Terça-feira, 23 de março de 2021 - 21h10
Na semana passada um post em uma rede social curtido por
uma colega jornalista que atua em uma televisão local me fez retornar 27 anos
atrás...
Eu, uma “foca” – pois sim sou dessa época, não estagiária
de jornalismo dos tempos atuais, de bota coturno marrom, com camiseta cheia de
mensagens espíritas, jeans escuro aguardava na antessala de uma secretaria
estadual o início de uma coletiva de imprensa.
Meu repórter-fotográfico, José Hilde, estava na roda
formada por cinegrafistas e outros da imprensa porto-velhense. Eu, pisciana,
aos 18 anos, era o verdadeiro peixe fora d’água desse ambiente. Estava sentada,
ou melhor, escondida em um sofá no canto da sala olhando admirada as jornalistas
de TV com seus saltos altos, blazer e maquiagem. Quando uma delas veio em minha
direção sorrindo tive um lampejo de coragem e perguntei humildemente: “Como
faço para me candidatar a uma vaga na televisão?”. Ela me deu aquela olhada
raios X que apenas as mulheres entendem e respondeu: “Precisa ter boa
aparência, vestir bem e ter uma excelente dicção. Não é para todo mundo não!”.
José Hilde que eu conhecia apenas há dois meses quando
inicie o estágio no jornal O Estadão do Norte veio me socorrer ao perceber
minha cara de choro. Sim, aos 18 anos eu era uma manteiga derretida que chorava
de felicidade, tristeza e até sorrindo...
A coletiva teve início e fim e eu não consegui esquecer o
que a tal repórter me falou. Perguntei para o repórter-fotográfico se o que ela
havia tido era verdade e ele riu muito para meu espanto! “- Claro que
jornalismo de TV é para mulher bonita, bem vestida e de preferência burra igual
à fulaninha que te falou isso”! – Esse comentário me apresentou a divisão que
imperava na profissão nessa época e bem menos hoje, acredito!
A de que ser “padrão modelo ou miss” – detalhando: branca,
cabelo liso, olhos azuis ou verdes, corpo magro e se possível uma voz agradável
era garantia segura de vaga para atuar em frentes as câmaras de jornais ou
programas de TV.
As mulheres não muito bonitas, gordas, negras, míopes
deveriam ficar escondidas nas redações dos jornais impressos porque eram
“intelectuais” demais...
Foi assim, aos 18 anos que essa filha única de pai pedreiro
e mãe costureira descobriu que a vida profissional ia ser bem dura, apesar de
ter começado fácil. Ingressei no Estadão
do Norte porque escrevia textos em um espaço dedicado aos leitores e um dia meu
pai chegou para o editor-chefe, Antônio Queiroz e disse que a filha escrevia
muito bem e queria trabalhar em um jornal futuramente. Esse editor que passei a
chamar de meu pai do jornalismo pediu que eu fosse lá conversar com ele, pois,
havia vaga para “foca” na redação antiga da Rua Duque de Caxias. Em poucos
meses haveria a mudança para a sede nova, um prédio modelo, todo informatizado.
O professor Queiroz, como era chamado, só não falou que eu
teria que concorrer com outra pessoa para obter essa vaga remunerada. Fui,
concorri com um rapaz que era muito bom, mas na verdade almejava a carreira de
policial militar e consegui a tal vaga.
Foi essa pessoa recém ingressa no trabalho que foi atacada
por outra mulher, que nem veterana! Descobri que a tal repórter havia
“aparecido” na TV um ano antes. Ela tinha algo que eu não tinha ainda, a tal
autoconfiança!
Na minha cabeça jornalismo era apenas o impresso! Meu pai
havia trabalhado em um dos mais antigos jornais de Goiás, o Diário da Manhã e
minhas melhores lembranças de infância são dele chegando do trabalho de
madrugada com jornal cheirando a impressão, com tintas enegrecendo os dedos e
contando histórias da redação para minha mãe.
Na redação do Estadão eu aprendi com os melhores
jornalistas do Estado a escrever sem ter o recurso visual que os colegas da
televisão tinham em suas matérias. Sempre foi a redação dos jornais Alto
Madeira, Diário da Amazônia e o Estadão do Norte que pautavam as
retransmissoras de TVs da Globo, SBT, Record e Rede TV.
Bonita da voz marcante, eu?!
Uns dois anos depois a jornalista Ivonete Gomes, primeira
repórter de TV que eu conheci, na década de 90, teve matérias divulgadas a
nível nacional. Durante alguns meses ela trabalhou no SBT, em São Paulo e
trouxe muita bagagem da “cidade grande” que compartilhou com as colegas da
profissão. Eu fui uma delas!
