Sábado, 29 de setembro de 2012 - 13h04
Por: Beto Ramos
A primeira referência de violão que tenho, é a lembrança do meu tio Nonato Ferreira.
Caboclo que partiu de Porto Velho para estudar em Belém, após muitos desenganos em terras Karipunas.
Meu tio usou cabelo Black Power, o qual penteava com um pente de três pontas meio estranho.
Usava um medalhão estilo Roberto Carlos, com calça boca de sino e sapato cavalo de aço.
Certa vez, contou-me uma de suas aventuras, com o Zezinho Arcanjo, na qual foram fazer uma serenata lá pras bandas do Areal ou Baixa da União.
- Zé, foi um aperto danado!
Meu tio tocava razoavelmente bem o violão.
Tenho lembranças de sua voz cantando Paulo Diniz, Fernando Mendes e tantos outros.
Tudo era festa e tudo era lindo.
Disse-me que comprara o violão em doze prestações para impressionar o broto.
Fez até ensaio, com o olhar desconfiado de minha avó Raimunda.
E lá foram eles para a missão de cantores da multidão.
A turma do Alumínio já havia dado um susto nele.
Bem, ele levou na brincadeira, pois frequentava a Baixa da União, Areal, Mocambo e de vez em quando gostava da fumaça do trem.
Na ida, disse-me ele, foi uma festa.
A turma até elogiou o violão, o estilo deles.
- Somos os donos do pedaço, pensaram eles.
Com o bojo perfeito junto ao peito, fizeram a cantoria, sendo observados de longe pela turma, que já fazia gestos, tipo, vamos te pegar na hora da saída.
- E agora?
- Vamos disfarçar e azular na carreira!
Mas, a turma já havia fechado a rua.
- Vamos encarar, somos homens ou sacos de batatas?
Homem ou saco de batata, o Nonato me contou que o Zezinho Arcanjo saiu em desabalada carreira, levando muitos safanões, chutes no traseiro e tabefes no ouvidor de música.
E ali estava o Nonato, vou ou não vou.
Nesta hora o violão já era arma de defesa.
- Zé, os caretas se aproximaram de mim, e a primeira bicuda foi no violão, comprado em doze prestações.
O pé do cara ficou dentro do violão.
- Tu não és daqui e vem dar uma de cantor!
- Vais levar uma lição!
O Nonato percebeu que a garota observava a confusão da porta de sua casa, feita de tábuas com muitas mata juntas nas paredes.
- Então teve um lampejo de valentia.
- No meu violão não violão!
- Pega! Segura ele!
E lá foi o Nonato em desembalada carreira, também levando safanões, rasteiras, mas, sem soltar o violão arrebentado pelo chute do enciumado do pedaço.
O Nonato resolveu se esconder pertinho de um poste, com muito mato ao redor.
Ali ficou quietinho por algum tempo, e ouviu quando a turma passou falando que ele ainda estava por ali.
- Zé, um formigueiro medonho com formigas ferrando minhas canelas e subindo pra minhas partes baixas.
- Mas, tinha que suportar, senão, boxe!
As formigas ferrando e ele falando bem baixinho:
- Poxa, meu violão comprado em doze prestações, e eu ainda não paguei nenhuma.
- Nunca mais vou fazer serenata pra ninguém!
Na época meu tio partiu para Belém, tornou-se mecânico de helicópteros, e por muitos anos fez missões para plataformas de petróleo pelo Brasil a fora.
Hoje, não está mais entre nós, já partiu pro andar de cima, deixando muitas saudades.
Bem, lembrei-me desta história, pois observava certo violão negro, companheiro de muitas aventuras e desventuras do poeta da cidade Ernesto Melo.
O poeta me deu a guarda permanente dele, numa quarta feira à noite, no Bar Jangadeiro.
De suas cordas nasceram, A luz do Samba, Exaltação para Santa Clara...
Vejo este violão com muitas rimas, melodias, ritmos e harmonias.
Sempre que passo próximo a ele parece-me que ouço alguém dizer, eu estou aqui, esperando por você, para cantarmos Porto Velho.
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