Domingo, 19 de janeiro de 2025 - 13h05
Para falar do presente
preciso voltar ao passado. Eu tinha uns oito anos quando assisti a uma
reportagem do Globo Repórter mostrando um bairro tomado por traficantes, em
Porto Velho, capital de Rondônia, desconhecida para mim, uma goianiense que nem
imaginava um dia vir morar aqui, trabalhar, casar e ter filhos rondonienses...
O “esconderijo”
O Bairro era o Mocambo –
cujo nome de origem africana significa esconderijo, estava completamente
dominado pelo narcotráfico. Ele é um dos mais antigos de Porto Velho, criado em 1914, implantado na zona oeste da cidade,
limita-se pelos bairros Areal, Santa Bárbara, Baixa do União e Centro, e acabou
por lhe conferir formato quadrado. “O Mocambo era considerado um local de gente
mais humilde e local de “mulheres perdidas”, dos soldados da borracha, de
viajantes, lavadeiras, diaristas da Estrada de Ferro, entre outros. O bairro
tinha muitas “pensões alegres” e por este motivo era um bairro muito
frequentado e animado”. (Os bairros de
Porto Velho – Yêdda Borzacov)
Então, quando meus pais vieram
de mudança para cá em1985, os parentes goianos e mineiros ficaram preocupados,
porque era esse o ambiente que imaginávamos encontrar ainda, apesar das
operações especiais realizadas na região, com apoio do governo federal. Essa
intervenção Federal, foi a primeira, e conseguiu restabelecer o bairro, tão
dominado pelo crime que os moradores precisavam pedir permissão para trazer
parentes e os desavisados que por ali circulassem seriam surpreendidos com
criminosos armados...Qualquer semelhança com o que vemos ainda hoje nas
comunidades do Rio de Janeiro e São Paulo, não é mera coincidência! Meu esposo,
cujo avós paternos são moradores do Mocambo lembra situações assim, quando era
adolescente ainda. Pois, na infância, ninguém do bem – com juízo - passaria
pelo meio do bairro, só pela principal, no caso, a Avenida Campos Sales.
Mas, isso não quer dizer que
eu nessa época, com 10 anos andava pelo centro tranquila, sem neuras. Toda vez
que tínhamos que ir em lojas de aviamentos, na Almirante Barroso com a Campos
Sales, passávamos meio que correndo, eu e minha mãe! As pessoas nos avisavam: “está melhor, no
entanto, o crime não acabou! Todo cuidado é pouco andando por ali”!
2ª Intervenção
federal em RO
Em dezembro de 2011, cerca de 1,2 mil homens do Exército de Rondônia, Acre e Amazonas foram
convocados para atuar na segurança nas ruas de Porto Velho e algumas cidades do
interior de Rondônia por conta da greve da Polícia Militar do estado. Todas as
pessoas presas neste tempo pelas Forças Armadas responderam de acordo com a
gravidade de seus delitos pela Justiça Militar Federal.
A Operação Rondônia, como foi batizada pelo Exército foi
deflagrada nas regiões onde se localizam os principais batalhões da Polícia
Militar. Participaram da operação, militares dos Batalhões de Infantaria de
Selva de Humaitá (AM), Rio Branco (AC) e Guajará-Mirim. Na época, o secretário
de Estado da Segurança, Marcelo Bessa explicou que a paralisação atingiu basicamente
o município de Porto Velho. O comandante da Polícia Militar de Rondônia, Cesar
de Figueiredo, declarou que o apoio do Exército seria por tempo indeterminado,
enquanto durar a greve. "Não se pode deixar que 1,6 mil policiais
militares coloquem em risco a vida da população", finalizou o comandante.
