive minha primeira crise de fibromialgia e LER/DORT. Por recomendação médica diminuí o ritmo e optei pelo jornalismo corporativo. Ele me permitiu atuar como repórter de jornal, quando faço a edição de revistas e livros; a jornalista de TV quando crio documentários e os apresento e a mentora, quando coordeno a comunicação de uma empresa ou estatal e tenho uma equipe formada por estagiários de jornalismo e outros profissionais do marketing e das relações públicas. Eu tenho que identificar o melhor de cada um e incentivá-los, jamais desmotiva-los!

Ouça o BEM e acredite no BEM! - Gente de Opinião

Traumas deixados de lado, hoje assisti ao JRO – 1ª edição, apresentado pela jornalista Cássia Firmino com uma pontada de orgulho. Dias antes li numa rede social da jornalista Iule Vargas, que não conheço pessoalmente, um relato emocionante da insegurança que a Cássia tinha, lá atrás, quando era estudante de jornalismo e achava que não seria possível trabalhar na TV e a Iule sua professora foi LUZ – aprendam, e até brincou que as duas iriam participar de uma transmissão ao vivo. Uma no estúdio e a outra na rua. E, felizmente aconteceu exatamente assim! Nos assistimos!

Que benção essa geração de jornalistas, mulheres e demais profissionais que trabalham um apoiando o outro e não o contrário! A Cássia teve o incentivo de uma veterana, de uma professora que falou o bem, e ela acreditou no bem!

É isso, para essa tarde de terça-feira, quando nossos corações vivem oprimidos pelas notícias das milhares de vidas perdidas para a Covid-19, do desemprego, das incertezas que nos cercam tenhamos força para ouvir o BEM, acreditar no BEM que ele VEM! 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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