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Viviane Paes

Quando o seu “saber” ofende muito!


Quando o seu “saber” ofende muito! - Gente de Opinião

O Brasil é país miscigenado, onde culturas de quase todo o mundo se misturam... Onde sotaques denunciam qual região você nasceu; onde veículos definem o status social, mesmo sendo na sua maioria financiados com altíssimos juros; onde o tamanho da residência e quantidade de banheiros é vistos como sinônimo de “riqueza”, pela classe media baixa; onde roupas de marcas – mesmo as falsificadas, induzem um vendedor de loja a definir como atenderá o cliente; onde pagar escola particular para os filhos é sinal de “boçalidade”...

O irônico é que o grau de instrução de uma pessoa por aqui é motivo de preconceito nada velado! Se você é graduado, tem alguma pós, está fazendo mestrando ou tem um doutorado ouviu em algum momento da longa jornada algo do tipo:

­- Nossa estudou tanto e ganha tão mal!

- Do que adianta você estudar e “ser” burro, não consegue ter sucesso!

- Eu ganho mais com ensino fundamental e você com canudo tá desempregado!

Essa semana, um comentário mordaz de uma vizinha da situação de uma conhecida me fez relembrar um livro fantástico que li aos 22 anos: Calilla e Dimna. A dita pessoa despejava veneno, literalmente: - “Pra que fulana estudou tanto se é uma jumenta que não consegue nem recuperar de uma depressão!”. Isso mesmo que você leu!! A associação da formação acadêmica de uma pessoa padecendo da doença do século utilizada de uma forma grosseria e de muita ignorância.

O livro citado acima é uma coletânea de contos e fábulas de caráter político e moral, que influenciaram gerações por toda Europa, Ásia e África. Parte dele vem de um manuscrito indiano, redigido em sânscrito chamado Panchatantra, onde provérbios e fábulas são narradas por dois chacais, Calilla e Dimna.

A obra traz provérbios conhecidos e muitos desconhecidos, um deles é perfeito para o contexto desse artigo: O conhecimento melhora a condição de quem quer aprender! Hoje, tal consideração é compreendida exclusivamente como uma forma de “ascensão social”, ou seja, o conhecimento obtido por meio de instrução formal – de preferência a universitária, só tem sentido se “servir” economicamente e socialmente!

Mas, antigamente, e atualmente, em países realmente onde o “saber” tem peso diferente do brasileiro, o conhecimento era motivo de autoconhecimento e principalmente humildade. Quanto mais estudamos temos a consciência do quanto nada sabemos! O famoso: Só sei que nada sei, do filósofo grego Sócrates.

Durante parte dos séculos 19 e 20, acreditou-se que a inteligência podia ser facilmente medida, determinada e comparada através de testes como o famoso de QI. Ele começou a torna-se irrelevante quando perceberam que nem sempre as pessoas mais inteligentes e bem sucedidas obtinham os melhores resultados.

Psicólogos e pesquisadores notaram alguns casos de pessoas que obtinham resultados medíocres nos testes de QI, mas se davam bem na vida, pois eram determinadas, disciplinadas, persistentes e até carismáticas!

A partir daí, o psicólogo Howard Gardner criou a teoria dos Sete tipos de Inteligência:

·       Inteligência Linguística

·       Inteligência Lógica

·       Inteligência Motora

·       Inteligência Espacial

·       Inteligência Musical

·       Inteligência Interpessoal

·       Inteligência Intrapessoal

 

Fonte: https://www.guiadacarreira.com.br/carreira/7-tipos-de-inteligencia/

Além das citadas acima, o mundo corporativo utiliza os quocientes QI e QE (Quociente Emocional descreve a capacidade de reconhecer e avaliar os seus próprios sentimentos e os dos outros, assim como a capacidade de lidar com eles).

Recentemente surgiu o quociente QA (Quociente da Adaptabilidade não é apenas a capacidade de absorver novas informações, mas de descobrir o que é relevante, deixar para trás noções obsoletas, superar desafios e fazer esforço consciente para mudar. O QA envolve características como flexibilidade, curiosidade, coragem e resiliência...).

Quando iniciei minha vida acadêmica comecei a “me achar” um pouco, felizmente esse achismo acabou no primeiro semestre do curso de Letras-Espanhol da Unir. O bombardeio de informações, livros, filósofos, teses e aulas com mestres, doutores e pós-doutores fez com que eu entendesse a máxima, do sei que nada sei!

Com o tempo veio, um MBA, uma especialização na Espanha, depois de uma longa pausa no estudo acadêmico, estava só nas capacitações profissionais, busco um mestrado de educação ou comunicação. Estudando o conteúdo para prova me senti “burra” e novamente descubro que tenho muito a aprender!

Como está escrito em alguma parte de Calilla e Dimna: “O Saber esclarece a inteligência, assim como a luz que ilumina as trevas”, ou “Só é de proveito o saber que se usa. O saber só se perfaz com o fazer. O saber é a árvore; a obra, o fruto. Se não se usa o que se sabe, não há benefício”...

Estou tentada a comprar um novo exemplar desse livro de fábulas e presentear minha vizinha... Aí lembro que ela não é dessas que perde tempo lendo, o negócio e trabalhar “que nem mula, sem tempo para pensar demais e ficar deprimida”...

Tristeza quando você é obrigada a deixar alguém nas trevas da ignorância...

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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