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Viviane Paes

Você piscou e PVH virou RJ?!


Você piscou e PVH virou RJ?! - Gente de Opinião

Para falar do presente preciso voltar ao passado. Eu tinha uns oito anos quando assisti a uma reportagem do Globo Repórter mostrando um bairro tomado por traficantes, em Porto Velho, capital de Rondônia, desconhecida para mim, uma goianiense que nem imaginava um dia vir morar aqui, trabalhar, casar e ter filhos rondonienses...

O “esconderijo”

O Bairro era o Mocambo – cujo nome de origem africana significa esconderijo, estava completamente dominado pelo narcotráfico. Ele é um dos mais antigos de Porto Velho, criado em 1914, implantado na zona oeste da cidade, limita-se pelos bairros Areal, Santa Bárbara, Baixa do União e Centro, e acabou por lhe conferir formato quadrado. “O Mocambo era considerado um local de gente mais humilde e local de “mulheres perdidas”, dos soldados da borracha, de viajantes, lavadeiras, diaristas da Estrada de Ferro, entre outros. O bairro tinha muitas “pensões alegres” e por este motivo era um bairro muito frequentado e animado”. (Os bairros de Porto Velho – Yêdda Borzacov)

Então, quando meus pais vieram de mudança para cá em1985, os parentes goianos e mineiros ficaram preocupados, porque era esse o ambiente que imaginávamos encontrar ainda, apesar das operações especiais realizadas na região, com apoio do governo federal. Essa intervenção Federal, foi a primeira, e conseguiu restabelecer o bairro, tão dominado pelo crime que os moradores precisavam pedir permissão para trazer parentes e os desavisados que por ali circulassem seriam surpreendidos com criminosos armados...Qualquer semelhança com o que vemos ainda hoje nas comunidades do Rio de Janeiro e São Paulo, não é mera coincidência! Meu esposo, cujo avós paternos são moradores do Mocambo lembra situações assim, quando era adolescente ainda. Pois, na infância, ninguém do bem – com juízo - passaria pelo meio do bairro, só pela principal, no caso, a Avenida Campos Sales.

Mas, isso não quer dizer que eu nessa época, com 10 anos andava pelo centro tranquila, sem neuras. Toda vez que tínhamos que ir em lojas de aviamentos, na Almirante Barroso com a Campos Sales, passávamos meio que correndo, eu e minha mãe!  As pessoas nos avisavam: “está melhor, no entanto, o crime não acabou! Todo cuidado é pouco andando por ali”!

2ª Intervenção federal em RO

Em dezembro de 2011, cerca de 1,2 mil homens do Exército de Rondônia, Acre e Amazonas foram convocados para atuar na segurança nas ruas de Porto Velho e algumas cidades do interior de Rondônia por conta da greve da Polícia Militar do estado. Todas as pessoas presas neste tempo pelas Forças Armadas responderam de acordo com a gravidade de seus delitos pela Justiça Militar Federal.

Operação Rondônia, como foi batizada pelo Exército foi deflagrada nas regiões onde se localizam os principais batalhões da Polícia Militar. Participaram da operação, militares dos Batalhões de Infantaria de Selva de Humaitá (AM), Rio Branco (AC) e Guajará-Mirim. Na época, o secretário de Estado da Segurança, Marcelo Bessa explicou que a paralisação atingiu basicamente o município de Porto Velho. O comandante da Polícia Militar de Rondônia, Cesar de Figueiredo, declarou que o apoio do Exército seria por tempo indeterminado, enquanto durar a greve. "Não se pode deixar que 1,6 mil policiais militares coloquem em risco a vida da população", finalizou o comandante.

 

A violência invade a periferia

 

“A explosão populacional e o Ciclo da Agricultura introduzem no espaço físico de Rondônia dois modelos diferenciados e, até então, não usuais de desenvolvimento e ocupação humana. Agora, estão se assentando e desenvolvendo núcleos populacionais sedentários, distantes da esfera de influência madeira-mamoreana e do modo de viver porto-velhense e guajaramirense, levados a efeitos por contingentes imigratórios procedentes do Sul e do Sudeste do País”. Rondônia, Política e Desenvolvimento nos Ciclos Econômicos – Terceiro Período. Francisco Matias. (Memória da Energia Elétrica de Rondônia)

