Terça-feira, 29 de junho de 2021 - 13h37
Don do pronome de tratamento espanhol e português reservado
a quem fazia parte da nobreza.
Don, título também atribuído ao professor universitário na
Inglaterra, especialmente das tradicionais universidades de Oxford ou Cambridge.
Don derivado do hebraico Adon, também senhor e mestre, título usado pelos judeus na mesma
forma que Sir é usado na língua
inglesa...
Esse 29 de junho, com seus inusitados 19 graus, encontraram-me
com um pouco de Chanel nº5 - hábito que tenho quando a temperatura cai de passar
esse perfume excêntrico popularizado por Marilyn Monroe e a pior notícia que um
jornalista pode dar ou receber: o falecimento de um colega de profissão!
Foi quando Fabricius Bariani postou um link da notícia da
passagem de Benito, no grupo de mensagens dos Amigos da TV Norte que fiquei
sabendo que você não estava mais “entre os bons” como costumava dizer!
Frater Maçom dessa sóror Rosacruz, amigo judeu dessa
católica mais par kardecista que existe, e principalmente o mais despretensioso
dos jornalistas que conheço, simplesmente é impossível acreditar que não iremos
nos reunir no pós-pandemia como combinamos há menos de um mês...
Passou cinco minutos que digeria sua passagem depois de
contar para o Alex, meu esposo, e seu amigo, pois você conquistou um lugar mais
que especial no coração de toda nossa míni família, meu celular tocou. Era
outro amigo querendo a não confirmação de seu falecimento, o José Hilde. Até
então, nem consegui chorar de tão chocada, mas aí as lágrimas vieram e as
lembranças também.
Relembrei você chegando à sede da TV Norte (retransmissora
da Rede TV na época, do grupo Mário Calixto) em uma segunda-feira para
substituir o apresentador Carlos Camilato, à frente de um programa diário de
entrevistas. Era 1999 encontramo-nos no corredor e você se apresentou com um
sorriso e um pedido de desculpas, por estar substituindo um colega da equipe!
Tinha recém chegado do interior do estado para Porto Velho.
Não foi uma transição fácil para ninguém, no entanto com
seu carisma e simplicidade conquistou todos, incluindo o público com seu famoso
e divertido jargão: “já voltamos, é um aqui e outro lá!”.
Impossível não citar que comentava durante o almoço
improvisado no minúsculo refeitório da TV, o retorno do Alex, ex-namorado e pai
da Victória Libertad – cujo segundo nome só você, o Hilde, os avós e o irmão
fala, como sempre “sem noção” falou algo assim: “fiquei até com pena desse que
não conheço. Tá muito na cara que com essa raiva toda vocês vão ficar juntos,
por ser o melhor para filha de vocês e ainda vão aumentar a família depois de
casados, com outro lindo filho ou filha!”.
E, logicamente foi xingado na hora e meses depois tive que
contar para você que ia me casar com ele, o Alex, conforme previsto! Você só me
abraçou e parabenizou dizendo que era o correto a fazer. Foi um dos poucos que
me disse isso!
Nos quase quatro anos que trabalhamos na TV Norte, nossos
melhores- piores momentos aconteciam nas transmissões ao vivo! Dois espontâneos
em frente às câmaras era um perigo, porque você provocava e eu não aguentava
ficar calada!
Don Benito você era um falastrão que protegia as amigas das
investidas nada discretas de algumas autoridades e até artistas que apareciam
em Rondônia achando que as jornalistas estavam disponíveis a casos! Posso
afirmar hoje sem medos de represália, que me salvou do constrangimento e
investidas nadas discretas de um eterno senador! Já estava casada e você fez
questão de falar ao dito cujo que eu era uma mulher muito íntegra, tinha sido mãe
solteira e jamais tive casos por aí e eu sei o quanto arriscastes a fazer isso,
me contaram!
Mesmo quando não trabalhávamos mais diariamente não
perdemos contato. Você acompanhou à distância o nascimento do Vinycius e o
crescimento da Victória Libertad.
Quando estava em algum projeto novo e te falava no mesmo
instante disponibilizava seu “Conteúdo Amazônia”! Como foi incrível ver o
quanto se realizou nesse programa! Inúmeras vezes me perguntaram se você era
daquele jeito mesmo, por trás das câmaras: brincalhão, direto, inocente às
vezes como criança e sagaz como um jornalista político que também era!
Como não citar sua paixão pelas viagens ao redor do mundo e
a mania de trazer sacolas de presentes para os amigos escolherem o que queriam;
a conversão ao judaísmo, à paixão pela maçonaria; o casamento com a sua “japa
brava” como dizia da Taís e amor aos filhos que ganhou sem trabalhou algum –
brincava!
Comentei uma vez que quando viajasse á Paris teria que me
trazer um vidro de Chanel nº 5, um “regalito” com dizíamos meio salgado e
respondeu rindo: Tú me quebras Vivi, mas quando for lá te trago sim, talvez
tenha que vender um rim, mas trarei! Entonces, não existiu acaso algum hoje,
nesse momento Marilyn Monroe. Pelo horário você dava seus últimos suspiros.
Almas falam, almas falam!
A candidatura surpreendente em 2018 ao governo do Estado
causou surpresas e críticas. Foi nesse ano que iniciou sua luta pela vida.
Ficou internado no hospital João Paulo II por semanas e ouvi coisas do tipo:
nossa um candidato ao governo que nem tem plano de saúde, tá internado igual
qualquer um no JP...
Falava isso quem te desconhecia. Quem convivia com esse ser
humano “sem noção” – expressão que o batizei por ser tão inocente, tão sem
freios sociais sempre que era impossível nutrir um sentimento negativo por você
por muito tempo!
Enfim, Paulo Daniel, Don Paulo Benito, Don Benito ou
simplesmente Benito descansa tranquilo cariño, rei dos idiomas! Você conseguiu
manter um programa televisivo por mais de 15 anos, em Rondônia sem ter seu nome
associado a esquemas políticos; desfrutou amizades de diversas tribos no
jornalismo, na política e na religiosidade; conquistou uma linda e inteligente
mulher com filhos maravilhosos e realizou muitos sonhos...
Atravessa esse portal sem olhar para trás. Ele, o Arquiteto
do Universo – como você o denominava te espera de braços abertos, frater!
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