Sábado, 18 de junho de 2011 - 16h21
Por: Beto Ramos
Batente e girau.
Varal e tramela.
Fogareiro e petisqueira.
Cama de campanha.
Mosquiteiro e farinheira de madeira.
Pote de barro e lamparina.
Fotografia na parede da sala.
Hoje, fechei os olhos, enconcontrei uma casa antiga.
Uma casa velha cheia de mata junta e feita com assoalho.
Era pintada com as cores do tempo.
A porta da sala era dividida em duas partes.
No canto da sala havia um oratório cheio de santos para toda ocasião.
Um rádio Transglobe B-481/3 Philco trazia alguma notícia.
No quintal latia bem alto o Veludo, um cachorro negro, cotó que meu pai conseguiu quando serviu na 17ª Brigada de Infantaria.
E Veludo tinha um pelo que brilhava, sem a necessidade de ir a veterinário ou o uso de produtos comprados em Pet Shop.
A casa possuía uma varanda, onde existiam muitas plantas de minha mãe.
E ela conversava com as plantinhas, e aguava todos os dias.
Pela manhã, bem cedinho, ouvíamos o Bem Vindo gritando que o pão estava bem quentinho.
Fiquei sabendo que o Bem Vindo, de padeiro, passou a ser doutor.
A rua era cortada por uma vala sem fim.
Para sair de casa, precisávamos cruzar uma ponte que era o nosso passaporte para o mundo além da cerca do nosso quintal.
Era uma cerca de estacas onde Veludo sempre tentava descobrir uma brechinha para desaparecer no mundo.
Quando fugíamos para tomar um banho no Oteca ou no Alberico (ou Oberico como disse o meu amigo Karipuna), era uma aventura dos filmes apresentados no Cine Teatro Resky.
Mas, quando retornávamos para casa era nossa maior alegria.
Quem morou em casas da nossa cidade antiga, com certeza se fechar os olhos, vai sentir o cheiro peculiar que somente aquelas casas possuíam.
E ficávamos acocados (cócoras) no batente ouvindo os sapos coaxarem dentro da vala.
Dentro da rede, muitas vezes, não parávamos de sorrir.
Quanto mais pediam silêncio, não dava para controlar o riso.
Antes de dormir era preciso rezar.
Meu avô, caboclo ribeirinho, possuía certa dificuldade para falar alma.
Naquela parte da reza que diz “levai as almas para o céu”, ele insistia em dizer “levai as armas para o céu”.
Meu tio Nonato, que até seu falecimento foi meu parceiro de noitadas incríveis, sorria sem parar perguntando para meu avô se haveria guerra no céu.
Claro que logo ganhava um cocorote ou cascudo.
Quando minha avó recitava o poema, Oito Anos de Casemiro de Abreu, o meu encanto já fazia parte do Diz a lenda.
Ela dizia com gestos teatrais:
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Minha avó mal sabia escrever o seu nome.
Mas, sabia inúmeros poemas e versos decorados.
Você também poderia encontrar a sua casa.
Sempre existirá uma história ou estória para contar.
Diz a lenda.
Fonte: Beto Ramos - betoramospvh@hotmail.com
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