Ela falou que eu tinha uma aparência ótima, voz bacana e
era fotogênica faria sucesso na televisão. E eu comecei com meu discurso pronto
de que não estava no tal padrão exigido. Ela riu apenas, me ajudou a maquiar, a
arrumar o cabelo, a usar roupas adequadas para televisão – tipo evitar listras.
Gravamos um piloto e eu me apaixonei pela Viviane Vieira,
repórter de televisão. Magra, ok. Cabelo ondulado não alisado. Voz pausada,
tranquila. Foi a Ivonete Gomes, hoje secretária municipal de Esportes, onde
brilha e faz brilhar talentos do esporte, que também havia orientado aquela
outra repórter que me fez acreditar que poderia ser sim, uma jornalista de
televisão. “Você já tem um texto
maravilhoso, sem erros de gramática agora você só precisa aprender a falar ele”. “Loira” você sabe, não te devo só isso!
Iniciei o curso de jornalismo em Goiânia, minha terra
natal, voltei para Rondônia e comecei a trabalhar na TV Norte, do grupo do
jornal o “Estadão do Norte”, retransmissora da Rede TV inicialmente e lá tive
outro anjo que se nomeia, sim: Luiz Carlos Ribeiro, o Luka. Já havíamos
trabalhado na campanha do candidato a prefeito Chiquilito Erse e quando pedi
uma vaga, onde ele já estava contratado como coordenador tudo fluiu
tranquilamente.
Na TV Norte novas sessões de aprendizado sobre o jornalismo
televisivo com profissionais incríveis como a Lúcia Reis, Paulo Benito, Carlos
Camilatto, Fabricius Bariani e a deslumbrante e segura apresentadora Sandra
Santos.
Apesar de tudo isso, verdade seja dita, eu não havia
superado aquelas três fatídicas frases de 1994, mesmo estando em 2001! Um dia a
apresentadora do jornal matutino da TV Norte me perguntou o motivo de não
querer apresentar o jornal e eu respondi até agressivamente: “Não tenho o
padrão de beleza que é exigido para bancada!”. Ela mesmo iniciante na profissão
argumentou: “você é bonita, sim e tem uma voz muito boa”!
Ainda mergulhada no meu trauma respondi: “não sou bonita o
suficiente e minha dicção não é boa como a sua”! Ou seja, eu ouvi o mal, eu
acreditei no mal e pior ainda espalhei o mal!
A apresentadora iniciante da TV Norte que toda população
rondoniense aprendeu a amar, ainda antes da apresentação do Jornal Nacional:
Ana Lídia Daibes! Já nessa época, ela era muito positiva e sempre enxergava o
melhor das pessoas!
Cássia
Firmino
Por excesso de trabalho - eu atuava na TV Norte de manhã,
na assessoria da Eletronorte, à tarde, estava concluindo o curso de
Letras-Espanhol e era recém-casada, tive minha primeira crise de fibromialgia e
LER/DORT. Por recomendação médica diminuí o ritmo e optei pelo jornalismo
corporativo. Ele me permitiu atuar como repórter de jornal, quando faço a
edição de revistas e livros; a jornalista de TV quando crio documentários e os
apresento e a mentora, quando coordeno a comunicação de uma empresa ou estatal
e tenho uma equipe formada por estagiários de jornalismo e outros profissionais
do marketing e das relações públicas. Eu tenho que identificar o melhor de cada
um e incentivá-los, jamais desmotiva-los!
Traumas deixados de lado, hoje assisti ao JRO – 1ª edição, apresentado pela jornalista Cássia Firmino com uma pontada de orgulho. Dias antes li numa rede social da jornalista Iule Vargas, que não conheço pessoalmente, um relato emocionante da insegurança que a Cássia tinha, lá atrás, quando era estudante de jornalismo e achava que não seria possível trabalhar na TV e a Iule sua professora foi LUZ – aprendam, e até brincou que as duas iriam participar de uma transmissão ao vivo. Uma no estúdio e a outra na rua. E, felizmente aconteceu exatamente assim! Nos assistimos!
Que benção essa geração de jornalistas, mulheres e demais profissionais que trabalham um apoiando o outro e não o contrário! A Cássia teve o incentivo de uma veterana, de uma professora que falou o bem, e ela acreditou no bem!
É isso, para essa tarde de terça-feira, quando nossos corações vivem oprimidos pelas notícias das milhares de vidas perdidas para a Covid-19, do desemprego, das incertezas que nos cercam tenhamos força para ouvir o BEM, acreditar no BEM que ele VEM!
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