Domingo, 16 de setembro de 2012 - 06h02
Hoje, senti saudades da casa de minha avó.
Senti o desejo de chegar e abrir aquele portão barulhento, rangendo junto com o latido do cachorro Veludo.
Senti saudade de chegar à janela de madeira, bem larga, e pedir a benção de minha avó.
Na casa antiga, construída por meu avô, existia de tudo.
Lembro-me do pequeno fogão sempre cozinhando alguma coisa.
No centro da cozinha, uma mesa quadrada com uma farinheira de madeira, uma fruteira sempre com muitas bananas prata.
Dentro da petisqueira, a garrafa de café bem forte.
Na parede um antigo quadro do Sagrado Coração de Jesus.
Perto da janela sempre respondendo com bom humor, ficava minha velhinha numa cadeira de balanço, pra lá e pra cá.
Senti saudades do cheiro da casa de minha avó.
Ela sempre usando os vestidos largos e coloridos, com anágua.
Amarradas na alça do califon, as chaves que abriam os baús da casa.
Somente ela abria tudo.
Sempre no ar um cheiro de Vick Vaporub .
E ali ficava o paraíso que hoje me faz tanta falta.
Quando minha avó substituiu o pote pelo filtro, o sabor da água mudou.
Hoje, guardo na minha casa o filtro que era da casa da minha avó.
Não me desfaço dele por nada.
Muitas vezes minha avó ficava lendo algum livro ou revista por muito tempo.
Detalhe: A revista ou o livro de cabeça para baixo.
Mas, ela já vinha com a resposta pronta.
- Quem sabe ler, lê de qualquer jeito!
Nos jogos do Brasil, quando apareceu televisão por estas bandas, minha avó torcia muito.
Acendia vela, rezava e soltava alguns palavrões ao mesmo tempo.
O engraçado é que após muito tempo do jogo começar ela perguntava:
- Pra que lado o Brasil está atacando?
Hoje senti saudades do cheiro da cama da minha avó.
Dos perfumes usados no domingo quando éramos obrigados a frequentar a missa.
O tempo passou tão rápido.
Estranho é ter que fechar os olhos para lembrar coisas tão simples e que fazem tanta falta.
As ruas continuam iguais, e não existe mais a casa rodeada de plantas e pés de frutas de todo o tipo.
Hoje, vejo minha neta entrar na minha casa sorrindo.
Será que a minha casa possui o cheiro da casa de minha avó?
Será que minha netinha vai guardar lembranças do que sou?
Como diz o Toquinho em uma de suas canções, “Só não me esqueça num canto qualquer”.
Aqui na minha casa pode faltar tudo, menos café.
Café forte durante o dia inteiro.
Talvez seja uma forma de trazer para dentro da minha casa o cheiro da casa da vovó Raimunda.
Será que sou um bom avô?
Diz a lenda
Fonte: Beto Ramos
DIZ A LENDA DUZENTOS E CINQUENTA EM QUATRO I
Os pesadelos não podem ofuscar nossos sonhos. Diante da inconsequência de quem resume a vida dos outros na sua prisão de lamentos, o que nos resta a
DIZ A LENDA.O POETA, A POESIA E O MEDO.
Por: Beto Ramos Quando das viagens pelas barrancas do Madeira com o Poeta Mado, presenciamos e convivemos com muitos causos de vivos e visagens. Car
Por: Beto Ramos Acordamos cedo. Lavamos o rosto no giral ainda iluminado pela luz da lamparina. Precisávamos passar na fábrica de telha próxima a Ca
Por: Beto Ramos Eraste, hoje fomos elogiados calorosamente por um asinino. Interpelado e elegantemente chamado de beradeiro recalcado. Pupunhamente