A violência invade a periferia
“A explosão populacional e o Ciclo da
Agricultura introduzem no espaço físico de Rondônia dois modelos diferenciados
e, até então, não usuais de desenvolvimento e ocupação humana. Agora, estão se
assentando e desenvolvendo núcleos populacionais sedentários, distantes da
esfera de influência madeira-mamoreana e do modo de viver porto-velhense e
guajaramirense, levados a efeitos por contingentes imigratórios procedentes do
Sul e do Sudeste do País”. Rondônia, Política e Desenvolvimento nos Ciclos
Econômicos – Terceiro Período. Francisco Matias. (Memória da Energia Elétrica
de Rondônia)
Os novos moradores de Porto Velho começam a
ocupar as regiões mais afastadas do centro, zonas Sul e Leste. Como bem disse
em um artigo de 26 de agosto de 2024, sobre as Eleições secundárias, o
jornalista Carlos Sperança em uma análise apurada de quem conhece os aspectos socioeconômicos
e principalmente políticos da região, em sua coluna semana no jornal Diário da
Amazônia e no portal de notícias “Gente de Opinião”:
Batendo cabeça: Com tudo isto,
os institutos de pesquisas estão batendo cabeça em Porto Velho para uma
aferição mais segura. Porto Velho é uma miscelânea só. Temos comunidades aqui
bem povoadas com influências oriundas de Ji-Paraná, Rolim de Moura, Guajará
Mirim, Humaitá (AM), Vilhena, Rio Branco (AC). A Zona Sul, baseada em aldeões
com mais tradições rondonienses, amazônicas (muitos paraenses) e nordestinas, a
Zona Leste infestada de migrantes caras-pálidas paranaenses, mineiros,
capixabas, gaúchos, catarinenses, mato-grossenses. Isso sem contar que a
colonização de Porto Velho conta com 79 etnias diferentes e cada uma delas puxa
a brasa para sua sardinha.
A construção e a inauguração da Penitenciária Federal, de Porto Velho,
em 16 de junho de 2009, na BR-364 sentido Rio Branco (AC), a terceira
penitenciária federal de segurança máxima do Brasil, que já recebeu presos como
Fernandinho Beira-Mar, líder do Comando Vermelho (CV) e Marcola, do Primeiro Comando
da Capital (PCC), traz o crime organizado para capital de Rondônia, tomando
conta dos bairros da periferia, com bairros mais populosos, zona Sul e Leste,
onde está localizado o condomínio popular “Orgulho do Madeira.
Nessa ocasião foram iniciadas a construção
das usinas do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira: Santo Antônio e Jirau
aumentando ainda mais o contingente populacional da cidade e o poder econômico.
A construção foi realizada em dois anos a um
custo de R$ 25
milhões. A penitenciária foi planejada de modo que 300 funcionários sejam
responsáveis por até 208 presos de alta periculosidade. São 12,7 mil m² de área
construída e os presos ocupam celas individuais, divididas em quatro alas.
Força Nacional
A
Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) foi criada pelo Decreto nº
5.289/2004, assinado pelo presidente Lula. O programa foi idealizado pelo
ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos.
A
FNSP é um programa de cooperação entre o governo federal e os estados
brasileiros. O objetivo é complementar as forças de segurança locais em
situações de crise. A FNSP é composta por: Policiais militares,
Policiais civis, Bombeiros militares, Peritos.
A
FNSP é enviada a pedido de autoridades locais, em situações
como: Catástrofes naturais, Proteção de fronteiras, Conflitos
indígenas.
No presente...
De 12 a 17 de
janeiro deste ano, os porto-velhenses vivenciaram o terror provocado pelas
facções criminosas com o assassinato do cabo da Polícia Militar de Rondônia, Fábio
Martins, no condomínio Orgulho do Madeira, supostamente a mando de lideranças
locais do Comando Vermelho de dentro da penitenciária Urso Branco.
Ônibus escolares,
urbanos e de turismo, de uma empresa privada foram incendiados, tornando Porto
Velho uma capital sem transporte coletivo por quatro dias! Uma situação em que o recém empossado
prefeito, Léo Moraes conseguiu superar com eficiência e gestão compartilhada ao
pedir o auxílio do comando do 5º BEC para guardar e garantir a segurança dos
demais coletivos que atendem os estudantes do município.
A chegada de mais de
60 policiais da Força Nacional trouxe alívio para população e descanso para o
efetivo da segurança pública: agentes da polícia civil, policiais militares,
rodoviários e federais que tiveram que unir forças para garantir que o crime
organizado não ocupasse outros bairros de Porto Velho.
Eu sou daquelas que
confia no trabalho da segurança pública, mas não fecho os olhos aos excessos
que possam ser cometidos em abordagens onde a escolha é, a vida do criminoso ou
do agente de segurança! No entanto, não ouso criticar em redes sociais o trabalho
desses servidores públicos que colocam suas vidas em riscos para que eu e você
possamos ao menos ficar com nossas famílias em momentos críticos e temerosos
como este, que finalmente está acabando!
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