Os novos moradores de Porto Velho começam a ocupar as regiões mais afastadas do centro, zonas Sul e Leste. Como bem disse em um artigo de 26 de agosto de 2024, sobre as Eleições secundárias, o jornalista Carlos Sperança em uma análise apurada de quem conhece os aspectos socioeconômicos e principalmente políticos da região, em sua coluna semana no jornal Diário da Amazônia e no portal de notícias “Gente de Opinião”:

 

Batendo cabeça: Com tudo isto, os institutos de pesquisas estão batendo cabeça em Porto Velho para uma aferição mais segura. Porto Velho é uma miscelânea só. Temos comunidades aqui bem povoadas com influências oriundas de Ji-Paraná, Rolim de Moura, Guajará Mirim, Humaitá (AM), Vilhena, Rio Branco (AC). A Zona Sul, baseada em aldeões com mais tradições rondonienses, amazônicas (muitos paraenses) e nordestinas, a Zona Leste infestada de migrantes caras-pálidas paranaenses, mineiros, capixabas, gaúchos, catarinenses, mato-grossenses. Isso sem contar que a colonização de Porto Velho conta com 79 etnias diferentes e cada uma delas puxa a brasa para sua sardinha.

A construção e a inauguração da Penitenciária Federal, de Porto Velho, em 16 de junho de 2009, na BR-364 sentido Rio Branco (AC), a terceira penitenciária federal de segurança máxima do Brasil, que já recebeu presos como Fernandinho Beira-Mar, líder do Comando Vermelho (CV) e Marcola, do Primeiro Comando da Capital (PCC), traz o crime organizado para capital de Rondônia, tomando conta dos bairros da periferia, com bairros mais populosos, zona Sul e Leste, onde está localizado o condomínio popular “Orgulho do Madeira.

Nessa ocasião foram iniciadas a construção das usinas do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira: Santo Antônio e Jirau aumentando ainda mais o contingente populacional da cidade e o poder econômico.

A construção foi realizada em dois anos a um custo de R$ 25 milhões. A penitenciária foi planejada de modo que 300 funcionários sejam responsáveis por até 208 presos de alta periculosidade. São 12,7 mil m² de área construída e os presos ocupam celas individuais, divididas em quatro alas.

Força Nacional

A Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) foi criada pelo Decreto nº 5.289/2004, assinado pelo presidente Lula. O programa foi idealizado pelo ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. 

A FNSP é um programa de cooperação entre o governo federal e os estados brasileiros. O objetivo é complementar as forças de segurança locais em situações de crise. A FNSP é composta por: Policiais militares, Policiais civis, Bombeiros militares, Peritos. 

A FNSP é enviada a pedido de autoridades locais, em situações como: Catástrofes naturais, Proteção de fronteiras, Conflitos indígenas. 

No presente...

De 12 a 17 de janeiro deste ano, os porto-velhenses vivenciaram o terror provocado pelas facções criminosas com o assassinato do cabo da Polícia Militar de Rondônia, Fábio Martins, no condomínio Orgulho do Madeira, supostamente a mando de lideranças locais do Comando Vermelho de dentro da penitenciária Urso Branco.

Ônibus escolares, urbanos e de turismo, de uma empresa privada foram incendiados, tornando Porto Velho uma capital sem transporte coletivo por quatro dias!  Uma situação em que o recém empossado prefeito, Léo Moraes conseguiu superar com eficiência e gestão compartilhada ao pedir o auxílio do comando do 5º BEC para guardar e garantir a segurança dos demais coletivos que atendem os estudantes do município.

A chegada de mais de 60 policiais da Força Nacional trouxe alívio para população e descanso para o efetivo da segurança pública: agentes da polícia civil, policiais militares, rodoviários e federais que tiveram que unir forças para garantir que o crime organizado não ocupasse outros bairros de Porto Velho.

Eu sou daquelas que confia no trabalho da segurança pública, mas não fecho os olhos aos excessos que possam ser cometidos em abordagens onde a escolha é, a vida do criminoso ou do agente de segurança! No entanto, não ouso criticar em redes sociais o trabalho desses servidores públicos que colocam suas vidas em riscos para que eu e você possamos ao menos ficar com nossas famílias em momentos críticos e temerosos como este, que finalmente está acabando!  

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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