Segunda-feira, 27 de janeiro de 2020 - 10h35
O Brasil é país miscigenado, onde
culturas de quase todo o mundo se misturam... Onde sotaques denunciam qual
região você nasceu; onde veículos definem o status social, mesmo sendo na sua
maioria financiados com altíssimos juros; onde o tamanho da residência e
quantidade de banheiros é vistos como sinônimo de “riqueza”, pela classe media
baixa; onde roupas de marcas – mesmo as falsificadas, induzem um vendedor de
loja a definir como atenderá o cliente; onde pagar escola particular para os
filhos é sinal de “boçalidade”...
O irônico é que o grau de instrução de
uma pessoa por aqui é motivo de preconceito nada velado! Se você é graduado,
tem alguma pós, está fazendo mestrando ou tem um doutorado ouviu em algum
momento da longa jornada algo do tipo:
- Nossa estudou tanto e ganha tão mal!
- Do que adianta você estudar e “ser”
burro, não consegue ter sucesso!
- Eu ganho mais com ensino fundamental e
você com canudo tá desempregado!
Essa semana, um comentário mordaz de uma
vizinha da situação de uma conhecida me fez relembrar um livro fantástico que
li aos 22 anos: Calilla e Dimna. A dita pessoa despejava veneno, literalmente:
- “Pra que fulana estudou tanto se é uma jumenta que não consegue nem recuperar
de uma depressão!”. Isso mesmo que você leu!! A associação da formação
acadêmica de uma pessoa padecendo da doença do século utilizada de uma forma
grosseria e de muita ignorância.
O livro citado acima é uma coletânea de
contos e fábulas de caráter político e moral, que influenciaram gerações por
toda Europa, Ásia e África. Parte dele vem de um manuscrito indiano, redigido
em sânscrito chamado Panchatantra,
onde provérbios e fábulas são narradas por dois chacais, Calilla e Dimna.
A obra traz provérbios conhecidos e
muitos desconhecidos, um deles é perfeito para o contexto desse artigo: O
conhecimento melhora a condição de quem quer aprender! Hoje, tal consideração é
compreendida exclusivamente como uma forma de “ascensão social”, ou seja, o
conhecimento obtido por meio de instrução formal – de preferência a
universitária, só tem sentido se “servir” economicamente e socialmente!
Mas, antigamente, e atualmente, em
países realmente onde o “saber” tem peso diferente do brasileiro, o
conhecimento era motivo de autoconhecimento e principalmente humildade. Quanto
mais estudamos temos a consciência do quanto nada sabemos! O famoso: Só sei que
nada sei, do filósofo grego Sócrates.
Durante parte dos séculos 19 e 20,
acreditou-se que a inteligência podia ser facilmente medida, determinada e
comparada através de testes como o famoso de QI. Ele começou a torna-se
irrelevante quando perceberam que nem sempre as pessoas mais inteligentes e bem
sucedidas obtinham os melhores resultados.
Psicólogos e pesquisadores notaram
alguns casos de pessoas que obtinham resultados medíocres nos testes de QI, mas
se davam bem na vida, pois eram determinadas, disciplinadas, persistentes e até
carismáticas!
A partir daí, o psicólogo Howard Gardner
criou a teoria dos Sete tipos de Inteligência:
·
Inteligência Linguística
·
Inteligência Lógica
·
Inteligência Motora
·
Inteligência Espacial
·
Inteligência Musical
·
Inteligência Interpessoal
·
Inteligência Intrapessoal
Fonte: https://www.guiadacarreira.com.br/carreira/7-tipos-de-inteligencia/
Além das citadas acima, o mundo corporativo
utiliza os quocientes QI e QE (Quociente Emocional descreve a capacidade de
reconhecer e avaliar os seus próprios sentimentos e os dos outros, assim como a
capacidade de lidar com eles).
Recentemente surgiu o quociente QA
(Quociente da Adaptabilidade não é apenas a capacidade de absorver novas
informações, mas de descobrir o que é relevante, deixar para trás noções
obsoletas, superar desafios e fazer esforço consciente para mudar. O QA envolve
características como flexibilidade, curiosidade, coragem e resiliência...).
Quando iniciei minha vida acadêmica
comecei a “me achar” um pouco, felizmente esse achismo acabou no primeiro
semestre do curso de Letras-Espanhol da Unir. O bombardeio de informações,
livros, filósofos, teses e aulas com mestres, doutores e pós-doutores fez com
que eu entendesse a máxima, do sei que nada sei!
Com o tempo veio, um MBA, uma
especialização na Espanha, depois de uma longa pausa no estudo acadêmico,
estava só nas capacitações profissionais, busco um mestrado de educação ou
comunicação. Estudando o conteúdo para prova me senti “burra” e novamente
descubro que tenho muito a aprender!
Como está escrito em alguma parte de
Calilla e Dimna: “O Saber esclarece a inteligência, assim como a luz que
ilumina as trevas”, ou “Só é de proveito o saber que se usa. O saber só se
perfaz com o fazer. O saber é a árvore; a obra, o fruto. Se não se usa o que se
sabe, não há benefício”...
Estou tentada a comprar um novo exemplar
desse livro de fábulas e presentear minha vizinha... Aí lembro que ela não é
dessas que perde tempo lendo, o negócio e trabalhar “que nem mula, sem tempo
para pensar demais e ficar deprimida”...
Tristeza quando você é obrigada a deixar
alguém nas trevas da ignorância...
Para falar do presente preciso voltar ao passado. Eu tinha uns oito anos quando assisti a uma reportagem do Globo Repórter mostrando um bairro tomad
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