Sexta-feira, 19 de agosto de 2022 - 11h31
Eu sou dessas que adotou o lema: “eu não gosto de falar de
política, eu não gosto, eu não entendo”, mas confesso que sempre foi uma
barreira que ergui por acreditar que o jornalista não pode ter time de coração,
partido político de estimação, religião ferrenha – daquelas que só aceita os
preceitos da própria religião praticada e por aí vai!
Não torço por time brasileiro algum, entretanto já vesti
camisa da Seleção Brasileira no período da Copa – antes que alguém me lembre!
Sou católica de batismo, kardecista de opção e rosacruz em aprendizado
constante. Já votei em vários candidatos do partido do Trabalhadores, não por
ser companheira, mas pelos candidatos. E, sim, estou falando do Lula e da
Dilma!
O mesmo serve para demais políticos em que acreditei nas
promessas ao ponto de sair de casa sobre chuva, ou cansada depois da semana de
trabalho para votar. O clichê: sou brasileira com muito orgulho, com muito
amor...
Há dois meses ganhei um “recebido” do meu leitor Vasco Câmara, morador de São Paulo, o livro Parlamento dos Pobres, de Filipe Corujeira – pseudônimo do procurador da República portuguesa, Luís Gonçalves.
Apaixonei-me pela leitura logo na introdução, apesar de certa reticências só pelo título e tema. “Governo pensa ter poder, Parlamento que leis cria, a Justiça faz de conta, Povo finge que confia”.
O formato é de sátira que permite muitas ironias e frases de duplos sentido. No entanto, o autor utiliza fatos reais e documentos históricos de vários países para confirmar suas impressões!
No sexto capítulo dessa obra, Filipe Corujeira compara os textos das Constituições pelo mundo, em diversas épocas, desde a Guerra Fria à Atualidade.
Exemplificando. Princípios consagrados no art. 2º da Constituição da República Francesa: “Governo do povo, pelo povo e para o povo”.
“Todo o poder emana do povo e em seu nome é exercido”, - art. 1º da Constituição do Brasil, “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de sexo, raça, trabalho, credo religioso e convicções políticas".
Princípios idênticos encontravam-se nas constituições de alguns países comunistas:”Todo o poder na República Popular da China pertence ao Povo” – art. 3º da Constituição desse país, aprovada a 5 de março de 1978.
Uma das melhores parte da leitura do “Parlamento dos Pobres” sem sombra de dúvida é a introdução:
’Dar uma oportunidade aos pobres e excluídos da sociedade para que se façam representar diretamente no parlamento, durante, pelo menos, uma legislatura.
Esta opção comporta vantagens e desvantagens. De certeza absoluta, com esta possibilidade, os pobres não hesitarão em defender e aprovar leis que, de verdade, resolvam os seus problemas. No entanto, existe um sério risco: o partido dos pobres, tendo conquistado o poder, deseja manter a sua base de apoio, a pobreza!
Sei lá, eu entendi e vocês?!
Amo demais a ironia na fala e principalmente na escrita. Esse recurso te permite dizer verdades e mentiras de maneira tão dúbias que até o emissor duvida do que está falando.
O próprio autor diz: “ Este é um simples teatro. Desde cedo nos ensinaram a representar. Pensamos uma coisa e fazemos outra, quer na família, na escola, no trabalho e até nas instituições mais sérias, como o governo, parlamento e tribunais. No teatro, pelo contrário, pode ser dito e feito o que realmente desejam os autores e atores. O teatro é mais genuíno, verdadeiro, mais real do que a realidade. O teatro não é ficção da sociedade, esta é que é o espelho do teatro...
Enfim, essa leitura me fez repensar nosso momento político brasileiro atual.
Estou decidida em ficar em casa e continuo sendo brasileira, mesmo assim, sem cumprir a tal obrigação eleitoral, pois o que mata a vontade de participar do processo de votação em nosso País é a tal “obrigatoriedade”. Que democracia é essa que te obriga a fazer algo, em que você não está mais acreditando e nas propagandas te adula para a importância do processo democrático...
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